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sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Os carapaus

senhora do primeiro direito deu um arranjo no cabelo, envergou o robe amarelo de trazer por casa, encostou-se ao corrimão da varanda pondo o cotovelo no queixo, ajeitou os óculos no nariz adunco, e continuou a observação do dia anterior à mesma hora das dez da manhã. E vendo o marido na rua : - Ó Eleutério, encontrastes os carapaus? - Siiim,siiim - uns sins displicentes, carregados de resignação. - Atão porque não trazes já p'ra casa o pêxe ? - Vou jáaaa, mulher - com um encolher de ombros, levantando as sobrancelhas e olhando para o amigo com quem continuou a conversar. Mas ela não desarmava : - Olha lá, Eleutério traz-me também duas caxas de fósforos, tás a ouvir? - Siiim, Odete - a resposta arrastando o peso dos 32 anos de casamento. E o amigo Salvador: - Olha eu também tenho de passar pela venda, vou contigo. E Odete levantando mais a voz : - Ó homem na te vás embora traz-me primero os carapaus ! - Mas atão queres os fósforos ou queres os besugues ? - Cais besugues ? - as palavras dela caindo como um raio, da varanda. - Ná havia carapaus, só besugues, Odete - e os besugues e os carapaus saindo da garganta do Elutério e subindo a custo até à varanda. - Tá bem, vai lá buscar os fósforos. - Ó Salvador tás a ver comela é , ora quer iste, ora quer aquilo ! - Quéque tás prá'i dezendo, vê lá se t'avias, anda pr'a cima ! - Já agora, Odete, vou comprar os fósforos... E o Eleutério começou a descer a rua com o amigo. Mas a Odete não se deu por vencida : - Ó Salvador, dexa ai os besugues na porta q'eu vou-me lá abaxo . Mas os amigos já se afastavam depressa. E a Odete, chegando à porta: - Naquerem lá ver, raisparta o homem, nem carapaus, nem fósforos, nem besugues, más ca grande sina a minha !

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