Hoje visitei um amigo, daqueles de antigamente. Que está a ir-se embora. Sem o saber, taivez sem dar por isso, trazendo à mulher da sua vida outra vida diferente. Obrigada a ampará-lo, obrigada a suportar a degradação do amigo de sempre, pai dos seus filhos, companheiro de cincoenta anos de cama, casa, mesa, alegrias e infortúnios, das lágrimas de todas as perdas. Ele, com raros e cada vez mais raros e mais pequenos momentos de lucidez. Momentos em que se enraivece com a escuridão que vê chegar cada dia mais forte e em que sente dia a dia mais intensa a dificuldade do raciocínio, as falhas da memória e mais o descontrole da mente e a vergonha das atitudes.
E hoje, mais uma vez, vi o progresso da decadência que aquela doença, não sei se se pode chamar doença, como não se chama doença ao apagar duma vela que se apaga lentamente ou à decrepitude duma árvore que, por um motivo desconhecido ou simplesmente por velhice, vai perdendo lentamente as folhas, seja inverno, seja verão.
Nâo foi tristeza o que senti, confesso-o. Acreditem ou não, senti que uma luz vai tomando conta do espírito daquele tão meu amigo. O seu corpo está a acabar. Só sinto é preocupação. Preocupação que o seu espírito não tenha tido tempo suficiente para ir para onde tem que ir, para entrar naquela luz. Olhando bem para os seus olhos, pareceu-me que me queria transmitir o que já não podia traduzir em palavras.
Poder-vos-á parecer que estou sendo cretino, mas é o que sinto e aqui me confesso, também para isto servem as minhas mensagens.
Acreditem,se quiserem.
1 comentário:
Força meu querido pai. É a vida... mas não é a tua!!
Um beijo cheio, cheio de carinho da filha caçula
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