- Pois é, ao fim de alguns anos de vida, se nos vemos com uma barriga bem proeminente, tentamos seguir as recomendações do médico que nos faz a revisão anual.Tem mais doze ou catorze quilos do que deveria ter, diz-me implacável,definitivo,ameaçador.Corte nas batatas,no pão,evite as gorduras,coma mais fibras e peixe,esqueça os doces e os aperitivos, continua ele sem se importar em saber a minha opinião ou os meus dramas gastronómicos. O problema é que ele nunca se dedica a medir o buraco da minha barriga quando me encontro em jejum, com fome! E também desconhece os cantos da minha casa. Mal dou um passo encontro-me com uma caixa de bombons que sobraram das festas. Se entro na copa para beber água - tem de beber pelo menos um litro e meio de água por dia, recomenda-me ele,terminante - então, lá na copa estão as bananas e o queijo tentadores e o frigorífico com uma data de fiambres, chouriços, e outros acepipes e iguarias que me provocam uma salivação intensa reforçada pelo vácuo criado pela buraco no estômago e pelo velho argumento de que uma vez não são vezes ou não é esta dentada que me faz criar mais barriga.Pense que leva nas mãos dois garrafões e meio de água e veja a diferença se não leva a água - discursa-me ele sem contemplações. Vou passar a não subir as escadas com os garrafões e meio que tenho a mais na barriga..Oh doutor, eu já tentei muitas vezes entrar nessa dieta, não percebo, será que terei de passar fome, fazer da minha casa um campo de concentração ? O problema é que a minha esposa ainda vive comigo,ela não desiste e ainda bem. Ela não precisa nem quer fazer dieta. O problema também é que constato que há um mistério insondável : sempre que faço dieta, passados alguns dias já tenho mais um quilo, ninguém me convence do contrário, por certo com medo de me ofender.Os argumentos do senhor apetite, como os do Senhor, são imprescritíveis e os que os contrariam, inexequíveis, a vontade não os aceita sem demonstrar o contrário.
Será que tenho a balança avariada ?
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