Quando eu tinha sete anos, derramou-se o açucar em ponto que estava numa panela. Ainda tenho, muito ténues, as cicatrizes, nas duas pernas. Nunca pensei que fosse o azar, maldição, praga que me rogassem. Não. Sempre pensei que a culpa foi da minha inexperiência, jamais sequer pensei em atribuir as culpas a qualquer das pessoas que assistiram ou não assistiram, a esse episódio da minha vida.
Durante a vida tenho reparado na tendência de muita gente para culpar outra pessoa do mal que lhe acontece, em atribuir à pouca sorte algum infortúnio, perdoar e esquecer a culpa própria dum sucesso infeliz que lhe aconteceu, atenuar o defeito que manifestou e que lhe trouxe consequências desagradáveis, esquecer os antecedentes em que se envolveu e que resultaram mal. Os culpados são sempre os outros, os defeitos são sempre dos outros, os problemas vêm sempre dos outros. E o que observo sempre é que tais indivíduos revelam, nas suas atitudes perante os outros, na sua reacção diante da adversidade, na decisão que tomam ou nas palavras que proferem, revelam um egoísmo indiferente, constante e frio .
Mas não me perturbo, penso sempre que a natureza humana até conduz por vezes, as pessoas mais bondosas a actos menos dignos, sempre penso que o que conservamos de animal inexperiente resulta por vezes inesperadamente em actos irreflectidos, por defeitos da nossa formação. É o que comentamos quase sempre dizendo "perdeu a cabeça". Porém, o que importa é a atitude que enverga a seguir a esse momento de insensatez.
Quando matamos uma mosca pensamos que ela estava ali talvez por nossa culpa? Que uma mosca incómoda poderá ali estar a voar com alguma utilidade ? (*) Que tudo o que existe na Terra tem o mesmo Criador ?
* - Descobriu-se que o esvoaçar duma mosca, em zig-zag, representa o movimento da mosca alimentando-se da poeira. E que só aparecem moscas quando nas proximidades existem condições para o seu nascimento.
Sem comentários:
Enviar um comentário