Mas enfim, o nundo que temos concede-nos mutas outras dependências, tantas que preencheriam um calhamaço mais volumoso que um dicionário, daqueles bem pesados, por melhor e mais leve papel que tenham nas suas folhas, por ligeiras que sejam as capas. E, não tenhamos dúvida, quem ama as letras durante a vida desde a primeira escola até à idade de sermos obrigatoriamente pacientes, tem de ser dependente dos dicionários. Que apesar da dependência que dele temos, também nos dá frequentes alegrias pela descoberta de palavras que desconhecíamos, pelo encontro da correcção que desejamos no que escrevemos e no que dizemos .
Falei das nossas dependências, dos alimentos, dos outros com quem vivemos, etc.. Mas o que falta referir são as nossas independências, da vontade, do uso indevido da liberdade que temos, dos cantos de sereias.
A da vontade exprime.se, revela-se pela nossa personalidade. "Dos fracos não reza a história" diz-se com frequência, mas não é bem verdade, lembram-se de Camões, nos Lusíadas, "fracos reis fazem fracas fortes gentes" . E reis houve em Portugal e lá fora, que bem fracos foram.
Do uso indevido da liberdade que temos prejudicando o próximo, seja racional seja irracional. Usando e abusando do despotismo sobre quem dominamos. Conspurcando e alterando o ambiente na mira de riquezas.
E dos cantos de sereias dos que dependendo de nós pelo voto, nos cantam ladainhas entorpecentes da nossa razão e que procuram a nossa colaboração com promessas enternecedoras, que nunca realizam.
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