Após vinte e um dias de viagem o "Uige" aportou a Mossâmedes numa manhã de Maio de 1953. Levantamos a mala de porão e os caixotes onde levamos alguns presentes do nosso casamento,o capacete colonial, a espingarda vinte e um longo, um faqueiro e serviço Vista Alegre, copos embrulhados em muitos jornais, bujigangas diversas. Um taxi levou-nos á estação de caminho de ferro, comprámos os bilhetes para Sá da Bandeira(hoje Lubango), deixamos os nossos bens no armazem e caminhámos pela cidade. Um desconhecido, homem dos seus trinta anos,falou-nos na rua principal, tinha-nos visto sair do "Uige", no porto, perguntou-nos donde éramos, em Portugal.Quando eu lhe disse que vinha de Portimão, alegrou-se: "eu sou de Lagôa"-disse, e quando eu lhe referi que tinha família em Lagôa, os Ramos, "conheço muito bem essa família", conversa puxa conversa, convidou-nos para uma caçada à noite, no deserto de Mossâmedes. Aceitámos, claro. "Mas, senhor Espinha temos de estar na estação às seis da manhã!" e ele, entusiasmendo-nos,"não há problema, dormirão tres ou quatro horas, não perdem o comboio, às cinco passo pelo hotel e acordá-los-ei".
Foi o nosso primeiro contacto em Angola e a primeira revelação do caracter amistoso, solidário e colaborante das gentes que viviam naquela zona de África.
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