Nunca passo duas vezes pelo mesmo pensamento
Há sempre qualquer pequena diferença
A mesma que existe entre duas pedras da calçada
Ou entre estas duas brancas e polidas pelo mar
Que vieram parar aqui à minha frente, imperturbáveis.
Encontrei-as juntas passeando pela praia,
As ondas vinham morrer em cima delas
Rolando-as a polindo-as um pouco mais
Batiam uma contra a outra e cantavam
Uma canção que se unia à canção do mar
Apanhei-as num intervalo sem ondas
Trouxe-as no bolso direito das calças
Parece-me que ficaram quentes e incomodadas
Pelo cheiro do dinheiro que saía das moedas
Tão diferente do cheiro do mar e da maresia.
Mas quando repararam onde as pousei
Num sítio que escolhi, não em qualquer lado,
Ficaram quietas e suspiraram de brilho e de alívio
Por eu não as ter metido e condenado
Por muitos anos, p'ra dentro dum betão armado.
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