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quinta-feira, 30 de abril de 2015

Seríamos, seremos?

         Respondendo a uma mensagem da nossa filha Maria Alexandra.  
         Ontem, 29/4/2015, em Lagos, um advogado, o doutor Centeno, que nos resolveu um caso bicudo, indicou-nos um edifício em reparações ao lado do seu escritório referindo que ali será o museu da escravatura. E comentei que a escravatura, existente sobre parte da humanidade  desde a pré-história, ainda hoje subsiste. E acrescentei que o dinheiro, hoje um dos maiores males da humanidade, também um dia terá o seu museu evocativo.
            Todos nós na Terra, com raras excepções . de alguns santos, de alguns ascetas, de alguns desprendidos de todas as ilusões, todos nós a partir de certa idade começamos a depender do dinheiro, começamos a nos subjugar ao dinheiro, a usar parte do nosso tempo de vida a pensar no dinheiro. Lembras-te da primeira vez que usaste o dinheiro ? Terias cinco, seis ou sete anos, querias aquela guloseima, aquele balão, aquela boneca que te olhava na montra por onde passavas a caminho da escola.. Mas em casa tinhas tudo o que precisavas para viver, não davas por isso, as coisas aconteciam assim, sem te aperceberes,  pensavas que teria de ser sempre assim, nem te passava pela cabeça que fosse doutra forma. O teu mundo limitava-se aos teus desejos, o teu gosto pela vida enquadrava-se no que tinhas á tua disposição em poucos metros à tua volta, a curiosidade orientava, definia as tuas ambições e, até uma certa idade era sempre satisfeita. E quando não o era, sempre e sem dor, olhavas para outro lado se ainda não aprenderas a chantagem dos gritos ou do choro.
              E agora, dentro da vida que Quem me criou, me permite ainda viver, agora tenho saudades dessa inocência dos meus cinco, seis ou sete anos, que me permitia não pensar em coisas esquisitas e por mim então ignoradas  como a escravatura e o dinheiro.
              Foi a inteligência, a esperteza, a argúcia do homem( e da mulher, com reticências) que criaram os mercados de trocas, as tabuinhas, o dinheiro, os bancos.  Criações baseadas no interesse, na inveja, na ambição de poder, raro em necessidades vitais. Nenhuma outra espécie animal ou vegetal nasce, orienta e faz depender a sua vida desse sistema. Todas as outras espécies aproveitam para viver  e vivem dentro e do ambiente natural onde nasceu e abanam o rabo de prazer usufruindo apenas do que a natureza lhes concede. Tal como nós até aos cinco, seis ou sete anos, a nossa família fazia parte da natureza em que nascêramos e era tão natural o que nos dava, como para um elefante é natural a folhagem das árvores à sua volta, de que se alimenta. E, como todos os outros animais chamados de irracionais, só se defende ou ataca o que perturba, ofende ou altera a natureza à sua volta. E, em vez de abanar o rabo, a nossa espécie aprendeu a sorrir e a sorrir sempre quem para ela sorri - ou a quem para ela abana o rabo..
        Tudo isto, pouco e mal comentando o que escreveste, para terminar com as interrogações:
               - Seríamos menos felizes se apenas tivéssemos a Natureza para vivermos?
               - Seremos mais felizes se acabarem as escravaturas, entre elas a do dinheiro?   

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