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sexta-feira, 4 de abril de 2014

"As cinco leis da estupidez" de Carlo Copolla"


A estupidez é uma (in)qualidade em ascensão. É verdade que me preocupo mais com a minha mas não deixo de observar a dos outros. Sobretudo quando a estupidez é a chave do sucesso de alguns. Já a estupidez quando molda importantes decisões tomadas por pessoas importantes, é assustadora. Geralmente, culpa-se a perversidade intencional, a malícia astuta, a megalomania, e outros defeitos morais pelas más decisões, claro que tudo isso conta, mas qualquer estudo cuidadoso da história, ou dos fatos, leva à conclusão invariável de que a maior fonte de terríveis erros é puramente a estupidez. Quando ela combina com outros fatores (como acontece amiúde) os resultados podem ser devastadores. Um dos muitos exemplos de estupidez é o uso da intriga e do poder de manipulação no que se chama de “comportamento maquiavélico”. O que parece significar que quem o diz não chegou a ler os livros de Maquiavel, porque, seguramente, não é isso o que o velho Niccolò quis dar a entender. Que estupidez!
Outra fato que me surpreende (ou não) é o escasso material dedicado ao estudo de um tema tão importante. Com universidades a ter departamentos para analisar as complexidades matemáticas, os movimentos das formigas do Amazonas, a historia medieval da ilha de Perima, é uma estupidez que não haja uma Fundação ou Conselho Consultivo que apoie os estudos de Estupidologia. Há pouquíssimos livros sobre o tema. Li um, em adolescente, e do qual - por estupidez! - nunca me esqueci: Uma Breve Introdução à História da Estupidez Humana de Walter B. Pitkin, da Universidade de Columbia, publicado em 1934. Porque é que o autor chama de “uma breve introdução” a um livro de 300 páginas? É uma estupidez! No fim do livro, diz: Epílogo: agora estamos prontos para começar a estudar a Historia da Estupidez. E nada se segue. O Professor Pitkin foi um homem sensato. Sabia que o tempo todo desta vida era pouco tempo para cobrir, um fragmento que fosse, de um tema tão vasto. Por isso publicou a Introdução, e, pronto, foi tudo. Pitkin estava consciente da carência de trabalhos sobre o assunto. E, embora tivesse à sua disposição uma equipa de investigadores que realizou pesquisas nos arquivos da Biblioteca Central de Nova York, estes ... nada encontraram. O que demonstra que eram estúpidos! Segundo Pitkin, havia apenas dois livros sobre a matéria: Aus der Geschite der menschlichen Dummheit de Max Kemmerich, e Über Dummheit de Leopold Loewenfeld. Infelizmente não falo alemão, apesar de “Dummheit ” me parecer claro; mas creio que Kemmerich e Loewenfeld não devem ter tido falta de material para redigir esses estudos, a julgar pelo que aconteceu na Alemanha em 1933 e nos anos seguintes. Na opinião de Pitkin, 4 de cada 5 pessoas tem um quociente de estupidez suficientemente grande para serem “estúpidas”. Isso equivaleria a 400 milhões de pessoas, à época que ele escreveu o livro; agora são mais de 4 bilhões. Esse número por si já é uma estupidez!
Um dos problemas da Estupidez é que ninguém tem uma definição realmente boa. De fato, os génios são amiúde considerados estúpidos por uma maioria estúpida (apesar que ninguém tem, tão-pouco, uma boa definição de genialidade). Mas a estupidez definitivamente existe, e há muito mais dela do que se julga. Por acaso, até talvez governe o mundo – o que é claramente comprovado pela forma com que ele é governado.
50 anos depois, Carlo M. Cipolla, Professor Emérito de Historia Económica em Berkeley publica “Il Mulino” em Bolonha em 1988. Nesse livro há um pequeno ensaio intitulado As Leis Básicas da Estupidez Humana, que talvez seja o melhor que já foi escrito sobre a matéria. As Cinco Leis da Estupidez, segundo Carlo Cipolla, são as seguintes: Primeira: Subestimamos o número de pessoas estúpidas. Segunda: A probabilidade de que uma pessoa seja estúpida é independente de qualquer outra característica de sua personalidade e o quociente de estupidez é o mesmo em ambos os gêneros e em todas as raças ou etnias. Terceira: Uma pessoa estúpida é alguém que provoca dano a outra pessoa, ou a um grupo de pessoas, sem conseguir vantagem para si, ou mesmo com prejuízo próprio. (Voltaremos a essa Lei, porque é o conceito central da Teoria de Cipolla) Quarta: As pessoas não estúpidas subestimam o poder de causar dano das pessoas estúpidas. O que sugere que as pessoas não estúpidas são assim mesmo um pouco estúpidas. Quinta Lei: A pessoa mais perigosa que pode existir é a estúpida.
Existem 4 tipos de pessoas, segundo ele, dependendo de seu comportamento: O Infeliz (ou desesperado): alguém cujas ações geram prejuízo próprio, mas que também criam vantagens para outros. O Inteligente: alguém cujas ações geram vantagens, igualmente para si e para os outros. O Bandido: alguém cujas ações geram vantagens para si, ao mesmo tempo que causam danos a outros. O Estúpido: já temos esta definição na Terceira Lei.
É óbvio que as pessoas inteligentes são as que mais contribuem para a sociedade como um todo. Mas, por mais triste que possa parecer, os bandidos inteligentes também contribuem para uma melhora no equilíbrio da sociedade, pois provocam globalmente mais vantagens que danos. As pessoas “infelizes-inteligentes”, apesar de perdedoras individualmente, perdem também ter efeitos sociais positivos. Sem dúvidas, apenas quando a estupidez entra em cena, é que o prejuízo é maior que o beneficio para qualquer pessoa. Isso comprova o ponto de vista inicial: o único fator perigoso em qualquer sociedade humana é a estupidez.
Como um historiador, Cipolla chama a atenção para o seguinte: se o fator de estupidez é constante através do tempo e do espaço, uma sociedade forte em ascensão tem uma porcentagem maior de gente inteligente, enquanto que uma sociedade que declina tem uma alarmante porcentagem de bandidos, um forte quociente de estupidez entre as pessoas em posição de poder, e uma igualmente alarmante porcentagem de Infelizes entre aqueles que não estão no poder.
Onde estamos agora? Essa é uma boa pergunta!
Cipolla afirma que as pessoas inteligentes, na sua maioria, sabem que o são; os bandidos também estão conscientes (e orgulhosos) da sua condição, e mesmo até as pessoas azaradas têm uma suspeita de que não estão assim tão bem. Mas as pessoas estúpidas não sabem que são estúpidas, e esta é uma razão a mais por que são extremamente perigosas.
Isso remete-me para a dolorosa pergunta inicial: sou estúpida? Tenho passado por vários testes de quociente de inteligência e conseguido boas qualificações. Infelizmente sei como funcionam esses testes e por isso não me convencem nem me provam nada. Dizem-me que sou inteligente, o que também não serve para nada. Provavelmente, são pessoas que me têm algum afecto e que se acham inibidas de dizer a verdade. Se bem que, se não fossem estúpidas, até podiam usar a minha estupidez em seu benefício. Se calhar, são tão estúpidas como eu. Tenho um pequeno resquício de esperança: até porque frequentemente estou cônscia de que sou estúpida (ou tenho sido). E isso indica que não sou completamente estúpida. Nem se vê grande imprudência em aderir ao Corolário de Livraghi à Primeira Lei de Cipolla: cada um de nós tem um quociente de estupidez, que é sempre maior do que supomos.
Tente um ensaio com os débitos e os créditos da sua estupidez. E ... assuste-se.

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