Na sala de jantar da casa dos meus pais sentávamo-nos em cadeiras de palhinha. Assim chamados, porque onde nos sentávamos e onde nos enconstávamos eram tampos de palhinha de autêntica de palha, bem resistentes ao peso de cerca de noventa quilos do meu Pai. Os entrançados de palhinha vergavam um pouco com o que suportavam, mas nunca fui conhecedor duma que rebentasse.
As cadeiras de palhinha eram construídas pelos egípcios, antes de Cristo e na Europa foram moda lançada pelos austriacos, que as usaram em cadeiras de mesa, em cadeiras de balanço, em otomanas e outros fins. Hoje são raras, e as que se encontram à venda em geral são de palhinha sintéticas embora com o mesmo entrançado quadriculado, deixando buraquinhos que dão frescura no verão.
Um dia em que o meu tio João almoçou na nossa casa, ele, ao sentar-se numa cadeira dessas, disse-me:
- Olha lá, disseste-me, quando eu aqui cheguei que tinhas uma coisa para me dizeres, o que é?
- É uma pergunta que lhe quero fazer, tio João, o tio sabe tudo !
- Então faz lá a pergunta, Albertinho.
E, com a ingenuidade própria dos meus sete anos, expus-lhe a minha dúvida:
- Tio João, o tio sabe para que são os buraquinhos que tem o tampo da cadeira onde se sentou agora?
- Ora Albertinho, vou-te responder mas não dizes este segredo a ninguém, pois não?
- Não, não, tio João não digo a ninguém.
- Então, olha, os buraquinohos são para deixar passar os pumpuns que tio João tem que deitar fora, senão ficavam presos...
Este meu tio avô João ensinava-me cada brejeirice...
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