"Que horror!
Não sei se causam nojo, se piedade,
Os lagos dos jardins,
Os tanques da cidade.
Oh, esta água presa, encarcerada,
condenada
a não correr à solta.
Pior ainda: a água, resignada,
sem gritos, sem revolta.
Antes a água das poças
viscosas e repelentes:
ao menos entra na terra
e vai abrir as sementes.
Antes a água da chuva
a enlamear a cidade:
quanto mais lama na terra,
no céu maior claridade.
Antes a água que gela
e se torna pedra forte:
feliz de quem é capaz
de mudar a sua sorte.
Antes a água das cheias3
destruidora e ruim:
é mortal, mas não conhece
princípio, meio nem fim.
Antes ser água do mar,
a sofrer,cantar, rugir,
de que ser água parada
eternamente a dormir.
Antes ser...
ouvi, oh água
prisioneira, encarcerada.
antes ser pranto profundo,
antes lágrima, antes dor,
antes abismo sem fundo,
antes matar e morrer,
mas, primeiro, correr mundo! "
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