Eu suponho que dentro duma página - não dum ou doutro lado dela - há muito que desvendar. Um sentimento, um desejo, uma fúria, um impulso, têm mais que as simples letras da palavra que os designa. E ao ler um dos lados da página se qualquer palavra ou frase se manifesta no nosso íntimo por reação favorável ou negativa em face do lido, a página enriquece-se ou avilta-se com o que entra para dentro dela. Vejamos: um armário de dimensões consideráveis, uns dois por quatro metros e meio de fundo, carregado de vestimentas e outras utilidades, se o pudéssemos reduzir ás dimensões duma folha de papel, continuaria carregado das vestimentas e outras utilidades de forma semelhante reduzidas e microtransformadas, não visíveis senão ao microscópio electrónico, Da mesma forma julgo que electrões ou outros ões dos nossos pensamentos, desejos ou fúrias, se introduzirão dentro daquela folha cujo trecho vamos lendo. É fantasia, dirão alguns, um contrassenso, gritarão outros, uma insensatez proferirão outros que pensam que já sabem tudo. Mas é um facto que muitos poderão aceitar, muitos poderão sentir, outros a memória profere a concordância, alguns haverão sentido o mesmo: que por vezes, quando abrimos um livro, aviva-se-nos a lembrança dum acontecimento, salta uma luz da nossa memória para um facto, uma situação, que nos desagradou ou não e que está por vezes relacionado com o tema do livro.
Coincidência ?
Não será que todas as coincidências têm uma razão no passado?
Ou que as coincidências do passado nos trazem a razão do presente?
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