A idade dum indivíduo é uma coisa curiosa, trata-se dum assunto delicado para muitos, que perturba a mente de outros, que altera o nodo de vida de tantos. Por mim, sem hipocrisia, estou convencido que não é um problema para ninguém. Senão vejamos:
1- Quando penso no tempo que passei até hoje, aqui na Terra - oitenta e oito anos e um
doze-avos, começo de imediato a fazer contas. Dormi durante quase trinta anos durante o tempo de vida, trabalhei durante mais ou menos outros trinta, ocupei-me em actividades agradáveis talvez durante uns dez, incluindo o ano de tempo que ocupei em escrever, outro ano a namorar, outro a amar, mais outro em actividades impróprias e indignas que já esqueci . Portanto resta-me concluir, neste ponto, que não tenho engendrado e utilizado maneira da aproveitar melhor o tempo de vida que me foi concedido e tirar algumas conclusões úteis para o meu tempo de vida futuro.
2 - O tempo não é problema para muitos - excepção para os que sofrem por dores, doença, pobreza muitos destes desejando que o seu tempo passe depressa e acabe - dado que muitos senão quase todos nem sentem o tempo passar. Alguns poderão desejar que o tempo passe vagaroso por eles, em geral por motivos ambiciosos e por vezes egoístas.
Os que me acompanham têm inteligência suficiente para me compreenderem, não necessito alongar-me mais.
3 - O tempo altera o modo de vida para muitos. Para melhor ou para pior. Porque tiveram formação deficiente, porque a pobreza e a doença os atingiram, porque o acaso transformou as suas vidas de forma favorável ou num sentido desagradável.
Eu estou convencido que nós é que fazemos o nosso tempo. E que o desfazemos.
Consegui e constato que o tempo para mim tem pouca importância. Talvez porque não o sinto, nem
o sinto passar. E encontro muito estranho o que oiço dizer com inusitada frequência: "quanto me custa passar o tempo, não há meio de sairmos deste tempo, não tenho tempo para nada, quem me dera ter tempo" e outras frases incompreensíveis e incompreendidas para mim. Penso que são ditas sem um juízo sereno do que dizem.
E acrescento: dou pouca importância ao tempo que me resta, considero muito importante o que deixei para trás. Principalmente pelo que a experiência me trouxe para melhor viver daqui para a frente.
Aquele primeiro "soufflé" que comi em Versailhes, em 1950 . A minha querida esposa uma vez por semana, agora, contempla-me à mesa, com um ainda melhor. Que importância tem o tempo que passou entre as duas datas?
Oxalá que todos os que me leem tirem algum partido do que escrevo.
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