Eu andava a namorar a outra esfregona, a verde, encantado pelo seu apêndice essencial, comprido, liso, um cabo vermelho, redondo como o vinho da garrafa que ontem abri. Eu sabia que o seu cabelo, mais grosso que uma crina dum "percheron", mais verde que a quarta cor dum arco-iris, mais firme que aquela rocha da minha praia onde eu apanho a sombra amiga. eu sabia que a esfregona branca, tímida, inerte, sossegada, afagada dentro do seu amigo balde, eu sabia que sempre me auxiliaria nos trabalhos em que me embrenhasse, buscando a pulcritude das escadas e das salas. Embora exibindo uma certa tristeza derivada da situação permanente de repouso na escuridão da dispensa, não manifestou indignação pela minha escolha imediata pela sua irmã esfregona, a verde, quando a abandonei, a ela, a branca, encostada à parede, retirada do balde amigo, sem uma explicação, sem uma justificação, sem uma palavra que suavizasse a minha preferência.
Quando será que teremos e poderemos comprar esfregonas que nos confessem os sentimentos, nos atirem com diatribes respondendo aos gestos irresponsáveis de preferências injustas e deselegantes?
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