Não me canso de imaginar a personagem do romance que publicarei em 2016: filho dum camponês beirão, nascido nos anos setenta do século passado, quinteiro numa propriedade de mais de mil hectares de superfície, criando cinco filhos na casa modesta que o proprietário lhe destinou, trabalhos contínuos, pesados, durante todo o ano, na vinha, no olival, na horta. Fraca remuneração para ele e para a esposa, mal dando para os despesas do casal meeiro: de tudo o que produziam na horta, metade era entregue ao proprietário.
O filho mais velho, João Martins, no último ano do século dezanove, cumpriu o serviço militar obrigatório. Onde aprendeu a ler e escrever e vagas noções sobre a história de Portugal e colónias portuguesas. Sem profissão adquirida, a única perspectva de emprego seria na agricultura, Mas, pensando na vida dos seus pais, descartou essa hipótese. Um tio que vivia em Angola para onde havia sido deportado por condenação, trinta anos antes, cumprida a pena, explorava um comercio, no mato, a uns trinta quilómetros ao norte de Luanda. Nesse tio talvez encontrasse a solução do problema de ir para Angola. Escreveu-lhe.
Nesses tempos a ida para Angola quase que se limitava aos condenados à degradação. Lá chegados, se a pena era leve, poderiam trabalhar para quem os contratasse. Ou poderiam embrenhar-se no interior da colónia e iniciar-se no comércio de compra e venda com os indígenas ou ainda, conseguir uma concessão de terrenos. Para plantar sizal, café, actividade mais rara dada a fraca cotação de todos os produtos agrícolas.
Já temos o esqueleto e o personagem principal do romance.
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