Terei o armazem da originalidade quase vazio e partido o acelerador de ideias? Não, não, ora vejamos o que sai de lá.
Eu, que gosto tanto do mar, nunca me canso de mergulhar na sua água salgada. Gosto tanto do mar que até me condói, me perturba, me ensombrece reparar nas águas do mar que entraram naquela salina quando passo na ponte sobre o Arade, oiço os gritos silenciosos que soltam aquelas águas aprisionadas e sujeitas à perda da liberdade que gozavam dentro da mãe da água que é o mar. E ali estão, à torreira do Sol. Para que o homem - nunca vi uma mulher numa salina - lhe extraia o sal, aliás hoje considerado um condimento nocivo para a saúde,
O sal foi sempre usado para dar gosto à comida ensonsa, inerte de sabor, sem personalidade no paladar. E penso que foram alguns velhos de antigamente que, ao perder potência no paladar, começaram a empregar o sal, daí que bem se pode dizer que quanto mais velho mais sal o homem quer no prato, nascendo um vício progressivo. Como tantos outros. Penso que não há vícios que um homem adquira que não sejam progressivos e como o que demais não presta, lá diz o povo ,o tal viciado acaba comendo carradas de sal e arcando com as respectivas consequências - de que morreu o tal rei da lenda do sal.
Pois eu gosto de sentir o gosto dos diversos produtos que entram na panela. Numa caldeirada gosto de saborear o gosto dos diversos peixes, da qualidade da batata e do tomate. Não preciso de condimentos. Num "souflé"de queijo, aprecio sabor dos ovos e do queijo. Essa iguaria tão pouco conhecida nos nossos restaurantes, é barata, fácil de executar e dá gosto saborear e antes, de o comer, ver um "soufflé" bem feito.
Nunca mais me esqueci do primeiro "souflé" que comi, num restaurante em Versailles em 1940. Conversando com a minha esposa, como diz o povo, conversando é que a gente se entende, lembrei-lhe esse almoço em Versailles.
Há poucos dias a minha esposa - que está conquistando-me outra vez com os pitéus que me apresenta, apresentou-me, ao almoço, um "souflé". Ainda me soube melhor que o de Versailles
Abri o armazem das ideias. saíram algumas, misuradas com recordações,
Já leram o que de lá saiu.
Sem comentários:
Enviar um comentário