João Martins acordou na penumbra das sete da manhã, espreitou pela janela do camarote não viu o mar nem sentiu o ruido monótono das máquinas do navio a que se habituara nos dez dias após a saída de Lisboa. Maio ensonado reparou na avenida das palmeiras sobre a baia de Luanda, que continuava, sem as palmeiras pelo cais onde o navio atracara. Uma pancada na porta do camarote e a voz dum tripulante - "senhor Martins tem uma mensegem urgente na recepção!" - despertou-o da modorra em que ainda se encontrava. Chegara a Angola, desta vez em camarote de luxo com janela e varanda com vista para o mar.
Que viagem tão diferente da que fizera no velho Moçambique, sessenta anos antes em terceira classe desconfortável, dormindo naquelas noites enjoadas na camarata colectiva e durante quase um mês de viagem !
Na outra viagem, à chegada a Luanda, quase que o arrancaram da cama, na camarata, arrumara a mala à pressa e foi ao encontro do tio que o esperava no cais. Era a única pessoa que ali se encontrava. Naquele tempo quem ia para Angola ou era funcionário público ou, se não ia deportado
só o deixavam embarcar se munido de carta de chamada de parente ou amigo lá da colónia, que lhe garantia emprego e bilhete de retorno, em terceira classe, se o seu trabalho não agradasse.
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