Um dia um meu professor de português-latim, levou para a sala de aula, um galo, Nada menos que um galo adulto, grande, de farta crista e penas bem coloridas. Durante alguns segundos esse professor observou a nossa reacção, os risos e sorrisos de alguns, a cara de pasmo de outros, a curiosidade manifestada na expressão de quase todos.
O galo parecia bem amestrado porque não fugiu quando o professor o colocou sobre a mesa, limitou-se durante alguns momentos a olhar pra um lado e para outro com aqueles movimentos vivos e bruscos próprio dessas aves. Nem cantou nem cacarejou, quando o professor o acalmou colocando alguns bagos de milho no tampo da mesa.
Após a apresentação daquela visita, o professor fez duas ou três perguntas simples. E, depois, como era normal nas suas aulas, disse:
- Uma folha em cima das carteiras! Assunto a desenvolver em dez minutos: o galo aqui presente.
Era frequente aquele professor começar as suas aulas por uma prova escrita desse género: uma pequena redacção sobre um tema simples: um objecto que trazia ou que escolhia na aula, um animal conhecido, um defeito ou uma virtude, Por vezes apresentava um número ou uma palavra simples como assunto a desenvolver.
Na aula seguinte fazia alguns comentários sobre as pequenas provas apresentadas. Mas nunca, nunca se servia da sua condição de professor para ridicularizar qualquer das provas apresentadas e muito menos ridicularizar o seu autor.
Era um professor exemplar. Entrávamos para as suas aulas na expectativa alegre do que ele apresentaria. Naquele dia levou o galo, Noutro levou um autoclismo dos antigos. Um dia determinou-nos que o tema seria "coragem".
Fazia-nos pensar, escrever, fazia-nos rir e sorrir.
E, sem nos provocar medos ou receios, nas suas aulas a indisciplina nunca surgiu.
Na verdade, era um professor exemplar.
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