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sexta-feira, 12 de novembro de 2010

os carapaus

       A senhora do primeiro direito deu um arranjo  no cabelo, envergou o robe amarelo de trazer por casa, encostou-se ao corrimão da varanda pondo o cotovelo no queixo, ajeitou os óculos no nariz adunco, e continuou a observação do dia anterior à mesma hora das dez da manhã.E vendo o marido na rua :
          - Ó Eleutério, encontrastes os carapaus?
          - Siiim,siiim  - uns sins displicentes, carregados de resignação.
          - Atão porque não trazes já p'ra casa o pêxe ?
          - Vou jáaaa, mulher - com um encolher de ombros,levantando as sobrancelhas e olhando para o amigo com quem continuou a conversar.
      Mas ela não desarmava :
         - Olha lá, Elutério traz-me tambem duas caxas de fósforos, tás a ouvilr?
         - Siiim, Odete  - o peso dos 32 anos de casamento arrastando a resposta.
      E o amigo Salvador:
         - Olha eu também tenho de passar pela venda, vou contigo.
      E Odete levantando mais a voz :    
        - Ó homem na te vás embora traz-me primero os carapaus !
        - Mas atão queres os fósforos ou queres os besugues ?
        - Cais besugues ? - as palavras dela caindo  como um raio, da varanda.
        - Ná havia carapaus, só besugues,Odete - e os besugues e os carapaus saindo da garganta
  do Elutério e subindo a custo até à varanda.
        - Tá bem, vai lá buscar os fósforos.
        - Ó Salvador tás a ver com'e ela é , ora quer iste, ora quer aquilo !
        - Quéque tás prá'i dezendo, vê lá se t'avias, anda pr'a cima !
        - Já agora, Odete, vou comprar os fósforos...
     E o Eleutério começou a descer a rua com o amigo.
     Mas a Odete não se deu por vencida :
          - Ó Salvador, dexa ai os besugues na porta q'eu vou-me lá abaxo .
     Mas os amigos já se afastavam depressa.
     E a Odete, chegando à porta:
          -  Naquerem lá ver, raisparta  o homem, nem carapaus, nem fósforos, nem besugues, más ca grande sina a minha !

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