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segunda-feira, 30 de abril de 2012

Folhetim - Sonho de sorte - 101 -

                        - Essa experiência que estão iniciando quem a faz?
                        - Foi iniciada por colaboradores nossos e depois por beneficiados pela fundação, de forma volluntária, como não poderia deixar de ser. Podemos passar ao gabinete onde instalámos a central de méritos e observar como tudo se processa.
             Junto à central de méritos, instalada numa divisão contígua ao restaurante, encontrava-se a Fernanda Conceição, a colaboradora contratada para controlar a CM.
             Fernando esclareceu:
                       - Esta cenral, a CM, tem como complementos o equipamento restante que estão vendo: um computador, um "ecran", uma impressora, um arquivo e uma secretária. Esta máquina, a CM, pouco maior que o computador é o coração da central, Há ainda êste leitor digital em tudo sumelhante aos que vimos em Xangai, leitores que já existem e funcionam no restaurante e no ponto de venda  em Almada. Se não há dúvidas, estamos na hora do almoço, passemos ao nosso restaurante.
            Depois de escolhidos os pratos passaram pela caixa. Fernando, dirigindo-se ao leitor digital, disse para os dois jornalistas:
                      - Reparem agora. Êste nosso colaborador, senhor Pedro Silva,  regista as refeições escolhidas, recebe o valor respectivo em dinheiro ou, através do leitor digital recebe êsse valôr em méritos. Êle acaba de registar o valôr das nossas três refeições, vou colocar a minha mão no leitor digital e, se olharem para o mostrador do leitor digital, aparecerá escrita a frase "autorizada a despesa de quatro euros e meio", saindo uma factura com êsse valor. Se eu quiser saber o saldo da minha conta na central, carrego na tecla da consulta de saldos, apresento de novo a minha mão ao leitor digital, o que estou fazendo e eis aqui o papelinho com o meu saldo em méritos hoje, a esta hora.
            Durante o almoço Fernando explicou com mais pormenores as funções da central de méritos. Tomando café, o jornalista António Lourenço, disse:
                      - A nossa sociedade está baseando a vida no emprego, por consequência no trabalho. A maior parte do emprego é conseguido em empresas particulares. No caso desta fundação, os trabalhadores têem tanta segurança que em qualquer empresa?
                      -  Senhor jornalista Lourenço, todos os que aqui trabalham para a obra da fundação, são colaboradores, não são trabalhadores, são como cooperantes activos, beneficiando de remunerações suficientes para uma vida digna. Pensamos que num futuro não muito longínquo os benefícios possam ser melhorados. Raríssimos são os descontentes, penso que cada mês que passa, o seu número dimini. O milagre dos prémios obtidos pela fundação permite-nos uma situação desafogada. Porém, o nosso principal objectivo é mantermos o mesmo nível de despesas suportadas por receitas próprias e, no futuro, ficarmos independentes de prémios ou de ganhos em jogos.
                      - Mas não estarão, como todos nós estams, sujeitos às crises?
                      - Ponderámos bastante êsse problema. Desde a primeira grande crise, ocorrida na Inglaterra nos princípios do século dezoito, até à grande crise aque começou em mil novecentos e vinte e nove e em todas as minicrises que ocorreram desde aquele século até hoje, quem foi sempre mais prejudicado? Foi o Zé Povinho. Quando falamos em crises, um amigo meu diz que os pobres ficam na miséria e ainda mais pobres e os ricos ficam mais ricos ou perdem tudo e suicidam-se. Esta fundação prucura evitar a miséria dos primeiros e, no futuro, tentará evitar as especulações dos segundos. Contribuir por conseguinte que as crises sejam cada veszs mais raras, que as bolhas económicas dos mercados financeiros sejam detectadas logo de início e diminuam sem rebentar.
                    - Sem querer insistir muito, até onde poderá ir esta vossa experiência se os resultados fôrem animadores?
                    - São tão animadores que estamos pensando numa nova fase da experiência Por outro lado, temos sinais positivos de colaboração das autarquias vizinhas. Entretanto continuaremos devagar, esperamos um maior apio por parte do governo, um maior interesse dos políticos. iremos, no futuro, tentar suavizar os problemas relativos ao dinheiro. Senhores jornalistas, ao  contrário do que deveria ser e do que a maior parte da população julga, o dinheiro sempre  tem sido um meio em que não se pode confiar. O homem há milhares de anos tem sofrido uma propaganda fortíssima para que possa confiar nêle, no dinheiro, como um meio decente e honesto, que sirva como meio de troca do seu trabalho ou dos seus bens, e convencendo-o que não está sendo ludibriado e que recebe um valôr semelhante, traduzido em moedas, notas ou crédito, na sua conta bancária. Poucos dias e às vezes poucas horas depois, verifica, se sabe verificar, que quando levanta o que depositou fica com menos que o que depositou no banco, em poder aquisitivo. Recebe a mesma moeda ou notas, mas não pode adquirir o mesmo que na altura em que o depositou. É portanto ludibriado - com isso a que se chama inflação - com os juros, com as promessas de lucro, com outras promessas. Se entrega um valôr e recebe menos valôr, é ou não ludibriado?
                    - Mas é possível acabar com a inflação?
                    - Possível seria. Mas nenhum governo o conseguirá porque todos os governos sabem que é um imposto muito disfarçado, que se aplica e que ninguém refila porque não é anunciado nem explicado. Dizem: "a inflação no ano passado foi de tantos por cento", nunca dizem que se aplicou outro imposto dêsses tantos por cento, Mais: quando anunciam o valôr da inflação no ano anterior, êsse valõr anunciado é sempre inferior ao valôr real, com uma diferença que se situa, segundo consta, entre dois e meio a três e meio  por cento a mais que o declarado oficialmente. Portanto, além de ser um impôsto camuflado, é uma impôsto de valôr maior que o aninciado para a inflação.           
(continua)

domingo, 29 de abril de 2012

Folhetim Sonho de sorte - 100 -

                                                           XLIII
               O assessor de Presidente da República, o doutor Morgado, num dos primeiros dias de Outubro, enviou um convite à direcção da FAP para uma audiência com o senhor presidente.
               Foram recebidos no dia e hora marcados. De início a conversa decorreu de acordo com as formalidades usuais. Pelas respostas que o presidente obtinha dos directores da fundação e que o elucidavam sobre tudo o que que ali se efectuava, a entrevista ficou mais calorosa, cada nova pergunta de sua excelência revelando um interesse crescente. No tocante aos objectivos, projectos e sua execução, tudo foi explanado sem reticências por parte de Júlia e Fernando.
             Quando a entrevista se prolongava para além da meia hora prevista, o presidente ainda perguntou:
                       - O menistério dos assuntos internos tem conhecimento da fundação e de toda a vossa actividade?
                       - Um director de serviços dêsse ministério visitou-nos , como resultado dum convite nosso. Até esta data, senhor preisdente, não tivemos notícia nem recebemos qualquer ofício do ministério nem daquele senhor que nos visitou. Demos respostas a tudo o que nos perguntou - e Júlia continuou - e supomos que nada dissemos que o melindrasse, o nosso interesse sempre tem sido o de estabelecer as melhores e mais cordiais relações com o governo. A pergunta de vossa excelência faz-nos crer que talvez exista algum mal entendido. Vamos escrever ao ministério convidando-os para nova visita ou sugerindo a nossa presença para desfazer quaisquer dúvidas ou equívocos e dar conta das nossas realizações.
            O Presidente, em jeito de despedida, levantou-se, dizendo:
                      - Façam isso, não se esqueçam.
                      - Muito agradecemos o seu convite, senhor presidente, e todas as suas boas sugestões.
            No regresso Fernando, referindo-se ao encontro :
                      - Desta fez não usámos o gravador, o que não seria delicado e elegante, tratando-se do presidente. Serás capaz Júlia, de reproduzir tudo o que dissemos e tudo o que ouvimos?
                      - Conheces a minha boa memoria para as conversas, sejam as de amigos, sejam as de serviço. Assim que cheguemos à FAP, irei ditar à Mariana tudo o que se disse na reunão com o presidente, dentre de uma hora temos tudo escrito.
                       - Reparaste que o presidente tinha uma informação muito detalhada sobre a FAP, nada mais do que aquilo que dissemos ao Morgado?
                       - Sim. E também reparei no interesse crescente que manifestou pela FAP no decorrer da conversa. Como é o partido dêle que está no poder, a FAP talvez possa beneficiar algo com esta entrevista. Penso que a maneira como êle reagiu e respondeu à nossa sugestão de que o governo comece por nos apoiar com um milhão de contos. Lembras-te que, sem pestanejar nos respondeu "talvez seja possível"?
                       - Não tenhas grandes esperanças.
                       - Não tenho, nem precisamos de contar com isso, felizmente. Mas, porque lhe falámos das nossas boas disponibilidades financeiras, é provável que deseje que o governo faça um brilharete, ajudando-nos e, ao mesmo tempo, atenuando as críticas sobre outros auxílios a outras fundações, menos justificáveis e com resultados menos visíveis. Outro assunto: Fernando, há quase um mês que não temos nenhum prémio, nenhuma receita importante, o nosso anjo da sorte abandonou-nos?
                       - Julgo que não. O problema foi que durante êste mês nada nos poderia sair porque, como sabes, não jogámos nem comprámos lotarias. Talvez pela ocupação intensa que temos tido, talvez por sabermos que o estado das finanças da FAP é saudável, a verdade é que me esqueci por completo de participar em qualquer jôgo. Outro dia tu e a Laura disseram-nos que temos reservas suficientes para mais um ano. O ideal, no entanto, será ampliar êsse saldo e não constatar que diminui. O que poderia contribuir para que sentíssemos o que nunca sentimos na FAP,  "stress" pelas preocupações financeiras.
                       - Então será bom conservarmos e não ampliar á média da despesa. Ainda que surjam mais alguns prémios deveremos ponderar e analisar bem, tudo o que está feito e, se necessário, reorganizarmos o que necessitar de afinação.

                      
                                                                                  
                                                                    XLIV


             Dois jornalistas solicitaram uma entrevista á direcção da FAP. Laura recebeu-os. Quando soube qe estavam interessados na central de méritos pediu-lhes que aguardassem um pouco no gabinete onde se encontravam e foi avisar Fernando. Êste, perguntou aos jornalistas:
                      - Suponho que é a primeira vez que o jornal onde trabalham nos entrevista?
                      - Sim, engenheiro Garcia, o nosso director por várias ocasiões nos falou dêste trabalho. Entretanto, dois congressos e algumas exposições têem-nos ocupado até hoje - disse António Lourenço, um dos jornalistas do diário da capital com maior número de leitores.
                      - Espero que também se interessem por tudo  o que esta fundação desempenha. Não podemos falar-vos na central de méritos sem vos dar uma ideia geral do que é e o que representa esta fundação.
             Fernando, após o resumo breve que sempre relatava a quem visitava a FAP pela primeira vez, encaminhou os jornalistas para a sala das reuniões, onde Maria dos Anjos os esperava, com o gravador e o bloco preparados.
                      - Decerto está acostumados à gravcação das vossas entevistas, é uma garantia de fidelidade do que depois dizemos e escrevemos. Temos um arquivo, já considerável das entrevistas que damos para o exterior. Comecemos com as vossas perguntas.
             O jornalista mais nôvo, o José Amaral, disse:
                      - A central de méritos, pelo que nos referiu, é a base do sistema de pagamentos e recebimentos que aqui iniciaram. Não sera mais prático usarem o dinheiro?
                      - As razões que nos levaram, nesta experiência, a adoptar êste sistema usando a central de méritos e não o dinheiro ou o sistema dos cartões de crédito, foram várias. Destaco as principais: evita o dinheiro e os cartões de crédito, evita dívidas, pode evitar roubos a quem paga e a quem recebe, simplifica o controle dos pagamentos. Além doutras vantagens: não existe nem é necessário o transporte de moedas ou de notas, não há interferências bancárias, nem outros problemas.
                      - O objectivo - perguntou António Louernço - é acabar com o dinheiro? Os economistas consideram isso possível?
                      - Não consideram, acham isso impossível, mesmo os mais considerados acham isso uma fantasia, sem admitir discussão, embora sempre apregoem que vivemos em democracia. Mas o nosso objectivo, para já, não é o de acabar com o dinheiro, com a circulação e o uso do dinheiro para as transações de bens e de serviços. A moeda apareceu há cêrca de cinco mil anos, duma forma rudimentar mas sendo, de imediato, empregue como hoje, isto é, como um instrumento de troca que tem a confiança de quem o aceita. Não. O que pretendemos de momento é estabelecer de forma experimental, um sistema diferente para as nossas trocas, um sistema mais seguro e menos inconveniente que o sistema que utiliza o dinheiro ou os cartões de crédito. Se um ladrão roubar a central de créditos que está naquela dependência ao lado do nosso restaurante, o que é que rouba? Rouba um arquivo, nada que lhe seja útil, não rouba umas dezenas ou centenas de contos duma caixa do multibanco ou dum cofre.
                       - A central de méritos será, de certeza um máquina cara, não?
                       - Claro que foi, ainda não é produzida em massa. Mas é mais barata que uma caixa do muitibanco ou que o cofre dum banco.
                       - Mas acham que é possível adoptar êsse sistema na nossa sociedade?
                       - Os senhores jornalistas sabem quanto tempo demorou  a humanidade a chegar ao actual sistema do uso de moedas e de notas? Foram milhares de anos. Não poderíamos ter a pretensão ou vaidade de querer implantar êste sistema em pouco tempo, sem dificuldades, sem vencer muitas resistências, sem muitos inimigos. Não. Estamos simplesmente iniciando uma experiência que poderá ou não ser um sucesso. O que vos digo é que, até agora essa experiência, ainda com poucos dias de vida, não tem sido um fracasso. Que tem despertado muita curiosidade, felizmente.
                       - Onde descobriram essa central de méritos?
                       - A ideia resultou do que vimos no comércio de Xangai onde já adoptaram o uso de leitores de impressões digitais, substituindo o uso dos cartões de crédito, o que eu e a minha espôsa verificámos pessoalmente quando ali fomos há pouco tempo. Ao vermos que isso funciona muito bem naquele comércio, pensei que a central que recebe no banco de Xangai  todos os dados poderia também arquivá-los, receber e dar outras informações,  através duma tecnologia semelhante à que empregamos  cá para os cartões de crédito. Foi só pedir o que queríamos a um fabricante de caixas multibanco que nos fabricasse uma máquina com as mesmas funções que um leitor de impressões digitais, com o arquivo das contas particulares e, passado um mês tínhamos aqui a nossa central de méritos.
                       - E registaram a patente?
                       - Temos um acordo nesse sentido, com a fábrica, em relação ao que acrescentámos às funções dos leitores de impressões digitais.
(continua)




(continua)                             

sábado, 28 de abril de 2012

Folhetim - Sonho de sorte - 99 -

                 Laura, que adorava a polémica, interrompeu Fernando:
                          - Parece-me que estás a misturar tudo.  Cá temos o velho assunto que tanto aprecias, Fernando, o de não considerarmos, nós os economistas, todas as variáveis e por isso raramente saímos de impasses como êsses que referes. Para mim, o problema é outro, como noutras vezes argumentei. Todavia tu e a Júlia têem razão se dizem que os responsáveis  muitas vezes não consideram algumas variáveis conhecidas e eu acrescento: quase sempre o fazem de propósito, porque só assim seguem a política do chefe, só assim conseguem camuflar os problemas verdadeiros e convencer o pagode que tudo corre às mil maravilhas. As culpas aqui morrem solteiras, algum governante  foi condenado pelas asneiras de consequências nefastas para o país, para todos os seus habitantes? Manuel Guedes, que opinas, como economista que és?
               Manuel Giedes nunca fugia às perguntas e respondeu:
                          - Até aqui vocês não me perturbaram nem o apetite nem a boa disposição. Estão falando do desemprego mas eu acho que devemos é falar do emprego. O que primeiro quero dizer é que não é por se falar ou especular muito sobre o desemprego que êste diminui, que se cria emprego. Os empregos na actividade particular, surgem por iniciativa dos empresários, como conseqência da sua criatividade, do seu esfôrço, do seu interesse,  da sua dedicação pelo investimento. No Estado - que emprega pouco mais de dez por cento dos trabalhadores - uma grande fatia do emprego deriva em geral da política vigente. Aquelas qualidades que um empresário demonstra e utiliza para criar emprego, não existem se reinar a apatia, a indiferença, o marasmo. Que factores induzem à criatividade, cocorrem e provocam a iniciativa? O que é que a apatia e a indiferença não criam nem provocam? - Manuel Guedes engoliu a´última colherada de pudim e concluiu: O que induz e provoca tudo istó é a amabição e o conhecimento.
                          - Correcto, Manuel!
                          - Sem ambição ficamos sentados. Quem se empregar sem conhecer as coisas do mundo, sem cultura, sem ciência, só consegue salários mínimos e  nos empregos que poucos querem. Até os génios, para sair da mediocridade, necessitaram de formação e do ensino.
                          - Parece-me que estou vendo onde queres chegar...
                          - Laura, o que se impõe começar quanto antes é a instrução, a educação, a difusão decente de conhecimenos.
                          - Decente?
                          - Não ser indecente, desonesto, inapreciável, indecoroso, como é agora. Desonesto porque pouco ensina, inapreciável porque é insignificante, indecoroso porque muitas vezes é uma escola que ensina o que não deve ensinar. É insignificante porque muito pouco ou nada ensina a pensar, pouco despeertando nos miúdos, nos alunos o gosto por desvendar e aprender, não respeitando o direito à fantasia e sem conseguir a disciplina através do interesse e da curiosidade. Esta existe desde que um bébé abre os olhos ou talvez mesmo antes, pouco sabemos sobre isso, talvez mesmo ainda na barriga da mãe, antes de nascer... Bem, parece-me que as nossas ocupações não dos deixam ficar mais tempo - disse o Manuel Guedes, levantando-se e deixando a mesa.
                          - Deveríamos organizar um congresso ou pelo menos uma reunião de gente que goste de pensar, começando por êste tema - foi dizendo Júlia enquanto se encaminhavam para os gabinetes.
                          - È uma excelente ideia a propôr ao presidente da câmara que visitámos, vamos pòr isso no papel - disse Fernando ao entrar no seu escritório.


                                                                           #####


               De Pitágoras quase todos lembramos o seu teorema. Êle deixou-nos muito mais. Por exemplo deixou-nos esta frase: "eduquemos  as crianças para não termos de castigar os homens".
(continua)     

 
                             

sexta-feira, 27 de abril de 2012

             A minha filha caçula ralha-me sempre que eu lhe falo das maldades do dinheiro de quem o dinheiro mais prejudica no mundo,etc.. Trabalha e ocupa-se que se desunha, felizmente que não lhe faltam unhas. Porém os que usufruem do seu trabalho pagam-lhe tarde, por vezes muito depois que ela  lhes entrega os trabalhos. Que é assim o sistema em que vivemos, diz ela resignada. E eu digo-lhe que a estão roubando, porque o que recebe passados alguns meses, foi desvalorizado, no mínimo,  pela inflação. E ela diz-me, o problema é dos homens, não é do dinheiro. No entanto, argumentei eu, há homens ou empresas dirigidas por outros homens, que te pagam a tempo e horas, portanto é uma questão de formação de valôres que uns adquirem, outros não. Que uns, da sua formação resultou uma condição inata de lisura, franqueza e honestidade. E que o dinheiro, os bancos, o sistema, são os meios de que se servem êsses indivíduos para a falta de lisura, de franqueza e de honestidade.
             E termino perguntando mais uma vez:  porque não se discute o dinheiro e a sua contribuição para a falta de lisura, de franqueza, de honestidade nos contratos?    
  

Folhetim - Sonho de sorte - 98 -

            O presidente conversou um pouco com os vereadores e disse :
                      - Não nos parece existir qualquer inconveniente, No entanto consultaremos o nosso contencioso, dentro de dois ou três dias vos daremos uma resposa, prometo fazer-lhe um telefonema depois de amanhã. Outra pergunta?
                      - Suponho ser do conhecimento de todos que a fundação tem em projecto uma outra indústria, por agora uma pequena indústria de confecção. Apresentámos uma proposta para que nos vendam um lote na nova zona industrial e nos concedam o alvará respectivo. Essa proposta encontra-se na vossa câmara há cêrca de um mês, será possível uma resposta breve?
                     - Êste mês será passado o alvará e dada  a ordem para venda do lote- afirmou o presidente,de forma peremptória.

              Ao sair do parque de estacionamento da cãmara municipal, Manuel Guedes, que conduzia o automóvel., comentou a reunião:
                     - Julgo que acertámos por completo nas perguntas que nos iriam apresentar. O presidente e o vice pareceram-me  bastante sinceros. A atitude dos vereadores não me pareceu tão bem definida, achei alguns um pouco desinteressados, talvez por alguma timidez.
                     - A gravação que fizemos vai ser mais elucidativa. Concordo com o que dizes sobre o presidnte e o seu vice, pareceram-me bastante leais. Assim o julgo porque sei que são muito amigos. A grande notícia que nos deram foi aquela da expansão da nossa actividade para outros concelhos, não nos disseram a quais re referiam, penso que será melhor aguardar que os interessados se manifestem - disse Fernando.
              Passaram a ponte, con tráfego intenso, muito lento, porque um acidente, meia hora antes, provocara um engarrafamento enorme.


                                                                          XLII


                   Chegaram à fundação bastante atrasados para o almoço. Encontraram a sala do restaurante quase vazia pelo que se sentaram na mesma mesa.
                   Fernando foi o primeiro a quebrar o silêncio:
                           - Hoje não foi possivel seguir o combinado quanto aos almoços, a regra aceite de nunca nos sentarmos os quatrro, juntos. O restaurante está quase vezio, justifica-se que fujamos à regra. Voltando a falar sobre a nossa ida de manhã á outra banda, aquela referència da Júlia ao desemprego foi muito oportuna. Se não vos repugna nem perturba o apetite, podemos falar um pouco mais sobre o assunto. A acção dos últimos governos, no tocante ao desemprego tem sido, em minha opinião, muito modesta, muito camuflada pela propaganda de promessas redundantes, as quais foram justificadas pela conjuntura da época mas tendo um fracasso como resultado,no presente - e Fernando, após poucos sgundos, continuou - Ainda não conheço um país que tenha desenvolvido uma acção semelhante àquela que a FAP desenvolve, vocês conhecem algum? Laura, tu, que gostas muito de calcular tudo até ao cêntimo, terás um ideia de quanto custará a um país fazer o mesmo?
                            - Poderei fazer as contas. No entanto qualquer governo deverá avaliá-lo comparando o seu custo, calculando quanto custa à nação o fundo de desemprego que pagavam  aos que são agora beneficiados pela FAP. Júlia, tu tens decerto valôres mais consistentes que os meus.
                            - Por acaso já pensei nisso, não é a primeira vez que eu e o Fernando o discutimos. E temos chegado sempre ao mesmo impasse, não é assm, marido?
                            - Sim, minha senhora O impasse resulta de nunca conhecermos se a situação do desmprego existente é analisada com isenção, se todas as variáveis conhecidas são consideradas pelos responsáveis. Depende muito, por exemplo, da atitude dos sindicatos. Êstes, em épocas de crises, hevendo menos trabalho, querem manter os mesmos salários, então, por vezes, o que acontece  nos Estados Unidos, as empresas podem despedir os trabalhadores. Aqui, se há menos trabalho,  os sindicatos querem manter todos os empregos e os mesmos salários. E a empresa, se não consegue impor menores salários nem despedir trabalhadores, pode ir à falência e ter de fechar as portas, negociando compensações, como sucede em toda a Europa. Depende também da forma como se avalia a percentagem do desemprego, depende do valôr do salário mínimo, se utilizam alguns truques, difíceis de descobrir, como o de considerar empregados os alunos de cursos de formação. alunos que não têem uma garantia de emprego. Uma carteira profissional não é garantia de emprego, pior ainda em épocas de crise. Os economistas aqui presentes poderão acrescentar muito.
(continua)


      
              Háquemescrevaassim,tudojuntoohMaria trazlá a escadae                                                            há                                                   quem                                                                                            escreva                                                                                                               asssm                               
                              tudo                                                         bem                                                                                    divorciado,                                                                                                separado,              tendo                    em                                                           consideração                  os  que                                                                             são muito                rápidos.                                     O                                        primeiro                                             estilo                                        é                para                                           os                         mais                                       lentos              e                              calmos                      que                                        gostam                                 de                digerir                             com               mais                            lentidão 
                                   É       a      vida   .                     .
               Oh David, é muito feio meter os dedos no nariz - dizia a professora. Outros diriam não metas o nariz onde não és chamado, portanto alguns são chamados para meter o nariz onde pretendem encontrar alguma coisinha, que não seja para desprezar, se êle há tanta coisa desprezada nêste mundo porque um digno cidadão não há de querer meter o nariz, para meter o nariz nalguma coisa primeiro terá de aprimorar o sentido olfactivo e depois tomar a decisão que pode ter uma consequência desastrosa e funesta de encontrar macacões indesejáveis nadando na humidade das mucosas do ofendido, que foi ou não ofendido ou com estoicismo exemplar próprio dum bom estoico poderá ou não sentir- se ferido no orgulho e no preconceito estabelecido desde a infância.
                Onde é que eu já li umas quatro mil linhas escritas nêste estilo?

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Folhetim - Sonho de sorte - 97 -

                               - Vou referir algumas: temos os rendimentos dos depósitos a prazo nos bancos em Portugal e no estrangeiro, depósitos no Mónaco e em França, provenientes de prémios ganhos lá; começamos a ter rendimento da indústria de pão e derivados. Nos próximos doze meses, o que o engenheiro Garcia vos poderá explicar, ampliaremos muito esta indústria e começaremos outra que está na fase de projecto.
                Outro vereador, de modo displicente, inquiriu:
                               - Quando vos visitámos, os senhores referiram o vosso interesse pela colaboração da autarquia nos vossos trabalhos, podem-nos dar pormenores?
                 Júlia apressou-se a responder:
                               - De diversas maneiras. A primeira será a da vossa informação ao governo sobre tudo o que estamos fazendo. Agradeço-lhe muito a sua pergunta porque não queremos que subsistam algumas dúvidas no governo e na pesidência da república, sobre a obra da fundação. Peço-vos que lhes apresentem essa informação. Se neessitam de mais alguns elementos sobre a FAP, todos nós vos esclareceremos, nada omitindo. A segunda baseia-se, para sermos mais exactos no que falámos antes, quanto tempo poderemos continuar a auxiliar os cidadãos necessitados. Pela actividade da fundação,  como os senhores decerto notaram, o desemprego em toda esta zona benficiada, reduziu-se, na prática, a zero. Pela vossa reacção a esta afirmação, parece-me que não concordam. Mas poderão ter uma opinião diferente se passarem a considerar que os auxílios que concedemos estão, em parte,  substituindo os empregos, no aspecto material. Os senhores conhecem de certeza, o trauma que representa para qualquer ser humano, a perda do emprego, tenha a idade que tenha, Conhecem certamente que existiam aqui muitas famílias com carências enormes e também um número considerável de idosos, sem qualquer apoio familiar e com níveis de subsistência abaixo do miserável. Todos ou quase todos aqui presentes, é provável que tenham um familiar ou um conhecido que passou pelo mesmo. Portanto não seria descabido que o Estado, através das autarquias desta zona ou de forma directa, nos concedesse um subsídio destinado apenas à continuação do auxílio que a fundação vem concedendo desde os meses finais do ano passado.
               E Laura, apoando Júlia, acrescentou:
                          - O senhor presidente e a sua equipa decerto que, de imediato, não nos irão dar uma resposta. Todavia, estamos crentes que irão decidir bem.
               O presidente, homem de poucas falas, mas bem intencionado e considerado pelos municipes, disse:
                          - Não sabemos qual a opinião dos presidentes dos concelhos vizinhos. Quanto a nós, poderemos responder-vos dentro de algum tempo, após o despacho  do governo sobre a nossa futura informção e proposta. Porém ainda teremos outra pergunta, antes de escutarmos as vossas, e que irá ser apresentada pelo vice-presidente desta autarquia.
               O vice-presidente, um indivíduo baixo, atarracaco, de aspecto sanguíneo mas com fama de pessoa justa, carácter afável e bondoso, olhou de imediato para um folha A4 à sua frente e disse, dirigindo-se a Manuel Guedes:
                        - Já falei uma ou duas vezes com o doutor Guedes. Fiquei com boa impressão a respeito  de todo o trabalho que os funcionãrio da fundação vêem deseenvolvendo aqui na autarquia. Depois do nosso último encontro, troqiei algumas ideias com vereadores doutros concelhos. Vê possibilidade de funcionáios doutras câmaras poderem iniciar uma acção semelhante  nesses concêlhos vizinhos dêste, acha que isso será possíel?
                       - Seria ótimo, seria óptimo. No entanto devo lembrar-lhe que, de acordo com a resposta da doutora Júlia a uma pergunta semelhabnte do senhor presidente desta câmara quando nos visitou, êste é um trabalho delicado. Continuamos a exigir que os distribuidores devem ser bem seleccionados e possuir a formação devida. No que a fundação poderá colaborar. Por outro lado também deveremos estabeleer algumas regras de comum acordo, por exemplo sobre os salários. Julgo que o senhor tem uma opinião formada sobre a forma e a boa disposição que reina emtre os distribuidores, falou com alguns deles  e decerto avaliou o interesse, entusiasmo e dedicação com que actuam. Por isso temos um cuidado especial nas entrevistas prévias que efectuamos antes de contratar alguém - e o presidente da cámara disse:
                      - Bem, chegou a altura de escutarmos as vossas perguntas.
              Foi a vez de Fernando responder:
                      - Como sabem, a fábrica de pão e drivados está a funcionar, o nosso primeiro ponto de venda está aberto ao público e o sistema de pagamentos através da central de méritos começou a funcionar, com boa aceitação. Segundo o nosso contencioso nada  existindo na lei que o impeça, pensamos divulgar o mesmo sistema a todas as pessoas que o queiram seguir, isto é,  todas as pessoas que desejem fazer compras no ponto de vendas da FAP através de méritos que antes adquiriram. Que vos parece, vêem algum inconveniente?
(continua)

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Folhetim - Sonho de sorte - 96 -

                       -  A quem dão menos?
                       - Aos que usufruem do subsídio de desemprego e sem família a sustentar. Todos os casos são ponderados e controlados, antes da primeira dádiva e, posteriormente, todos os mêses.
                        . Por quanto tempo poderão continuar a beneficiar tanta gente?
              Júlia consultou de novo  os seus dicumentos e respondeu:
                        - Temos fundos suficientes par amanter o mesmo nível de auxílio e de despesas próprias durante os próximos doze meses. Todavia as nossas receitas poderão ampliar muito  êsse período. Depois, se tal vos interessar, voltaremos a êste assunto para mais esclarecimentos.
              Um dos vereadores perguntou:
                        - Mantêem-se as vossas fontes de receitas, de prémios e ganhos em jogos?
                        - No mês passa não tivemos receitas dessas - disse Fernando.
                        - Quer dizer, a sorte abandonou-vos, foi de férias em Agòsto?
                        - Não, senhor vereador, não sabemos se a sorte nos abandonou. Quando não se joga, não podemos ter prémios. E mesmo jogando, todos sabemos que a sorte é caprichosa...
              Naquele momento o vice presidente fez-se ouvir:
                        - Permitem-me senhores directores que vos faça uma pregunta sobre a vossa contabilidade?
                        - Com certeza, não temos segredos na nossa actuação e muito menos na nossa contabilidade. Seguimos o modelo que julgo que na vossa autarquia também é seguido, o modelo do plano nacional de contas - respondeu Júllia, com uma expressão levementei irónica.
                        - Sim, senhora directora, sabemos que cumprem a lei nesse ponto. Mas o que eu lhe quero perguntar é: mencionam sempre a proveniência das vossas receitas?
                        - Agradecemos-lhe, pode crer que possamos esclarecer êsse ponto. Cada receita que temos, qualquer que seja a sua proveniência, vem sempre acompanhada, sem excepção, dum documento passado pela entidade pagadora ou, sendo mais precisa, dum documento passado pela entidade que nos entrega o prémio, donativo ou ganho, documento mencionando a proveniênicoa e a quantia dessa entrega. Desta forma, nunca houne nem haverá qualquer possibilidade de a fundação receber fundos ou dádivas provenientes de paraísos fiscais ou "off. shors".
            Outro vereador, parecendo ter despertado naquele momento, disse:
                         - A senhora directora referiu-nos que os vossos fundos vos permitirão agentar o barco por mais um ano. Beneficiram até agora uma camada considerável da população desta zona e criaram em todas essas famílias uma expectativa para o futuro. Será terrível se as tiverem de defaudar ou desuludir, passado êsse ano. Sem qulquer espécie de reticência ou comparação malodosa, na nossa autarquia não desenvolvemos acções junto do povo, com pouca consistência, não projectmos para vários anos o que as nossa disponibilidade só permitem executar durante doze meses. Não nos leve a mal, poderá esclarecer-nos sobre isto?
             Júlia dirigiu a Laura um sinal quase imperceptível, antes combinado, para que tomasse a palavra e Laura respondeu:
                        - Permita-me que lhe responda, senhor vereador. As previsões orçamentais estão dentro das tarefas que me estão distribuidas na fundação.Como os senhores bem sabem, não existe um único orçamento anual que seja mantido, cumprido à risca e que não
esteja sujeito a contigências. Para isso os governos dispôem dos orçamentos suplementares e as empresas dos chamadoa ajustamentos orçamentais. Quer uns quer outros, todos
sabemos como se elaboram. O que é  mais importante, na fundação êsse ponto foi muito discutido, não é descobrir artifícios ou formas de encobrir, com números cozinhados, a realidade. Mas sim descobrir, criar novas soluções que permitam dininuir a possibilidade de insucessos. Estamos, creiam, com muita fé nêsse caminho.
                       - Desculpe a insistêndia - disse o mesmo vereador - mas que soluções são essas que tragam mais entradas de milhões de contos nos cofres da fundação?
(continua)                      
                                                
                                                   

terça-feira, 24 de abril de 2012

Folhetim - Sonho de sorte - 95 -

                 Aprovada a proposta, Júlia disse:
                           - É a tua vez, Laura.
                           - Todos temos conversado sobre a boa disposição, o gôsto, o prazer que sentimos, no que aqui fazemos. Não sabemos ainda o que sentem os distribuidores sobre a sua actividade , sobre o emprego que aqui têem. O Manuel Guedes disse-me que muitos dêles lhe comunicam o mesmo: que saem para as suas casas no fim do dia, mais bem dispostos do que quando aqui chegaram de manhã. Que nunca tiveram um emprego que lhes desse maior prazer, "et cetera". Não sabemos avaliar a sinceridade com que o dizem, estão a falar para o chefe ou para um de nós, é provável que ainda tenham algum reeceio de perder esta sua ocupação, muitos ainda sofrem do trauma provocado pelo despedimento do último emprego. O que não temos a menor dúvida é que, se são sinceros, êsse será o estado de espírito ideal. A minha proposta é que contratemos dois ou três jornalistas isentos. Que, por exemplo, poderão ser indicados pelo director do jornal do norte que nos visitou há pouco tempo. Fariam aqui entrevistas com perguntas do género "que preferiria, o emprego que têem  ou outro igual ou melhor na remuneração, que outro trabalho preferiria dentro ou fora da FAP. Entrevistas em todos os sectores da FAP, que poderiam ser publicadas naquele jornal e que nos serviriam para avaliarmos o ambiente que se vive na fundação e para corrigirmos, se necessário, as nossas directivas. Venho portanto propôr que se iniciem desde já essas entrevistas, convidando tâo breve quando possível,  os jornais e os jornalistas que se interessarem.
                 Houve concordância geral. E o Manuel Guedes acrescentou:
                        - Julgo haver concordância, entretanto ainda sugiro que nós, os da direcção, continuemos a fazer as nossas sondagens sobre o mesmo tema.
                 Ao que Fernando respondeu:
                        - Concordo. E apresento mais outra proposta, em complemento: que nessas sondagens se faça a pergunta relativa às férias. O nosso centro de investigações, tal como foi decidido, encontra-se em actividade. Iniciou-se como sabem, pela investigação do que podemos fabricar  com farinhas de cereais, Contratámos um investigador de renome internacional e dois auxiliares, além dos colaboradores necesários para a fábrica. Para fecharmos esta reunião, existindo concordância para as propostas apresentadas, finalizo lembrando-vos que na segunda feira teremos a reunião na câmara na margem sul do Tejo.

                                                       
                                                                    #####

                  Não poderemos no nosso país acabar com a pobreza? Não poderemos no nosso país, organizar a distribuição duma parte da riqueza que entra nos cofres de Estado? Porque não nos reunimos para que se discuta e encontre êsse caminho?
                  Portugal não necessita de couraçados, nem de subsidiar a inactividade de todas as mulheres e homens que ainda têem capacidade e vontade de ser úteis.




                                                                      LXI

                 Quando a direcção da FAP foi recebida pelo presidente da autarquia na margem sul do Tejo, estavem também presentes seis vereadores.. Depois dos cumprimentos da praxe, o presidente iniciou o diálogo:
                          - Senhores directores da FAP, estamos aqui reunidos para, de acordo com o que combinámos, procurarmos definir e estebelecer uma forma do colaboração da autarqia com a fundação que os senhores dirigem. Primeiro proponho que nos respondam a algumas perguntas sobre a actividade dos trabalhadores ao serviço da fundação, nesta zona.. Depois escutaremos as vossas questões.
                Os directores  e sub-directores da FAP presentes concordaram e o presidente iniciou as perguntas:
                        - Quantas pessoas trabalham actualmente  da fundação?
               Júlia, e os seus coompanheiros, abriam os "dossiers" que haviam preparado para a reunião, nos quais figuravam respostas para as perguntas mais prováveis. E respondeu de imediato:
                        - Contando connosco, a FAP tem no presente cento e vinte e oito colaboradores ao seu serviço, sendo cêrca de sessenta por cento do sexo femnino.
                        - Quantos ganham o salário míniimo?
                        - Nenhum. O mínimo que usufruem os nossos colaboradores é de cem contos por mês.- disse Júlia.
                       - Se não é segredo, quanto ganham os directores?
                       - Não temos segredos, poderemos tê-los no futuro e resultantes das nossas investigações. O vencimento actual dos diretores é de setecentos e cinquenta contos, valòr que declaramos para impostos e contribuições para a segurança social.
                      - Na acção de distribuição de dádivas, quantas pessoas beneficiaram e baneficiam agora, com que frequência o fazem e que valôr entregam de cada vez?
                      - Os beneficiados recebem entre trinta e cinquenta contos por mês, os valôres mais altos para os que não têem outros rendimentos, nem recebem sequer o mínimo que o Estdo entrega actualmente. Até hoje beneficiámos cérca de quimze mil habitantes dêste concêlho.
(continua)   
                                               

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Folhetim - Sonho de sorte -94 - autor Alberto Quadros

r             No fim da sobremesa a conversa continuava animada, os filhos não perdiam o interesse. Foi a vez de António pergunstar:
                       . Pai, o livro de história diz que a civilização grega era melhot que a romana, que nos deixaram muito mais, melhores obras, melhores construções, melhores e mais esculturas e muitas outras coisas em que os romanos, em mil anos, foram muito inferiores.
                       - É verdade. Mas uns e outros serviam-se de escravos que trabalhavam para seu proveito. Mais tarde, na idade média, como também deves ter aprendido, os senhores feudais eram servidos pelos servos da gleba, com algumas leis relativas ao trabalho e decididas só por êles, algumas bem piores que as dos gregos e as dos romano. Daí para cá, até ao século dezanove, a esvravatura manteve-se. Atenção, hoje ainda se mantem nalguns países, embora por vezes suavizada com algumas leis protectoras, leis que  têem a pretensão de mudar de forma mais branda o nome de escravos para o de trabalhadores. Nem sempre trabalho tão duro, é verdade, mas em muitos casos roçando a mesma condição. Nêste, como em muitos outros assuntos, é bom desfazer alguns mitos, referir e esclarecer a verdade dos factos.
            António, ainda bem desperto, fez nova pergunta:
                     - Oh pai, na fundação não há trabalho escravo? Ouvi a mãe dizer que há lá tipos que chegam a trabalhar, desculpa, o ocupar.se mais de doze horas num dia no que lá fazem!
                     - É mesmo onde eu queria chegar.É que nenhum dêsses tipos, como tu lhes chamas, ocupa doze horas num dia e numa tarefa, por obrigação. Julgamos que ali o faz por gõsto. Que gosta do que faz, tira  prazer, agrado e satisfação dessa actividade. Como nós, o teu pai e a tua mãe sentimos no que fazemos na fundação. Ganhamos na FAP o mesmo que ganhávamos , em escudos, na fábrica de acessórios. Contudo, na fundação ganhamos muito mais. A satisfação que obtemos com o que fazemos é muito maior, tem um valor muito maior que o do dinheiro que ganhamos. Valôr que não se pode avaliar em ouro ou em escudos, ainda não existe um um valõr comparativo, mas para nós tem um valõr incalculável, incomparável, é um valôr que não perdemos, não queremos perder. Ao fim de cada mês trazemos para casa o dinheiro nossos vencimentos. Podemos usá-lo bem ou mal, podemos ser mal compensados. Porém, ao fim de cada dia de ocupação na FAP, regressamos a casa com muito mais, com un contentamento especial, que nos faz vibrar por dentro, que nos engrandece a alma, porque sentimos que estamos lançando algo de novo, que pode melhorar a condição humana. É um valôr adicional  da nossa ocupação que ninguém nos pode roubar e que cada dia nos ajuda mais a vencer e suportar qualquer contrariedade que a vida nos pode trazer.

              Francisco encostava a cabeça ao braço, não resistindo  ao sono. António, ambora ainda algo atento, já pouco domínio tinha sobre as palpebras. Júlia, embevecida, amamentando Carolina, escutava Fernando e sorria-lhe meneando a cabeça em sinal de concordância. E disse:
                        - Fernando, querido, está na hora de levar os meninos para o vale dos lençõis, se quiseres continuaremos amanhã ou noutro dia. Olha que me interessa ter mais conversas sobre o que disseste.



                                                                      XL

            Dos 7500 beneficiados que se haviam inscrito para o novo sistema, poucos mais de 5000 confirmaram a sua intenção, no inquérito que os distrbuidores efectuaram até finais de Setembro. A maioria preferiu optar pelos depósitos de dez euros depois de receber a dádiva, na distribuição seguinte, em finais do mês.
            A fábrica de pão e derivados, ao fim dos seis primeiros dias de Setembro atingira quase metade da capacidade de laboração. A instalação da maquinaria para fabrico de massas alinentícias e derivados, terminaria em meados do mês, começavam a efectuar-se os ensaios necessários.
         
           Na primeira reunião da direcção, Fernando com grande entusiasmo , disse:
                           - A fábrica de pão vai de vento em pôpa, a ampliação está quase pronta, conhecemos o que temos vendido e facturado, em méritos, até hoje. Quase todos os dias provamos novos produtos derivados e ensaiam-se outros. Os resultados têem sido muito encorajadores. Proponho que iniciemos de imediatso a montagem dos outros pontos de vendas da FAP, para o que peço que a Júlia nos informe sobre as perspectivas e estado actual das nossas finanças.
                           - O saldo dos depósitos bancários em nome da central, tem aumentado todos os dias. Êste saldo permite que os novos investimentos propostos por Fernando, avançem sem qualquer incómodo: as despesas estão calculadas e podem ter luz verde. - E Júlia acrescentou - Entretanto parece-me que devo rever o preço do pão, preço que está muito baixo. Não havendo dúvidas e seguindo a ordem do dia, o Manuel Guedes vai apresentar-nos uma proposta.
                           - O problema dos roubos aos distribuidores tem-se mantido, embora bastante atenuado - e o Guedes continuou - brevemente teremos um escritório na zona central da cidade, que seervirá de base para a actuação dos nossos distribuidores na margem sul do Tejo. Propomos que êsse escritórios possa também ser utilizado para a entrega dos donativos. A cada um dos beneficiados, não inscritos na CM, poderemos entregar um cartão com banda magnérica de identificação, cartão que o serviço  de informática emitirá. Êsse escritório terá um leitor digital e leitor de cartões. O beneficiado irá ali identificar-se e receber o seu cartão.                    
(continua)

domingo, 22 de abril de 2012

              Einstein demonstrou-nos que o espaço, o espaço universal, é curvo. Que uma nave viajando e seguindo uma linha recta, acabará por chegar ao ponto de partida.
              Não sei se êle demonstrou que o tempo também é curvo. Com a conclusão que no fim do tempo, estaremos de nôvo no princípio do tempo.Que então será como se quem nasce, quando morre volta a nascer.
              Quando se desfaz um embrulho desconhecido, quando se abre uma porta não sabendo o que estará lá por detraz, até, quando crianças, partimos pela primeira vez um ôvo, não sabemos o que tem lá dentro.
              E o tempo, é um embrulho desconhecido, uma porta por abrir sem sabermos o que está lá por detraz, um ôvo ainda por descascar. 

Mais sobre o tempo

               Há alguns anos a RTP apresentou-nos um programa que relatava uma viagem espacial, numa nave viajando à velocidade da luz, ao encontro de outras galáxias, doutros sois e doutros planetas. Sempre dando-nos imagens do espaço que percorría a nave, o seu comandante, um cientista conhecido, relatáva-nos e dáva-nos pormenores sobre tudo o que atravessávamos, especulando com frequência sobre a possibilidade de encontrarmos nessa viagem, outros planetas habitados. O que não aconteceu. E, no último episódio, apresentou a sua teoria que justificaria a ausência de vida, tal como a temos e conhecemos na Terra. Dizendo que o tempo, tal como o conhecemos, é de dimensão infinita. O tempo de vida do nosso planeta  será de muitas ccentenas de milhôes de anos e o da estrEla que nos ilumina, o Sol, também de muitas centenas de milhões de anos. Que êsse período de tempo de vida do Sol, é uma fracção ínfima do tempo,  fracção que apenas se pode indicar como um infinitésimo. E que portanto a probabilidade de encontrarmos, dentro doutro sistema solar, outro planeta  habitado que coincida o seu tempo de vida com o do Sol será também a doutro infinitésimo. Portanto, ser quase impossível a existência doutra civilização, iluminada por outra estrêla,  ao mesmo tempo que a nossa.
            Quase impossível, não esqueçam.    
            Como tantas coisas que aconteceram.                     

Folhetim - Sonho de sorte - 93 -

                                                             XXXIX

                Aquêle Agôsto decorria quente e húmido, convidando a descanso, a férias. Mas raros foram os colaboradores a solicitá-las, porque só Mariana, a primeira administrativa e João Pedro, o primeiro distribuidor, tinham direito a férias. Porém, as tarefas eram tantas, tão absorventes, gerando tanto entusiasmo e agrado que poucos pensaram nas férias. Júlia, após o baptizado, no regresso a casa com o marido e os filhos, lembrou:
                            - Fernando, reparaste que poucos pediram uns dias de férias, nem os primeiros que colaboraram connosco, a Mariana e o João Pedro?
.                           - Olha Júlia, apesar dêste calor nem eu me tinha lembrado - e os filhos, não deixando os pais prosseguir:
                            - Mãe, já tínhamos perguntado ao pai onde vamos passar as férias - disse o António.
                            - Eu também tinha perguntado â mãe o mesmo - asseverou o Francisco.
                            - Bem, estamos chegando a casa, são quase horas de jantar, nem disse à Lúcia o que queríamos dentro das panelas à nossa espera. Que preferem os meninos, falamos das férias ou jantamos primeiro?
                            - Quem vota pelo jantar levanta um braço - acrescentou Fernando.
                            - Parece que empatámos. Falaremos das férias enquanto jantamos.
                Seguindo a tradição o jantar resumia-se quase sempre a uma sopa rica de vegetais, pobre em gorduras e uma sobremesa de doce de frutas. Mas a Lúcia tinha caprichado e, conhecendo as preferências dos rapazes, apresentou um belo empadão, bem tostado no fôrno, desculpando-se:
                            - Como eu sei que a Caarolina deve estar cheia de fome e é muito exigente no leite da mamã, lembrei-me que a senhora precisava dum bom alinento. - Júlia não a deixou continuar, sabia que a Lúcia tinha sempre a corda bem desenferrujada.
                            - Meninos agradeçam à Lúcia êstes cuidados, E vamos então ao assunto das férias, que dizes Fernando?
                            - Primeiro quero dizer que só hoje, Júlia, depois que nos falaste das férias, só hoje reparei, com imenso contentamento que poucos dos nossos colaboradores se referiu às férias.
                            - Mas pai, ficas contente por êles não quererem férias?
                            - António, estavas entretido com o empadão, não onviste o que eu disse. Claro que para nós todos na fundação, as férias ou antes, a pausa de alguns dias na colaboração e na actividade, é importante. O que nos agradou foi verificar que ninguém na FAP parece ter perdido o entusiasmo e o interêsse pela sua ocupação. E se essa atitude se mantiver, melhor ainda nos sentiremos. No entanto acho que todos deverão gozar os seus dias de férias.
                 Foi a vez do Francisco contribuir para a conversa:
                           - Pai, nós temos várias férias por ano.
                           - Claro, as férias constituiem um direito de quem trabalha e, no vosso caso, dos estudos. Os colaboradors da FAP têem igual direito. No entanto, o que pretendemos na FAP é que todos os nossos companheiros pensem no que fazem lá como uma ocupação, uma actividade destituida  dos anátemas, das penas atribuidas ao trabalho. Ainda hoje, é ou não verdade que quando se fala em trabalho, muita gente associa-o à ideia dum sacrifício? Por isso o ideal será que as férias, para todos, sejam encaradas como um descanso, uma pausa nessa ocupação. Que o trabalho  seja escolhido por cada um no que mais goste de se aplicar, de fazer, de se ocupar. Da mesma forma quando vocês gostam e se interessam pelo que estão estudando fixam tudo com maior facilidade, é ou não verdade?
                            - Mas pai - disse o Francisco - falaste de pausas, eu só aprendi pausas na música!
                            - Tens razão. Na música, pausa é uma suspensão breve, um intervalo de silêncio, entre duas notas. Mas pausa também significa intervalo e as férias mais não são que um intervalo entre dois períodos de ocupação ou de trabalho, Francisco, tu e o teu irmão não estão estudando nas férias. Estão numa pausa ente as vossas ocupações escolares e têem-na para vós próprios, para vosso benefício. Enquanto que o trabalho, faz-se quase sempre para benefício doutros. Desde is gregos, dos egípcios, da idade média e até ao presente. O futuro trará com certeza grandes diferenças, espero que no futuro, o trabalho, aquilo a que hoje em geral se chama trabalho, venha a ser uma obsolescência.
                            - Pai, o que é uma obsolescência?
                            - É o conceito de tudo o que é obsoleto, antiquado, inusitado.
(continua)

sábado, 21 de abril de 2012

Folhetim - Sonho de sorte - 92 -

                Júlia, lendo a proposta, comentou:
                         - Porpõe aqui que alguns funcionários das autarquias locais acompanhem os distribuidores, depois que se inicie a experiência. Eu concordo mas gostaria de saber para quando vamos propôr esta colaboração, quantos funcionários da câmara colaborarão e por quando tempo andarão com os distribuidores.

                Naquele sãbado, o padre da igreja local baptizou Carolina num altar improvisado numa das salas que a FAP permanentementie tinha reservada para diversas cerimónias. Seguidamente a família de Carolina e todos os convidados passaram ao refeitório onde se juntaraam a todos os colaboradores da FAP, iniciando o almoço volante.
                Numa sala anexa ao refeitório, desde as nove horas procedia-se, na central de méritos,  ao registo individual de todos os colaboradores da FAP presentes. Júlia, antes do baptizado, havia informado os convidados que poderiam inscrever-se na CM, resumindo as vantagens que teriam na adesão e frisando bem que todos os que se inscrevessem o fariam de livre vontade.
                No refeitório e duirante o almoço, o tema dominante das conversas nos diversos grupos que se formavam, era o tema da central de méritos. Júlia e Fernando andando numa roda viva dum grupo para outro, informando, esclarecendo, tirando dúvidas ou sorrindo aqui pela última anedota política ou por ali, participando em animada discussão.
                O chefe dis distribuidores interrogou Fernando:
                         -Engenheiro Garcia, un dos vossos convidados levantou-nos uma dúvida muito interessante: os artigos que são trocados por méritos, nos pontos de venda, estão ou não sujeitos ao IVA?
                         - Claro que estão, senhor José Estêves! Como sabe, embora por vezes discordemos, em nada fugimos nem devemos fugir à lei. Quando calculamos o preço de venda, uma das parcelas é o IVA.
                          - Daí surge outra dúvida, como pagaremos o IVA às finanças?
                          - Com parte do dinheiro que a CM recebeu, dado que, nesta fase, quem compra nos nossos pontos de venda, antes terá de comprar méritos, como hoje quase todos o fizeram, estavam prevenidos. Os beneficiados que participam nesta experiência, depois de receberem os donativos da FAP tamvém entregarão o suficiente para adquirirem alguns méritos.
              Num grupo, de convidados para o baptizado,  um dêles perguntou:
                          - Fernando, esclarece-me, Eu ainda não me inscrevi na central de méritos, vou fazê-lo mas tenho uma última curiosidade. È no qu respeita ao crédito: a vossa central de méritos também concede crédito? Por exemplo, quem chega ao fim do mês e não lhe sobram méritos para comprar pão?
                          - Rafael, concedemos crédito em méritos aos nossos colaboradores. Aos beneficiados e aos estrnhos à FAP, só por excepção. Lembro-tre que estamos iniciando uma experiência, lembra-te de todas as vantagens do sistem. Olha que não nos esquecemos de todos os inimigos que irão surgir, alguns já os conhecemos, outros poderão surgir.

                  Findo o almoço, Júlia levantouse, subiu a uma cadeira, com um gesto pediu silêncio e disse:
                           .- A direcção agradece a todos os que vieram inscrever-se na central de méritos -  e olhando para uma folha A4 que segurava, acrescentou: estão inscritos na central de méritos setenta e um colaboradores e doze convidados. Na próxima semana iniciaremos a inscrição e recolha de dados dos beneficiados que participarão na experiência. Até esta data - disse Júlia continuando a ler - entregámos cento e sessenta e um méritos à central, o que representa um valôr médio de quase vinte méritos por cada inscrição. O respectico valôr em escudos será depositado numa conta que abrimos em nome da central, no mesmo banco que a FAP vem utilizando, Mais uma vez agradecemos a vossa confiança nêste projecto.
(continua)        

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Folhetim - Sonho de sorte - 91 -

             O vice presidente não quis perder a ocasião para falar:
                      - Como disse o senhor presidente da câmara, também não acho possível entrarmos num sistema sem dinheiro. Por exemplo, como faríamos as importações?
                      - Lembro-lhe senhor vice presidente o que já referi: transitar para êste novo sistema não será da noite para o dia. Desde que se implante numa cidade poderá propagar-se a outras cidades e a todo o país. Estou convencido que em menos tempo do que demorou a adpção da moeda. - E Fernando continuou - Quanto ás importações, nesta fase terão de ser pagas com divisas. Porém, no programa dos governos futuros deverá constar certamente a industrialização do país no sentido de em Portugal  se produzirem mais e mais produtos semelhantes aos que se importam. Os países que adoptem o sistema de méritos terão as suas centrais de méritos e poderá  caminhar-se para uma central de méritos europeia ou mundial. Surgirá a imaginação e a criatividade suficientes para resolver os problemas das importações e exportações. Tal como sucedeu com as tabuinhas que os banqueiros fenícios usavam nos seus "bancos" que mais não eram que simples  bancos que levavam das suas  casas para a rua, e onde realizavam os seus negócios pagando  as importações e outros contratos. Nêsse século e nos seguintes resolveram-se os inúmeros problemas que surgiram.
              O presidente abanando a cabeça em sinal de discordância, disse:
                      - Mas nós importanos tudo o que queremos!
                      - Sim, nas não pagamos as importações sem o recurso ao crédito bancário nacional ou da banca europeia, uma das razões porque temos um "deficit" enorme e que será muito dificil de anular.
                      - Diga-me engenheiro Garcia, de que forma será possível um governo sem dinheiro?
                      - Os governos terão as suas tarefas muito facilitadas. As mentalidades, com as reformas do ensino, evoluirão de forma sigificatica. O desemprego diminuirá de modo acelerado.
                      - Explique-me êsse milagre.
                      - Explico-lhe pela industrializaão acelerada para a produção de tudo o que o país importa, salva algumas excepções. Pela diminuição do número de horas de trabalho, por uma maior consciência de todos os calaboradores em qualquer tarefa, com formação adequada e honesta, de forma que todos colaborem naquilo em que gostam de se ocupar, pela eliminação progressiva de todas as formas de corrupção e de muitos roubos e assaltos, pela melhoria progressiva da justiça.
              Durante mais meia hora Júlia e Fernando responderam à avalanche de perguntas feitas pelos visitantes. Que se despediram não muito convenccidos.
             No regresso. o presidente foi comentando a visita à FAP:
                      - Aqui há gato escondido, vocês não acham?
             Um dos vereadores, que nunca se tinha manifestado  na reunião, respondeu:
                      - Parece-me benemerência a mais. As indústrias que êles estão iniciando bem como as lojas e toda aquela história do comércio sem dinheiro... Êles disseram que vão iniciar a experiência na princípio de Setembro. parece-me, senhor presidente, que devemos marcar a visita dêles à câmara na primeira segunda feira dêsse mês, pensando bem nas perguntas a fazer. Ourtro mistério é a quantidade de dinheiro que êles obtêem e gastam naquela fundação, não acredito que tenham tamanha sorte aos jogos!
              O presidente, que parecia mais entretido a mirar o Tejo enquanto percorriam a ponte, disse:
                      - No próximo ano temos as autárquicas. Está-me cá a parecer que dali irão surgir candidatos. Quando nos vierem vosotar têem de se confessar.

                                                                XXXVIII

             O baptizado da Carolina, a filha de Júlia e Fernando nascida em Junho, foi marcado para o último sábado de Setembro. Na véspera, na reunião da direcção, onde participava  o chefe dos distribuidores,  Júlia disse-lhe:
                     - O senhor transmitiu o nosso aviso de que amanhã, desde as nove horas e até às treze horas, todos os distribuidores interessados poderão fazer a sua inscição na CM?
                     - Transmiti, senhora doutora.
                     - Como sabe, não gostamos de ocupar qualquer sábado com assuntos da FAP. Abrimos uma excepção  convidando todos os que o desejarem, a participarem  no almoço volante que a FAP lhes oferece a partir das treze horas. Esta excepção foi propositada, porque procuramos reunir todos os colaboradors depois de efectuarem a sua inscrição  na CM, conforme os avisámos através da circular que distribuimos há dias. Assim  manteremos e renovaremos o convívio entre os que participam na obra desta fundação.
              Fernando, que nêsse dia era o moderador da reunião, disse:
                     - Passemos à proposta que Manuel Guedes tem para apresentar.
             Manuel Guedes tirou da pasta várias folhas factilografadas e, depois de as distribuir pelos participantes na treunião, informou:
                     - Esta proposta partiu duma iniciativa da direcção no sentido de estabelecer mais fortes relações com as autarquias locais. Para que a acção da FAP junto das populações tenhas os melhores resultados, penso que todos estamos de acôrdo que devemos procurar a boa harmonia, a maior frequência,  a maior franquezsa naquelas relações. Julgo que  se elucidarmos os autarcas sem quaisquer  convencionelismos ou segredos, ao fim de pouco tempo  obteremos o seu apoio incondicional e inestimável. Daí a razão desta proposta, que aliás vem ao encontro do interesse que o presidente da cãmara revelou.
(continua)