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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Sem dedos

         Nesta situação, é provável que fiquemos sem os dedos. E quem fica com os anéis ?  E eles pensam que não morrem...

Pois é

         Isto só vai com tiros.Pois é, o pior é se te calha a ti um tiro. 

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Uma história vulgar.

        Ela fora para Lisboa, para casa duns amigos do pai, para fugir á rotina da vida familiar. Sem o curso do liceu, pouco mais sabendo do que a mãe conseguira lhe ensinar: a fazer umas malhas, a fazer a cama sem deixar rugas, a uns cozinhados vulgares, a defender-se dos assédios dos namorados. Na capital procurou emprego, começou como mulher de limpeza num restaurante, resistindo bem às tentativas constantes dum dos comensais, que se dizia perdido de amor pelos seus cabelos frisados, (herança duma trisavó negra, de Angola, onde umas irmãs da mãe haviam herdado uma fazenda de café, no Quanza Sul), pela sua cor de canela e pelo seu corpo, como referia, de "miss" mundo.
        Após um mês de trabalho, um dos gerentes do restaurante reparou mais nela, na sua maneira especial de falar, na maneira fina do trato com os colegas, na elegância natural do andar e na simplicidade das respostas. Mantendo distâncias sem ferir susceptibilidades e demonstrando com naturalidade uma personalidade firme e  um profissionalismo consistente. Convidou-a então a aceitar a promoção para empregada de mesa. E passou, com certa frequência, a trocar com ela algumas frases, cada dia mais profundas, mais extensas, mais e mais íntimas. Ela aceitou o namoro, trocaram fotografias e recordações dos vinte e três anos de vida que ambos tinham.
         E experimentaram a troca de um beijo.
         Imaginem a continuação da história. Dá-la-ei um dia.
         Quando quiserem, se para tanto vos falhar a imaginação.

Termino hoje

      Termino hoje (faço tenção) com uma época de considerável preguiça. Na de escrever, de caminhar, de pensar. Como é que nos resignamos à insatisfação de fazer, de praticar, de usar o que nos agrada, apenas por preguiça, apenas ficando parado, nem sequer imaginando, nem sequer sonhando acordado. nem sequer contando vantagens como aquele brasileiro dizia para um amigo ainda mais pobre, sem um cêntimo para comer : "olha, hoje já vi os pasteis, as empadas e os croquetes que estão na montra daquela pastelaria".  

domingo, 24 de outubro de 2010

Vulgaridade

Sevilha- activo de Índias

         Foge à vulgaridade o que não é banal. Mas o termo é também é usado duma forma menos digna ou favorável, para apelidar o que se julga baixo, reles, indigno ou medíocre. Significados que podem pecar por defeito, outras vezes por excesso. E interessa referir que, como muitas outras palavras, pode depender do lugar, da circunstância, da época e por vezes até da moda vigente.
          Pode ser atirado o termo como uma ofensa.Entre amigos pode ser aceite com um sorriso. Dentro do uso cobarde, na ausência do visado, pode reforçar a maledicência.
Sempre que oiço alguém apelidar outro de vulgar penso que se emprega essa palavra com  pouco cuidado. Ninguém sabe o que vai na cabeça do outro com quem fala, ou que participa numa reunião.
          Isto vem a propósito do que se passa nessas reuniões, colóquios, assembleias, com muitas dezenas de participantes. Num parlamento, como o europeu, de mais de quinhentos representantes dos países da união europeia, quantos exporão as suas ideias e opiniões? A nossa constituição tem, pelo menos, dez vezes mais artigos que a dos Estados Unidos. O número de indivíduos que participaram na sua discussão e feitura foi na mesma proporção. E quantas boas ideias e opiniões não se perdem quando o número de participantes é de centenas?
           A tanto não chega a observação e a inteligência dos que nos governam.  

Um senhor carpinteiro

           Resolvi dar um arranjo nas janelas da minha casa, umas fechando mal, outras desiquilibradas nas dobradiças outras com problemas nas fechaduras. Assunto trabalhoso para o qual me sobra tempo e me falta habilidade. Não saio ao meu pai, que, oficial da marinha na reserva, montou uma oficina de carpintaria na casa onde vivemos até sairmos para o colégio, O pai montou uma carpintaria exemplar onde não faltava uma bancada comprida, ferramenta variada, tábuas e tabuínhas de madeiras diversas, torniquete, pregos compridos, pregos curtos, dobradiças, cordéis, arames de cobre, de ferro e de aço. Tudo bem penduradinho nas três paredes da divisão, nunca nada espalhado nas mesas, ou esquecido no chão.
           O desembaraço desenvolvido nos barcos e nas capitanias que comandara, revelava-se na feitura das marcenarias em que se empenhava. O quarto de dormir do meu padrinho, cunhado do meu pai, foi mobilado com um presente de casamento feito por ele naquela oficina. Lembro-me que eu, com seis ou sete anos e frequentando a escola primária, acordava ao som de marteladas, duma polaina alisando uma tábua ou da lixa eliminando imperfeições.
           Foram necessárias três agressões duma angina de peito - nesse tempo, com essa doença, era sofrer e calar - para abandonar a oficina. Onde nunca mais entrou, durante os seus últimos três anos de vida.
            Um dia, a caminho da escola, contei ao meu maior amigo de então, o Zé Santos, a história da oficina de carpintaria do meu pai. Do outro lado da rua onde morava o Santos, um marceneiro célebre em Portimão (era actor cómico amador, cheio de graça, de humor e de boa disposição), ao vê-lo, eu referia sempre a habilidade e a teimosia do meu Pai, nos trabalhos a que se dedicava. Até que um dia o Santos se voltou para mim e disse:
          - Não me mostras essa oficina do teu pai?
          - Sun, anda daí, anda  lá a casa que eu mostro-te .
         E lá fui mostrar ao Santos a carpintaria do meu Pai.Desse dia em diante, passámos muitos domingos na carpintaria.Sem fazer grandes obras mas sofrendo muitos entalões, cortes e feridas.

sábado, 23 de outubro de 2010

Sevilha e Jerez

Sevilha-margem do Guadalquivir








Jerez

        

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O orçamento para 2011

        Também me sinto no direito de dizer algo sobre o orçamento para 2011, do governo que temos.Em resumo, todos os analistas políticos, o nosso presidente da república, os responsáveis dos principais partidos políticos - PS,PSD e CDS, e muitos economistas, dizem que a não aprovação do orçamento trará consequências desastrosas para a nação, será muito mau para o futuro da nossa economia, etc.. Eu apenas apresento uma pergunta, uma dúvida : e não será ainda pior para Portugal, se o orçamento for aprovado? Não vi discutida esta alternativa nem apresentadas as suas consequências.
       A forma como este governo nos tem governado a economia e as finanças, levanta-nos suspeitas fortes de que piore ainda mais o estado a que chegaram.
       Oxalá que eu esteja enganado no meu raciocínio.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O meu descaramento

       Ainda não me sinto na idade em que o raciocínio me impeça o descaramento sincero, atencioso, sem maldade e sem ofensa.  

Difícil de esquecer o imprevisto aparecido

           É interessante olhar para o dia seguinte, sem pensar que isso é futuro. Não é futuro porque o futuro não se olha, não o contemplamos, não  o podemos descrever como eu posso descrever a cena daquele polícia que aponta a matrícula dum automóvel, etc.. Isto é apenas o que nos diz a razão . Contudo, para lá da razão há outra razão que a nossa razão desconhece, mas que o nosso espírito ou outro espírito, o do anjo nosso amigo, nos está soprando para dentro ou por cima de nós e que nos invade como um fluido de sabedoria desconhecida e o aroma de um perfume inolvidável que se imiscui na consciência e provoca e faz nascer novas ideias, conceitos, definições. Entre elas , um filme sem bobina, um video sem "cassete" e uma realidade de amanhã que se sobrepõe à realidade de hoje. E ali vejo algumas vulgaridades já conhecidas  do passado de hoje e de ontem e pouco mais, porque só por acaso o futuro de amanhã me trará algum insólito, algum improvável, algum fora da rotina duma quinta-feira deste outono tão igual a tantas quintas-feiras de tantos outros outonos.
           É difícil encontrar o imprevisto no futuro do dia de amanhã.Seria difícil não o esquecer.  Porem, só se o esquecer, amanhã serei contemplado com um imprevisto.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Repórter dum momento

       E eu mencionei antes a preguiça, porque não encontro o termo apropriado para faltar a um compromisso próprio, que se faz e satisfaz com gosto. Se uma constipação aguda me leva à cama, acompanhada por umas décimas de febre, não sinto a necessidade de escrever, que todos os dias sinto, se outra actividade importante não me preencha o tempo de que disponho. Porque, há tanto para descrever e encher e talvez enriquecer uma página! Arejar a imaginação, desfrutar do que o quotidiano nos oferece, imaginar o futuro daquele casal que cruza lentamente a rua, tão lentos que parecem querer poupar a sola dos sapatos, tão sérios que parecem ter esquecido que vivem, tanta resignação nas faces que parecem ter esquecido que há sempre futuro.
         Pouco custa ser repórter dum momento.
         Basta olhar.

As preguiças

          A preguiça é apelidada por alguns, de vício irreversível. É sustentada e afirmada por outros como   reacção natural ao trabalho insano e intenso.E por terceiros, como um intervalo saboroso por entre as agruras da vida e outras desfaçatezas que se inventam para a justificar. Para mim, espreguiçarmos-nos, constitui uma boa e quase involuntária relaxação quando acordamos. A preguiça, invocada de espírito aberto, é hipócrita, não é mais que uma desculpa lançada à pressa quando deixámos de cumprir uma promessa ou quando não cumprimos com o que a vida nos impõe ou nos obriga. E também serve para justificar a ausência orgulhosa dum pedido de desculpa substituindo-o  pelo "não tenho paciência para isso", ou por um "não estou virado para aí".
          A preguiça é como um parente por afinidade: invocamo-lo quando nos dá jeito.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Continuam os imprevistos

        Já  cá estou, pairando, flutuando, submergindo-me com o ímpeto dum submarino nuclear, por entre o emaranhado do futuro, do meu futuro dentro do futuro do mundo. O ar está límpido. o azul domina, a brisa diz-me que tudo isto , afinal, é real., não é sonho, porque num sonho nunca pensamos se estamos a sonhar, num sonho nunca emendamos os erros que pespegamos na mensagem. Continuo a ver as mulheres que saem e entram na praça, aquela gorda do terceiro esquerdo que rebola atravessando a rua, qualquer dia...olha, olha um tipo que se cruza com ela consegue pará-la, segreda-lhe um sorriso e da bola sai um braço que afaga a cara do tipo, com uma carícia. E eu, vestido e apinocado com cheviote e gravata verde feno, sento-me no meu  carro eléctrico e arranco. Sei para onde vou, vou para a apresentação do meu segundo livro, ainda não há um ano foi a apresentação do primeiro, que já começa a ser comentado, com críticas e apreciações desde  duas linhas de indiferença até artigos de coluna inteira,, não sei se intentando alguma polémica construtiva ou por simples obrigação profissional e sem a tendência imposta pela política do periódico.
         No futuro será sempre assim, encontramos realizados, os nossos desejo passados ? Seria um futuro muito simples, muito fácil. Não, não é assim, nem simples, nem fácil, os imprevistos continuam, felizmente, a suceder. E eu, de súbito entrei num deles e...

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Esse senhor

         Esse senhor que, no programa "quadratura do círculo"  de ontem à noite, disse, se bem ouvi, que a vida das pessoas no Chile nada vale, não sabia do que estava a falar, a barbaridade que dizia. Vá ao Chile, se puder com os seus companheiros naquele programa, que não reagiram quando ouviram aquela sua frase. Vá ao Chile fale com a gente que lhe for apresentada, e com gente da rua, que não conheça. E, porque no Chile tem um sistema político  baseado numa democracia muito mais antiga que a nossa, interrompida por uma ditadura muito menos duradoura que a ditadura que interrompeu a nossa., repare o que aquele povo tem mais que o nosso,na educação, na saúde, na justiça.E não só.
         E depois, quando regressar, comente o seu comentário de ontem à noite, na "quadratura do círculo".

Esperando

          Ficamos tantas vezes à espera do que a vida nos dá que nos esquecemos muitas vezes do que estamos a viver. Procuramos tanto o que ansiamos sem confiar e respeitar o futuro. Não sabemos apreciar o que a vida nos concede e concedeu no passado. E preocupa-nos tanto com o que a vida nos dará para alem da vida sem a gratidão devida pelo que ela nos ofereceu.
         Os cães, até quando estão a morrer, lambem as mãos dos donos.  

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Esse país, o Chile

,           Que povo o desse país, o Chile! Como se mobiliza, como se galvaniza, como se une quando um acontecimento prejudica aquela gente, como se alegra quando um sucesso  os beneficia! Uma filha nossa vive há muitos anos no Chile e conta-nos o que lá se tem passado, por todo o país, com aqueles 33 mineiros presos num buraco duma mina, a 700 metros de profundidade. As notícias de hora a hora que os jornais, as rádios e as televisões fornecem, com reportagens em todas as cidades desse país com mais de 3000 quilómetros de extensão, notícias  que têm mantido durante os sessenta e muitos dias que tem durado a expectativa, os cuidados e os esforços.
            É um país sujeito a tremores de terra fortíssimos, por vezes com intervalos menores que dez anos.
E a reacção desse povo é sempre a mesma: toda a população ajuda quanto pode, as autarquias e o governo, mobilizam tudo o que está ao seu alcance.
            Nessas ocasiões ninguém repara nos custos, no bem estar, na sua condição social.Essa gente tem mostrado ao mundo o que é a verdadeira solidariedade. Não praticam "tendencialmente" o bem. Fazem, quando é urgente  fazem, não discutem o que hão-de fazer,tendencialmente.
            Nós por cá, neste jardim, bem estamos necessitando dum terremoto ou de qualquer acontecimento que nos faça acordar desta "apagada e vil tristeza", deste marasmo em que a política dos nossos políticos nos meteram.
            Tendencialmente.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Elogios

          Que custa um elogio? nada custa, se é sincero. É um prego na consciência, se é hipócrita.
          Esquecemos com frequência elogiar quem o merece: uma criança, uma filha ou um filho, um amigo. E até, por vezes o merece um desconhecido presente. E esquecemos.
          Falamos muito da avareza vulgar, a do dinheiro ou dos bens materiais. Pouco referimos outras avarezas também importantes: a do elogio merecido, a do louvor devido, ou do aplauso sincero. Se não os usamos com as crianças, revelamos indiferença. Se não os referimos aos amigos ou aos desconhecidos, parecemos invejosos.
          É um vício que se cria, se conserva, e difícil de arrancar. E que tira o prazer que o elogio nos proporciona.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Raciocínios de criança(em 1934)

)          Vou descrever o que se passava há um ano e quando eu ia para a escola. Saía do quintal da minha avó, pela porta ao lado da cavalariça, seguia pela Travessa do Capote, atravessava a Rua da Ribeira, onde estava sempre o mesmo homem a gritar o peixe que havia na praça, seguia pela travessa da mercearia do senhor Vicente um senhor que eu, sem perceber, ouvia dizer que ao fim de sete tentativas tinha sete filhas; prosseguia pela Travessa Do União, onde estava o clube onde a minha mãe ia, mascarada, dançar no carnaval, num dia em que eu não ia à escola, voltava à direita pela Travessa da Cidade a rua onde se juntavam  todos os gatos e gatas da cidade , atravessava a Rua de Santa Isabel, aquela senhora que toda a gente dizia que oferecia rosas ao seu marido, que era rei, seguia pela Travessa das Duas Ruas, que me explicaram que assim se chamava porque a rua que vinha de cima desaguava  na travessa, dividindo-a em duas,cruzava a Rua Cinco de Outubro, o dia em que diziam que tinham sido implantada a república, uma planta que nunca me sabiam dizer qual era,  ia pela Travessa do Jardim Novo, que era muito mais velho que eu, já tinha uns dez anos passava pelo palácio Sarriá, o nome dum senhor que diziam que era um malandro dum espanhol que tinha deixado a família em Faro e o palácio aqui e também passava por aquele jardim onde num tanque uma cegonha estava sempre, sempre, a meter o bico comprido dentro da garganta dum lôbo e onde as pessoas se sentavam em  muitos bancos com azulejos, um deles com o Mouzinho de Albuquerque prendendo o Gungunnhana e outro com um senhor lendo um livro para outros senhores e num azulejo, azul como todos os de todos os bancos, estava escrito 1820 e " primeira constituição", nunca cheguei a perceber o que é que aqueles senhores todos ali constituíam naquele banco enquanto o Gungunhana, no outro, não acabava de se vestir para acompanhar o senhor Mouzinho. E então começava a descer a Rua Direita, que outros chamavam Miguel Bombarda não sei porquê, talvez porque ao dono da minha escola, onde eu chegava depois de passar a chapelaria  de homens e entrar, na primeira à esquerda, na Rua da Alfândega, talvez porque ao dono da minha escola, casado com uma senhora que tocava piano, a dona Clotilde, talvez, pensava eu, porque ao dono da minha escola, alguns lhe chamavam  Zé Bomba .  

A minha cara no espelho

            Estou na porta da sala e olho para mim, refastelado no sofá e vejo a minha cara que não recordo bem porque já a vi mais de trinta mil e quinhentas vezes no espelho da casa de banho mas esta cara que eu vejo, do corpo sentado no sofá da sala, não é a mesma que vi mais de trinta mil e quinhentas vezes lá dentro do espelho da casa de banho, não pode ser, eu não tenho nem tive esta cara, nem hoje, nem ontem, nem a que vi há trinta mil e quinhentas noites, nem a que vi dentro do espelho da barbearia da minha terra,quando me lembro de lá ter ido, por minha conta, por minha decisão inabalável e pela primeira vez  na vida,  cortar o cabelo :
         - Quer que ponha água ou bilhantina ?
 

domingo, 10 de outubro de 2010

Esquecendo

Sevilha - torre do ouro

         Deitei contas à vida, esqueci as contas com a sorte.
         Descontei o tempo que tive, sem pensar na conta futura.
         Tive a sorte de ter esperança, no céu cinzento da realidade,
         Sem contar o que perdi, os bons dias, os bons crepúsculos,
         Fixando o olhar no quotidiano, esquecendo a tua presença,
         Envolvido que estou, neste tempo, nesta saudade.

Foi há doze anos

Sevilha

  Vou andando pelas ruas do meu tempo, vou seguindo os passos do destino, fico parado esperando por esse tempo, deixo ficar os meus passos no teu regaço, e o tempo passa ficando aqui imperturbável, o destino cumprimenta-me e ri-se e volta-me as costas, abre o guarda-chuva da surpresa e veste-se com a gabardina do futuro pouco lhe importando os meus lamentos, porque te tragou naquele momento, como de costume sem aviso prévio, sem contemplações para com a minha dor.
   E foi ontem. Foi há doze anos.

Don Quijote dela Mancha

Sevilha - placa com El Quijote

Que sonhos teria Miguel de Cervantes para imaginar os sonhos e a fantasia do seu "Don Quijote de la Mancha" ?  A obra monumental de M. de Cervantes, alem de toda a fantasia e  de tantas  alegorias nela contidas, é também um glossário de provérbios, de conselhos e de máximas que nos fazem sorrir  página a página. Com frequência, na conversa amiga, ouvimos uma espanhola ou um espanhol, adornar os seus argumentos com os "refranes" do don Quijote. Um exemplo, que o meu sogro, castelhano, citava, quando vinha a propósito, na sua conversa ou quando erguia o seu copo de tinto : " el vino, don divino: limpia el diente, brilla el ojo y sana el vientre"

sábado, 9 de outubro de 2010

Medos sem razão, apenas medos

          Quando nos ameaçam com chantagem, com argumentos sem prova nem consistência, apresentando propostas imbuídas de motivos políticos, de corrupção, ou apenas acenando com cautelas escusadas, só cedemos se a covardia nos vence. Aconteceu com as gravuras de Foz Côa, perderam-se muitos milhões na obra já feita, muitos milhões nas indemnizações ao empreiteiro, muitos milhões na electricidade que deixou de se produzir na barragem do Côa, cuja construção foi suspensa. E havia solução que custaria uma pequeníssima percentagem do que se perdeu: as gravuras poderiam ter sido cortadas e colocadas num museu, lá por cima do rio.Tal como sugeriu um arqueólogo e cuja opinião até hoje não vimos contestada sequer de forma sofrível.Se se corta o granito, se se cortam os mármores e outras pedras que se retiram dos montes, porque não se cortaram aqueles xistos com as gravuras? Talvez porque estas eram falsas. Se sulcos talhados em granitos,se esbatem ao fim de algumas dezenas de anos, os sulcos gravados em xistos resistem a 5000 anos?Talvez o tempo acabe por provar quem tinha razão.Mas nessa altura, o que foi construído, daquela barragem (e que lá continua) já não poderá ser aproveitado. E alguém será responsabilizado ?  

Laços de ternura

      Que filme ! talvez a melhor atribuiçao de um oscar para uma actriz . O olhar da filha para a mae no momento que antecede a morte, duplica o valor do filme.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O que a razão nega

         Sem utilizar a razão nunca devo discordar.
         Com a convicção, combato contra o que a razão discorda.
         Sem utilizar a discórdia não devo admitir o que nego.
         Com o que nego não devo convencer a razão  

A nossa futurologia

     Penso que seria de mais interesse para os visitantes, que a futurologia que apresentamos fosse substituída por um conjunto de novelas, como o fez Júlio Verne, com enorme sucesso em todo o mundo. Ainda hoje, os seus livros são lidos com avidez. Ou por um conjunto de ideias para novas descobertas, que se coloquem na prateleira dos impossíveis ou impraticáveis. Assim aconteceu com muitos projectos de Leonardo da Vinci. Mas para avançar com a primeira alternativa, teria de ter tempo, e, o mais importante, conseguir a colaboração de muitos especialistas e cientistas que me auxiliassem na procura e no estudo das diferentes matérias envolvidas. E tempo para escrever, rever e publicar, as novelas ou livros de aventuras que suscitassem o interesse suficiente dos leitores. Para a segunda alternativa, igualmente me falta o tempo e o saber, para estudar tanta especialidade necessária para induzir e gerar essas descobertas. Assim prosseguirei como até aqui, apontando uns resumos do que o futuro nos possa oferecer.
     E, se a tanto me chegar a inspiração, poderei até escrever um ou mais livros dedicados cada um a uma
aventura no futuro, com um tema principal, baseado em algo de valioso que daqui a alguns anos possa facilitar a vida do homem na Terra.
  

Continuando na futurologia

      Terceiro.- nos domínios da genética os progressos da investigação conduzirão ao controle
mais e mais profundo dos genes e do genoma. A descoberta da substituição dos genes levarão
ao controle de muitas doenças e tendências hereditárias. O segredo das células meristemáticas, no
reinos vegetal, muito contribuirá para libertar o homem da fome ; e no reino animal para o libertar
de algumas doenças, para melhorar a assistência hospitalar, e de também para diminuir a fome e a
pobreza universais. Descubrir-.se-ão novas espécies vegetais, algumas muito mais resistentes aos
incêndios, outras de desenvolvimento mais rápido, permitindo restaurar a cobertura florestal do nosso
planeta.
       Quarto.- a investigação do cérebro e sistema nervoso levará a um melhor conhecimento das
suas capacidades. A memória será melhor controlada e aproveitada, a transmissão de pensamento
será uma das primeiras descobertas logo que se defina por completo onde se localizam todas as
funções e todos os poderes cerebrais. Aparecerá um código de todo o sistema nervoso permitindo
a reconstrução das zonas afectadas, após a descoberta das causas de doenças, como o alzheimer
e as que provocam a demência e a senilidade. A reconstrução do sistema ou parte do sistema
será uma realidade.
        Continuaremos.
que envolvem a demência

Nãos e nens

      Não é por muito escrever que se endireitam as linhas da vida.
      Nem é por muito falar que a língua melhora.
      Não é por muito navegar que um navio chega a bom porto.
      Nem é por muito andar que chegamos aonde queremos.
      Não é comendo do bom que alguém se torna melhor.
      Nem é vestindo um fraque que tu alcanças a sabedoria.
      Não é usando a lisonja que melhoras quem te ouve
      Nem ouvindo a que te dirigem, se és pobre, ficas mais rico.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Vamos ao futuro

        Desenvolvendo o tema da futurologia : comecemos pelos avanços que teremos nos domínios da saúde nos próximos cem anos.
        A investigação científica, na doença beneficiará a humanidade existente:
           Primeiro : libertar-se-á de progresso em progresso, de revolta em revolta contra os monopólios, contra a corrupção, de campanha em campanha, contra a submissão  da investigação aos grandes grupos económicos ligados à exploração dos resultados obtidos na investigação no século passado. Os diabetes por exemplo deixarão de afligir, como ainda afligem, dez por cento da população, constituindo uma doas pestes negras que atingiram as mulheres e os homens do século XX e princípios  do XXI.  A sua eliminação contribuirá para a diminuição doutros males que surgem com consequência dos diabetes, no coração, nos rins,etc.. A cura dos cancros dará passos decisivos, numa mais completa classificação e sua cura,  na melhoria das condições de vida dos atingidos, e na descoberta de novos e mais baratos fármacos utilizados. As descobertas que surgirão nos domínios da genética, representarão uma alavanca decisiva no combate a esses males.
           Segundo: a investigação no domínio da cirurgia, ligada à robotização que vai dando os primeiros passos, permitirá maior eficiência dos hospitais e menores custos para os pacientes. De descoberta em descoberta as intervenções cirúrgicas irão sendo simplificadas, os riscos de insucessos continuarão a descer, e os custos a diminuir, permitindo que as listas de espera diminuam. Aumentará a probabilidade dos grandes hospitais desaparecerem, surgindo em seu lugar clínicas mais pequenas, mais especializadas, com menores custos em pessoal por cada intervenção.
            Seguiremos noutro dia    

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O mal do dinheiro

             Ficam por fazer todos os projectos sonhados e por construir todos os palácios que o meu eu menino começou, ficam por anunciar todos os milagres que a pobreza de todo este mundo está exigindo a gritos e que as riquezas desperdiçadas e inertes nos cofres de todo este mundo, apodrecem sem sentido nem utilidade alguma. Ocupam espaço, num silêncio atroz, enchem paredes e prateleiras, apenas servem para despertar a cobiça dos funcionários que lá entram. A moedas em sacos e as notas em pilhas muito bem arrumadinhas aguardando a chegada de mais irmãs, fabricadas à pressa, cheirando às tintas e às máquinas mamãs que as deitaram para a circulação. Para nada mais servem, quando muito para circular de mão em mão, para irem para dentro duma gaveta, doutro cofre, para acenderem um charuto, ou para dentro dum colchão. E a isto chamam dinheiro!
             Mas por vezes um ladrão dum sinaleiro desvia-as para outro destino.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Fernando Pessoa

          Fernando Pessoa, uma das grandes riquezas de Portugal, que nunca poderá ser atingida
pelas crises, deu-nos muitos versos por vezes bem prosaicos, e muita prosa sempre poética.
"O livro do desassossego é um bom exemplo, para mim o maior. Lê-lo afasta-nos o pensamento
das esquizofrenias e paranóias desta vida.      

domingo, 3 de outubro de 2010

Vão crescendo

          Quanto mais vejo crescer os meus filhos, os meus netos e os meus bisnetos, maior é a esperança que me invade. De que o país onde vivam será melhor para eles, de que serão mais felizes do que nós fomos, de que estão no caminho da sabedoria que lhes permitirá levar uma vida dos seus espíritos,  independente.

Daqui a cem anos

       Neste e noutras mensagens, iremos especular um pouco ou um muito, se a tal nos ajudar a imaginação, sobre o que se passará neste mundo daqui por cem anos. Como evoluirá o mundo, como evoluirão a mulher e o homem, no conhecimento das suas origens, do seu mundo. na educação,
 na sabedoria, na procura da felicidade.
        Hoje procurarei apenas referir alguns pontos desta futurologia. Vamos a isso :
        1.- Os avanços na medicina curativa e preventiva, continuando na progressão geométrica
que se observou nos cem anos passados, levarão a mulher e o homem a uma esperança de
vida próxima dos 130 anos.
        2.- Depois da teoria de Darwin, pouco mais adiantámos na descoberta das nossas origens.
Parecemos ser primos afastados dos macacos, dos gorilas, dos chimpanzés. Mas alguns
milhões de anos antes da mulher e do homem aparecerem na face da terra, aqui viviam os
dinossauros e que muitos milhões de anos antes destes, só existiam plantas no mar e na terra.
Antes delas outros seres mais primitivos, algas, líquenes, musgos. E ainda antes, no princípio
da vida neste planeta, talvez apenas tenham aparecido alguns seres unicelulares.
         3.- O conhecimento das origens da terra ainda não foi explicado duma forma convincente. Provavelmente a exploração do espaço levará a uma teoria mais bem fundamentada.
          Hoje ficamos por aqui.

Saber

            Tão bom é sabermos fazer e apreciar um bom cozinhado como ter a alegria de elaborar um pensamento sobre a vida. sobre a amizade, ou sobre a felicidade.    

sábado, 2 de outubro de 2010

Neuroplasticidade

            Investigações recentes do neurologista Elkoton Goldberger provaram que o cérebro pode melhorar com a idade e que a actividade mental modifica o cérebro. Ao contrário do que se acreditava, o número de neurónios pode aumentar e o cérebro pode-se regenerar mediante o seu uso e potenciação.É o que chamam neuroplasticidade - que é moldar o cérebro através da actividade. Os taxistas,  músicos e outros profissionais,  pela prática contínua das suas profissões, mesmo em idades avançadas aumentam certas zonas cerebrais.E portanto:
            1.- Podemos criar novos neurónios, ao longo de toda a vida.
            2.- A capacidade para criar novos neurónios pode aumentar mediante o esforço cerebral.
            3.- Os efeitos são específicos dependendo da natureza da actividade mental, os novos neurónios  
                 multiplicam-se com especial intensidade em diversas zonas cerebrais e de acordo com as                
                 actividades mais praticadas.
        Acredito . Há cerca de um ano comecei a aprender a escrever sem olhar para as teclas do computador, o  que hoje já faço com regularidade. E, se repararem, a maioria das dactilógrafas, jovens ou não, ainda vão escrevendo usando apenas os dedos indicadores das duas mãos. Além de revelar pouca exigência, por parte de quem as contrata, revela também pouco profissionalismo.  

                   

Cozinha, escrita e música

         Uma nossa filha,  que vive no Chile, e que agora nos visita, está contemplando-nos com umas iguarias de receitas que trouxe daquele país, rico de tudo o que se pode esperar de bom fora de Portugal. Ela aplica essas receitas melhorando-as com ideias suas. Assim devem proceder, julgo eu os bons cozinheiros, saindo da rotina de seguir sempre à risca uma receita que emprega. Por isso um bom cozinheiro é sempre admirado pela originalidade dos pratos cuja confecção dirige.
         Também um bom escritor não deve seguir receitas, neste caso ideias, de outros. deve sempre acrescentá-las com mais condimentos, se a sua  criatividade mais não lhe concede.
         E também na música . Muitas obras que escutamos cantam as mesmas notas que muitos outros aplicaram nas suas composições. Mas a arte está em compor melodias diferentes, com as mesmas notas e por vezes até com  alguns curtos trechos semelhantes.
         Tal como eu agora, com esta desfaçatez estou comparando cozinhados,escritos  e receitas com ´sinfonias, prosa e serenatas.  

Voltei

       Após todos estes dias (desde o dia 16 do mês passado) retomo as minhas funções,deveres e alegrias de mensageiro deste blog. Já faz parte da minha vida, e quando nele nada escrevo assalta-me o remorso e cada dia que passa sinto a falta desse prazer, que o escrever nos traz. Mas a entrega do meu livro  --finalmente !-- a uma editora que o aceitou para publicação(a Chiado Editora) ocupou-me com a série de revisões a que tive de proceder. Alguns profissionais da escrita, em cujo grupo ainda não me incluo, libertam-se desse trabalho pagando essa revisão a outro profissional. A senhora Patrícia Reis fez-me o favor de me rever gratuitamente as primeiras vinte ou trinta páginas, aprendi e fiz a revisão do restante. Não sei se bem se mal, os que esportularem os 15 euros e adquirirem o livro, avaliarão a obra completa.