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quinta-feira, 31 de maio de 2012

Folhetim - Sonho de sorte - 131 -

                                                                      LXVII


                  Uma regra fora imposta no conselho de ministros: todos os temas, decisões, que implicassem represálias, retaliações, não constariam nas actas do dia, seriam considerados secretos e confidenciais. Qualquer notícia nos "media" sofreria de imediato um desmentido, de forma sumária, sem alarido, fechando a informação sem mais comentários.
                 O ministro do interior fora incumbido de exercer pressões e ameaças à FAP, dentro do objectivo de diminuição até à cessação, da influência e actividade da fundação, o que se iniciara com as fiscalizações. Exigiu resultados às direcções gerais implicadas, impondo compromissos em reuniões urgentes. Ficou no entanto muito desagradado quando as notícias que recebia de hora a hora lhe anunciavam que existia uma resistência crescente, empalidecendo efeito surpresa, ao mesmo tempo que as autarquias locais revelavam apoios inesperados à FAP. Chamou à pedra dois directores gerais da sua tutela e falou com outros ministros que participavam na manobra, procurando reunir forças e descobrir outros processos de ataque.
                No entanto a resistência aumentava, mais se revelando quando se soube que falhara a fiscalização à fábrica dos veículos eléctricos e que nos pontos de venda deparavam com obstáculos intranponíveis. De nada serviram as multas aplicadas, os fiscais encontravam sempre um ou mais advogados representando a FAP, que invocavam diversos artigos da lei e demoravam a passagem dos avisos e notificações com extensos argumentos, impondo o testemunho de muitos colaboradores e exigindo a elaboração de relatórios pormenorizados sobre cada inspecção efectuada.

                Júlia tinha a convicção de que se tratava de uma intervenção de natureza política, doutra forma não se expliccria a acção concertada que ameaçava a exlstência da FAP. Pelo que decidiu, de acordo com a direcção, comunicar pelo telefone aos jormaais, estações de rádio e de televisão, o que acontecia desde o princípio do dia. Pela internet enviou emails para todos os colaboradores, beneficiados e habittantes cujos endereços de correio electrónico constassem dos arquivos da fundação.Não caíu no êrro de convocar ou induzir qualquer manifestação, limitando-se a comunicar o que acontecia.
               No dia seguinte àquele em que a fiscalização selara a fábrica de pão, o contencioso da FAP foi convocado para uma reunião com a direcção.
                              - Doutor Manuel Macedo, conhece bem o que se passa. Que podemos fazer para contrariar a companha que nos estão movendo, campanha orquestrada sem que qualquer dos ministros dê a cara e nos acuse ou ataque? A fábrica de pão está selada, que poderemos fazer, que solução nos dá para tentar inverter esta situação?
                             - Eu e o meu colega conseguimos ontem suster a passagem de multas, o fecho e a selagem de portas dos pontos de venda, da fábrica de texteis e do restaurante. No entanto teremos de recorrer de imediato aos tribunais.
                             - Que medidas podemos tomar, doutor, medidas de efeitos imediatos, em particular permitindo a reabertura da fábrica de pão?
                             - Preparei um requerimento solicitando uma providência cautelar que irei apresntar ainda hoje no tribunal de Almada.
                             - Terá efeito rápido?
                             - Esperamos que sim. A providência cautelar implica uma apreciação sumãria através dum procedimento simplificado e tem por finalidade evitar lesões graves ou danos aos que a asolicitam. Se conseguirmos conjugar esta medida com alguns protestos populares, é provável que se obtrenham resultados a curto prazo. Aconselho entretanto algum cuidado, não será conveniente distribuir comunicados ou quaisquer panfletos convocando ou incitando manifestações de rua.

                 Manuel Macedo, o advogado que se dedicava a tempo interito ao contencioso da FAP, fora contratado poucos dias após a inauguração da fundação. Iniciara a vida profissional num dos maiores escritórios de advogados da capital. A intensa prática nos tribunais e a aplicação cuidada que dedicou às causa que lhe foram entregues, granjeou-lhe uma fama de vencedor e uma notoriedade projetada para fora do escritório. Júlia e Fernando conheceram-no quando defendeu com sucesso uma causa contra o proprietário da fábrica onde antes trabalhavam. Ainda não completara então trinta anos, era casado, pai de dois filhos. Destacava-se pelo farto bigode em contraste com a cara branca, bem escanhoada. Vestia sempre calças e casacos de cores claras e gravata azul escuro, dentro e fora dos tribunais.
                Em conversa amena, num dia em que almoçaram juntos, Fernando convidara-o para elaborar os estatutos da FAP e ocupar-se da direcção do contencioso  da fundação.
                            - O vosso convite vem mesmo em boa altura, estou de saída do escritório onde tenho trabalhado. Antes de discutir o seu convite quero que saibam porque deixo aqquele escritório.
                            - Doutor Macedo conhecemos o seu "curriculum"!
                            - Não se trata disso. Não tenham quaisquer dúvidas, saio por minha iniciativa, porque não me agrada continuar. Resumindo, não gosto de defender certos tipo de causas.
                           - Mas como sabe que na FAP não encontrará processos que não lhe agradem?
                           - Tenho informações sobre os objectivos que norteiam a vossa actividade. Parece-me admirável a vossa obra. Troquei algumas impressões com vários dos vossos  colaboradores, tenho reflectido sobre tudo isto. A minha esposa ajudou-me a decidir. Também é advogada, trabalhou comigo naquele escritório, foi a primeira de nós a sair, pelas mesmas razões que conduziram á minha decisão.
(continua)                                                          

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Folhetim - Sonho de sorte - 130 - autor - Alberto Quadros-

                                                                        LXV

            
             O ofensiva contra a FAP intensificara-se de forma concertada por vários ministérios e bem encoberta, sem publicidade nos "media", sem ordens de serviço internas on circulares comprometedoras.
             A actividade em todas as fábricas sofreu interrupções frequentes na semana seguinte, numa acção quase simultânea. O fabrico de pão foi interrompido ainda era madrugada, com a chegada da inspecção dos produtos alimentares. Um pequeno pormenor, um saco de farinha encontrado aberto por um dos inspectores, motivou a passagem de um auto de proibição de laboração da fábrica e a selagem das portas de entrada, às oito horas da manã dessa terça-feira. O gerente da fábrica, protestou com veemência junto dos inspectores enquando os acompanhava após o fecho das portas. Os protestos foram inúteis e os inspectores imperturbados, regressaram a Lisboa, sem responder nem sequer se despedindo. Às nove horas, muitas dezenas de clientes aguardavam impacientes a reabertura da fábrica e o início da venda de pão.
             À mesma hora outros dois inspectores entraram na fábrica dos automóveis eléctricos,. Porém aí, dois seguranças barraram-lhes a entrada até à chegada de Gabriel, que entretanto fora informado  pelo gerente da fábrica do pão, do que se passara. Lentamente examinou a identificação dos dois iinspectores e avisou-os:
                         - É norma desta fábrica não permitir a entrada seja de quem fôr, na zona de fabrico. Os senhores trazem uma ordem de inspeecção mas não podemos permitir que a iniciem sem uma declaração de responsabilidade que assinarão no escritório antes do começo do vosso trabalho - disse Gabriel, guardando os cartões de identidade num bolso.
                         - Uma declaração de responsabilidade? - exclamou um dos inspectores.
                         - Meus senhores, em todas as nossas fábricas e pontos de venda, exigimos uma declaração semelhante. Façam o favor de a ler e assinar, não é mais que uma segurança para vós e para nós, nem imaginão a quantidade de acidentes que aqui podem ocorrer...Se me permitem, num minuto, vou atender esta chamada.
              Era Fernando quem chamava. Com a voz um pouco alterada, alertou:
                        - Gabriel, dois inspectores fecharam a fábrica de pão, selando as portas. Do teu escritório telefonaram-me, sei que outros inspectores estáo aí, procura demorá-los e entretê-los o mais possível.
                        - Sim senhor director, vou tratar desse assunto - e pousando o telefone disse para os inspectores -  os senhores terão de aguardar até às seis da tarde, hora a que interromperemos os trabalhos.
               O mais velho dos inspectores, de forma um tanto irritada e alteando a voz:
                        - Já lhe apresentámos as nossas identificações temos de iniciar a inspecção desta fábrica!
                        - Pelas normas rígidas que aqui somos obrigados a cumprir, não é possível a vossa entrada antes do fim da tarde. Durante o trabalho, para segurança das visitas, não permitimos a entrada nas linhas de produção. Trabalhamos em dois turnos, a actividade dos nossos colaboradores só cessará às dezoito horas. Portanto adiarão a cossa inspecção para uma hora a combinar antes das oito da manhã ou depois das dezoito horas de hoje. Ah! Quando vierem, deverão trazer uma intimação que especifique a natureza da inspecção a efectuar.



                          
                                                                     LXVI


                       Regressei do Algarve, no hotel disseram-me que um telefonema da FAP me deixara a notícia de que todos os directores haviam saido para o exterior.
                       Durantoe os últimos meses  utilizara o comboio nas minhas deslocações a Lisboa. Com saudade de conduzir pela estrada, talvez porque nas últimas vindas à capital sentira o incómodo dos transportes públlicos, nessa viagem utilizei o meio de tranporte mais cansativo, menos seguro e menos económico, o automóvel.
                       Deixei a maleta no hotel, fui para a FAP. Sendo horas do almoço, entrei no refeitório esperando encontrar algum dos meus amigos. Informaram-me que todos estavam em Almada aceitando um convite do presidnte da câmara, para almoçar.
                       Sentia-se no restaurante um ambiente bastante tenso. O silêncio era quase total, ouviam-se os talheres, os líquidos a encher os copos, poucas frases ou risos. Os que entravam, antes de se dirigir ao balcão do "self-service", paravam à porta, admirados e surpreendidos pelo silêncio inusitado.
                       Perante o meu ar de admiração, a secretária da direcção relatou-me de seeguida o que se passara nessa manhã. Não quis aprofundar o assunto. No passsado, poucas palavras para além dos normais "bom dia" ou "boa tarde" havia trocado com ela. Apenas lhe disse - "se não se importa, depois falaremos mais" - e terminei o almoço um pouco embaraçado, o que me acontece quando estou à mesa com outra pessoa e decido não conversar.
                      Quando saí para o corredor, deparei com Júlia, Laura e Fernando, que regressavam de Almada.
                                - Sabe o que se está passando? Hoje tem material para mais um capítulo palpitante do seu livro.
                                - Sei o que me contou a vossa secretária Maria dos Anjos sobre as inspecções, O silêncio no refeitório faz-me suspeitar que o problema é sério.
                                - Falámos aos autarcas sobre as fiscalizações, em particular sobre as tentativas para nacionalizar e acabar com a FAP. Manifestaram inocência e discordância com o que se passava prometendo averiguar a proveniência e as intenções dos ministérios envolvidos. Durante o almoçpo referimos as consequências para os autaraquias, em particular para os cidadãos aqui vivendo. Sugerimos que a autarquia convidasse o primeiro ministro e todo o seu gabinete para uma visita à obra da fundação.
                                - Fernando, no vosso lugar insistiria com os jormais e televisões.
(continua)        

terça-feira, 29 de maio de 2012

Folhetim - Sonho de sorte - 129 -

             Ao meio dia, o Matos terminou a pesquisa. Até aí muito circunspecto, falando sério e cauteloso, quando parecia ir-se despedir disse, para nossa surpresa:
                    - Senhor Gabriel, meu major, não se lembra de mim? Em Angola estive sob o seu comando, no Zala!
                    - Bem me parecia que conhecia a sua cara. Mas olhe que eu subi de categoria, sou mecãnico chefe!
                    - O que lhe digo é que o pessoa daqui o aprecia tanto ou mais que nós, lá na tropa, Tem aqui um bom emprego. Não está reformado?
                    - Estou, estou. Isso não me impede de fazer aqui o que mais gosto. Neste momento êste oficial reformado ordena-lhe que aceitem almoçar connosco, terão ocasião de conhecer mais coisas boas desta fundação. Não considerem o convite uma tentativa de influenciar os vossos relatórios, o inspector lembra-se de mim em Angola, sabe que nunca fui desse género. Lembra-se daquele caso com um outro major, caso em que eu consegui que o prendessem por andar a enganar os morenos, vendendo-lhes armas inutilizadas?
                    - Cada vez me lembro mais de si, agora que fala dos morenos, sempre que falávamos dum preto o senhor corrigia-nos dizendo "preto não! Moreno!".
                    - Lembra-se como eu explicava a diferença? - perguntou Gabriel.
                    - Parece-me que a explicava dizendo que o senhor quando era novo, no fim do verão ficava mais escuro que um preto da Guiné que o seu pai trouxera para Portugal.
                    - É isso mesmo! Em Angola, os baillundos são muito claros, são castanho claros. Quando me viam sem a farda, perguntaram-me várias vezes se eu era bailundo, em particular se eu andava com o chapéu de praia enfiado na cabeça, não viam se eu tinha ou não tinha carapinha...

               No fim do almoço, após as despedidas, Júlia, encontrando Gabriel:
                     - Gabriel, que tal decorreu a inspecção?
                     - Muito bem. Foram muito correctos. Aconteceu que , no fim da visita à fábrica, antes de os convidar para almoçar, o Matos reconheceu-me, eu era o oficial que comandava a unidade militar onde ele estava incorporado em Angola. A inspecção terminou em beleza, aceitaram o convite para o almoço, recordámos episódios de África, fiquei com mais dois amigos.
                      - E na contabilidade, correu tudo bem?
                      - Sim, bem. O contabilista fez muitas perguntas, tirou muitas fotocópias, não fez qualqiuer reparo. A Maria dos Anjos e as outras raparigas da secretaria, bem usaram das suas manhas para sacarem nabos da púcara mas não estavam a tratar com uma púcara nem com um nabo, mas com um baú bem fechado, inviolável. Do Matos, conseguiste algo, conseguiste saber donde partiu a ordem para a inspecção?
                      - Nem tentei, nem tive oportunidade. Mas o Matos convidou-me para almoçar no sábado, disse-me que a mulher faz umas lulas recheadas melhores que as de hoje aqui no restaurante da FAP.






                                                                           LXV


            O ministro interpelou o secretário de Estado dos assuntos internos:
                         - Vamos assestar baterias contra aquela fundação, a FAPl Conheces a informação da judiciária? Pelos vistos o inspector que lá foi parece ser muito amiguinho dos directores.
                         - É o que me dizem.
                         - Não devemos proceder de forma mais radical? Alguns autarcas da margem sul, militantes do nosso partido, estiveram falando comigo relatando-me com bastantes pormenores o que se passa naquela zona. Resumindo, é notável e preocupante a influência da fundação na opinião da população local e temo que outra força politica nos ultrapasse nas próximas eleições. A fundação vai iniciar dentro de pouco tempo a sua actividade noutros concelhos vizinhos e no norte do país. Vè se consegues mais notícias sobre essa FAP.
              Aquele subsecretário, homem de confiança do ministro, a êste não ocultava o que tivesse algum interesse, não atenuava ou disfarçava as más notícias, nem concedia relevo exgerado às boas:
                          - Soube que se estão organizando, cada dia que passa, com maior aderência, com mais entusiasmo.
              O ministro, político experiente, muito seguro, pragmárico, com sentido agudo para resolver e actuar, retorquiu com rispidez:
                          - O que dizes é muito vago. Em que sentido é que se estão organizando?
                          - Estão discutindo assuntos que interessam às comunidades e às autarquias, pelo sistema de pirâmide. Pouco mais...
                          - Isso quer dizer que estão a um passo de se imiscuir na política e a meio de concorrerem às eleições. Ai, ai! Não me cheira nada bem, procura obter mais notícias. Vamos levar  o assunto ao primeiro ministro, deverá querer reagir!

              De forma simple e natural, em muitas das reuniões que se realizavam no feim de cada semana, com frequência eram propostos assuntos paras discussão, cuja conclusão interssava a todos os colaboradores e beneficiados da FAP. Laura, dada a ameaça da nacionalização e do que representaria para todos, no final dessa semana disse aos colegas da direcção:
                         - Tenho lido as actas de todas as reuniões, Têem surgido, fora dos assuntos normais, propostas que me parecem muito boas, aproveitáveis, reflectindo um interesse extra pela FAP e pela comunidade, que não deve ser desprezado, não podemos ficar indiferentes, merecem mais atenção da nossa parte. Eu e a Júlia combinámos discuti-las ainda hoje.
                         - Refere, relata essas propostas - pediu Fernando.
                         - Passo a apresentá-las: primeira, o auxílio na reabilitação dalgumas casas de colaboradores e de beneficiados. Segunda: a construção e organização duma bibioteca enquadrada num centro de atracção e reuniâo para todos os que se inscreverem como associados. Terceira: uma escola, começando pelo ensino primário, para continuar no futuro com um liceu. Finalizando por hoje, a proposta mais difícil de concretizar. o projecto para um hospital. Êste poderá ser antecipado por um posto clínico.
                        - Prevês ou imaginas como reagirão os autarcas?
                        - O presidente da autarquia tem acompanhado as nossas iniciativas, a câmara não nos tem dificultado a vida nem com burocracia, nem com a demora na aprovação dos projectos e licenciamento das obras. Pelo que me têem dito, reconhecem quanto as realizações da FAP valorizaram a política local e a autarquia. A dinâmica que adquirimos demonstrou-lhes que a fundação continua e continuará a engrandecer a cidade, dotando-a de unidades industriais e comerciais que estão contribuindo para melhorar  a vida dos cidadãos.
                 Júlia, seguindo Laura, acrescentou:
                         - Demonstrámos até hoje que nenhum projecto nos assusta, não desistimos de nenhuma obra depois de tomada a decisão de a executarmos. Se todos concordam passaremos na próxima semana à execução de mais projectos aprovados. Hoje decidiremos por onde começar. As zonas do comércio e da indúsria estão lançadas, iremos ter uma zona escolar, uma zona de cultura e uma zona de saúde. O primeiro passo, proponho que seja o de apresentarmos à autarquia uma moção preparada por todos ñós, expondo o que nos propomos projectar e executar. solicitando-lhes aprovação e apoio.
                 Aprovada a proposta, Fernando desenrolou sobre a mesa da sala um mapa da região, fixou-o na parede e delimitou com uma circunferência uma zona que coloriu de  vermelho:
                         - A autarquia possui êste terreno nas proximidades do mar, com revestimento floorestal, delimitada  neste mapa e que colori de vermelho.. Êste terreno tem área suficiente para todos os empreendimentos que foram propostos, existe água e  electricidade nas proximidade e acessos que permitem o estabelecimento fácil das infraestruturas necessárias. O nosso colaborador arquitecto Mateus Ribeiro prometeu-me para terça-feira o ante-projecto a apresentar aos autarcas.
(continua)  

































































segunda-feira, 28 de maio de 2012

Folhetim - Sonho de sorte - 128 -

                             - Como? Poderão acabar com a FAP? - interrogou Gabriel.
                             - Fiz idêntica pergunta ao secretário! Respondeu-me que nada sabia...
                Antes de terminarmos a sobremesa, Fernando ainda comentou:
                             - Estas notícias, provenientes de políticos, podem representar a verdade, podem não se mais que "bluffs" ou balões de ensaio lançados nos títulos dos jornais no desejo de causar dúvidas ou perturbações em todos os que os ouvem ou lêem. Quando a Júlia me contou tudo isto, pensei ir de imediato aos ministérios. A Júlia, menos impetuosa e exaltada que eu, mais emotivo perante injustiças, acalmou-me. Decidimos que seria mais sensato vir consultá-lo aqui no hotel para encontrar e discutir alternativas, desde esperar pelo desenrolar dos acontecimentos até outras soluções mais ou menos decisivas. Doutor Alberto, dê-nos a sua opinião, como entende que devemos actuar?
                Perante o silêncio de todos, não tardei muito a responder:
                             - Pensemos.Todos sabemos que em qualquer guerra há ataques, defesas, contra ataques. Tivemos a guerra política, que continua com a tentativa da nacionalização da FAP. Pelo meio as escaramuças das cartas anónimas, dentro breve teremos o fisco e mais inspecções. Julgo que a atitude mais sensata será aguardar o ataques, conservando a serenidade e reforçando as defesas. Decerto que em todas as reuniões a efectuar durante a semana, serão divulgadas estas noticias de forma qaue pareçam acontecimentos normais, ainda que tal pareça dificil. Como o indivíduo sentado na praia que espera, com a maré a encher, uma onda que o refrescará. O que está a atingir a FAP, proveniente do exterior, traduz-se no aumento da satisfação que sentimos quando verificamos que nada tem feito vacilar a união e a coesão que eiste e aumenta todos os dias, entre os colaboradores. Noutras ocasiões recentes, segundo sabemos, houve pequenos conflitos e tentativas de desestabilização, vindas de fora, tudo resolvido sem consequências. Portanto o que me parece mais lógico é continuarmos como até aqui, resolvendo as contrariedades que nos surjam com a mesma naturalidade que a empregue na solução dos problemas corriqueiros. Sem alarmes, sem transformar picadas de mosquito em dentadas de leão.
                            - Estou de acordo, julgo que estamos todos de acordo, continuaremos com as nossas tarefas abrlindo as portas a quem nos queira visitar e facultando todos os dados solicitados por qualquer inspecção surpresa ou avisada - e Júlia  fechou o assunto: - Passemos a ouvir a história que o  Carlos nos irá oferecer.




                                                                            LXIII

                No dia seguinte o inspector Matos, da judiciária, fez-se anunciar na FAP, acompanhado por um colega contabilista. Laura recebeu-os, apresentou-os na secretaria e disse à Maria dos Anjos:
                            - Faculte ao senhor contabilista todos os elementos que ele deseje. O senhor inspector Mário Matos dir-me-á o que pretende conhecer, além dos emementos da nossa contabilidade. Podemos ir para o meu gabinete, é aqui ao lado - disse Laura - Ou, se preferir, podemos ir visitar alguns dos nossos empreendimentos.
                            - Doutora Laura prefiro antes fazer-lhe algumas perguntas aqui no seu escritório - disse o inspector entrando, sentando.se e extraindo uma agenda da carteira enquanto Laura ligava o gravador.- E a primeira é a seguinte: há ou já houve financiamentos particulares entregues a esta fundação, além dos que declaram e que provêem de prémios ou ganhos em jogos e lotarias?
                           - Não, senhor inspector.
                           - Nem financiamentos provenientes de entidades portuguesas ou estrangeiras, nem probenientes  de paraísos fiscais?
                           - Não, senhor inspector Matos. Noutra ocasião demos resposta a essa pergunta.
                           - Sabemos da existência de contas da fundação nalguns bancos extrangeiros, como as justificam?
                          - Sáo receitas obtidas no estrangeiro. E, quer em Portugal quer no estrangeiro, autorizámos por escrito que poderão ser passados extractos das contas da fundação a qualquer entidade oficial portuguesa, bem como fotocópias dos documentos que provam a proveniência de todos os depósitos, contra a entrega ao banco do documento oficial que refira o pedido.
               Lendo a mesma página da agenda, o inspector inquiriu:
                          - Existe armamento dentro da fundação?
                          - Exceptuando o que usam os seguranças, não. Creio que sabe que todos os seguranças que colaboran na FAP são policias destacados através do contrato que temos com a PSP-
                          - Existe um sistema de rtecebiimentos e pagamentos sem dinheiro à vista, sem dinheiro em circulação. São passadas facturas com IVA incluido para todas as vendas assim efectuadas?
                          - Sim. senhor inspector. O contabilista que o acompanha pode verificá-lo. Podemos fornecer também fotocópias dos documentos comprovativos das liquidações do IVA às finanças.
                Após mais algumas perguntras, relacionadas com as missões de diversos colaboradores, o inspector pediu a Laura para visitar a fábrica dos veículos eléctricos, onde solicitou a carteira profissional e a identificação a vários mecânicos  e ajudantes, formulando muitas perguntas e seguindo com frequência os apontamentos na sua agenda.
                 Gabriel, que acoompanhava o inspector nessa visita, perguntou-lhe:
                          - Inspector Matos pode dizer-me porque pediu a carteira profissional àqueles nossos colaboradores?
                          - Há aqui muita gente imigrante trabalhando, de certeza que o sabe. Têem de cumprir as leis portuguesas. Não teem provocado conflitos por aqui?
                          - Olhe, senhor inspector, desde que aqui estou não houve qualquer conflito. E mais, devo informá-lo que esses a quem pediu a documentação, vieram para Portugal com uma formação invejável, alguns deles poderão substituir-me no futuro ou assumir a gerência duma nova fábrica.
                          - Êsses vieram  de países do leste, Os imigrantes africanos não geram complicações?
                          - Tsmbém não temos razões de queixa, os que aqui estão, são tão bons colaboradores como os outros. Êstes trazem quase todos uma formação mais rudimentar. Somos igualmente exxigentes para os que se candidatam às vagas existentes. Até hoje não tivemos de despedir ninguém, desde que há quase dois anos inaugurámos as fàbricas. Alliás, em todas actividades da fundação, que  eu saiba, nunca despediram ninguém . Alguns desistiram de cá continuar, todos por motivos de saúde ou problemas da sua vida pessoal.
                         - E acidentes de trabalho?
                         - Nada de grave, até hoje.
                         - Disseram-me qaue há muita discriminação nas visitas...
                         - As visitas são condicionadas às nossas regras, não permitimos que interfiram com a actividade dos colaboradores. Existe um modelo tipo para as visitas a cada local, há folhetos descritivos semelhantes a êsse que lhe entregámos. Algumas visitas são selectivas. Por exemplo, são raras as que permitimos que entrem no centro de investigação.
(continua)

domingo, 27 de maio de 2012

Folhetim - Sonho de sorte - 127 -

             Eu gizara o projecto do livro para a FAP. Em letras maiúsculas, no topo da primeira página, esvrevi em letras verdes e bem gordas: "nada de fotos nada de descrições tediosas de edifícios, de máquinas, de objectos materiais. Muito sobre o que vai na cabeça das pessoas, do que pensam, do que especulam,, do que desejam".              Relatando as surpresas que a sorte proporcionou ao casal fundador da FAP, engendrei personatens de carácteres semelhantes aos que na realidade participavam na acção da FAP. Personagens que não existiam, nunca é possível definir completamente o carácter de qualquer pessoa viva, mesmo a mais amiga, a mais íntima, a mais confidente. No dia seguinte pode ser diferente, mais susceptível, mais instável, mais perversa ou mais bondosa. Pode ser descoberto algo que a modificou, o travesseiro pode trazer-lhe mais sensatez, um azar mais inquietação, a sorte mais audácia.
             Continuava a escrever na página à minha frente quando o Gabriel chegou, anunciando-me a vinda dos casais nossos amigos.Mal nos sentámos, Júlia explicou o motivo da visita:
                        - Resolvemos vir cá para conversarmos um pouco....
              Percebendo a hesitação de Júlia, convidei-os:
                        - Fiquem todos para jantar e suportar mais uma cez as nossas discussões!
               Apareceu o chefe de mesas do restaurante e, distribuindo "menus",  disse:
                        - Senhor Gabriel, êstes senhores vão jantar?
                        - Sim. todos. Mas olhe, quem paga a conta é aqui o meu amigo Alberto, o capitalista de serviço! - e eu, sem acusar o toque:
                        - Vêem? Subi de categoria, sou capitalista, qualquer dia também sou nacionalizado!
               Comunicámos ao chefe de mesa as nossas preferências e dirigimo-nos ao restaurante onde nos sentámos os seis numa mesa redonda. Fernando iniciou a conversa:
                        - Viemos cá porque queríamos definir uma estratégia para os próximos dias. Antes de saírmos da FAP, recebemos alguns telefonemas agradáveis,  de apoio, em particular um do nosso amigo Queiroz e outro dum conhecido na direcção dum jornal. De qualquer modo não convém baixar as armas, devemos prepararmo-nos para diversas alternativas.
                        - Que notícias agradáveis receberam? - inquiriu Gabriel.
                        - Notícias de que o governo estaria recuando. No entanto, nada de entusiasmos. Surgiram também norícias diferentes.
                Fernando e Júlia, bem treinados em reuniões, falavam sempre sem atropelos, sempre parecia que traziam a lição bem preparada, bem ensaiada. Avaros nas críticas quando razão tinham, elogios em doses adequadas ao mérito revelado, sempre que falavam esterávamos escutar algo de interesse, adaptado às circunstâncias do momento. Habituados a gerir bem o tampo das discussões, não divagavam por lugares comuns, só nos presenteavam com algum floreado quando a conversa entrava na ironia ou nos domínios do humor.
                De súbiro, Júlia quebrou o silêncio:
                        - Recebemos esta tarde, com a indicação de urgente, êste aviso da polícia judiciãria comunicando-nos a próxima visita dum subchefe de nome Mário Matos, aviso acompanhado dum despacho do tribunal concedendo autorização àquela polícia para revistarem, na FAP, o que julguem neessário.Por outro lado o correio continua entregando-nos inúmeras cartas anónimas, algumas bem ameaçadoras. Telefonei esta tarde ao subchefe Matos para lhe comunicar êste assunto, perguntando-lhe se o poderiam investigar. Ele informou-me que virá amanhã às dez. - Júlia guardou o ofício na mala, limpou os lábios com o guardanapo e continuou - e que se fará acompanhar dum colega, para cumprir o despacho do tribunal. Quanto às cartas anónimas nada me respondeu. Como devemos encarar êste assunto?
                 Tentei afastar as sombras provocadas pelas últimas notícias, desviando e amenizando a conversa:
                         - O livro que me encomendaram para a FAP vai tendo contribuições interessantes, ingredientes salgados, surgiu o crime, virá também a intriga, o amor, o "suspense"? Oxalá que não, prometi a mim próprio, mais que a vós, não aceitar êsse estilo, a não ser que os factos a tanto me obriguem...Por favor não permitam que cartas anónimas vos afectem mais que simples mexericos. Aceitem-nas como acontecimentos normais numa grande empresa, como é a FAP ou digamos, numa grande família como é a FAP. Conheci famílias, que viviam em boa harmonia, onde cartas anónimas eram consideradas abaixo de lixo. Pelo contrário, noutras famílias onde reinava uma discórdia permanente entre os pais, onde eram frequentes os gritos por dá cá aquela palha e os filhos ouviam a toda a hora berros e recriminaçoes. Ali, se o carteiro deixava uma carta aanónima, desencadeava-se um temporal de acusações cruzadas, injúrias agrestes, increpações injustas. A família FAP, pelo que venho observando, é uma boa família, muito forte, muito unida. Estou convencido que será fácil que aqui todos se convençam de que cartas anónimas não passam de "zumbidos de moscas nos ouvidos" omo dizia o Sinuhe do romance "Sinhue, o egípcio".
                           - Mas, se continuam as cartas anónimas? - insistiu Júlia.
                           - Desprezem-nas, como as desprezam os pais das boas famílias! Nem valem a atenção que lhes estão dando aqui, nem merecem que nos esqueçamos duma boa sobrenesa que ainda não encomendámos. Seremos capazes de conversar sobre um tema mais interessante? Proponho que o amigo Carlos, mudo até êste momento, nos brinde com uma história da sua valiosa colecção.
               Num grupo de amigos que conversam bem dispostos, é provável que os que pensam de forma serena manifestem clara superioridade na análise, nos juizos, nas opiniões. Raro se apressam, atropelam a voz  doutro, deturpam o que ouvem para reforçar o que dizem, não necessitando de elevar a voz para silenciar o adversário. Quem se apressa por sistema, comete mais erros, o que atropela a voz doutro revela falta de ética, quem deturpa o que ouve revela pouca lealdade, quem eleva a voz para abafar a do adversário, tenta intimidar com vozearia de taberna.
                Apreciava muito o grupo que convidara para jantar. Todos são conversadores, o que havia verificado noutras ocasiões em que  nos reuníramos. As duas senhoras - que além de mais também nos alegravam com boa disposição - manifestavam espontaneidade e inteligência no que diziam,  com comentários oportunos, referências adequadas e salpicos de humor. Dos homens, o que eu esperava: Fernando, preciso e pragmático, sem se chato. Carlos, erudito, sem atitudes doutorais, Gabriel, amigo da metáfora humorística, sensato quanto a delicadeza o exigia.
                 Júlia, antes de Carlos iniciar a história pedida, disse:
                              - Desculpem-me ainda tenho mais para dizer e que é importante. Vocês sabem que os presidentes das câmaras da margem sul têem-noa apoiado bastante, não interferindo nas nossas actividades, permitindo sem intromissões o comércio nos pontos de venda, não nos perturbando com fiscalizações frequentes nem burocracias exageradas. Confesso que hoje, de manhã, fiquei surpreendida quando o secretário do presidente da edilidade apareceu no meu gabinete, dizendo-me que vinha da parte do presidente explicando-me, depois de alguns rodeios, que a acção da FAP está sendo muito contestada em diversos ministérios, confirmando-se a ideia da nacionalização da FAP e, pior ainda, que pretendem edxtinguir-la.
(continua)                                                              
      
                      

sábado, 26 de maio de 2012

Esta democracia que nos querem impingir

                   A defenição mais simples e suponho a mais antiga de democracia que conheço:
                          O GOVERNO DO PÒVO, PELO PÔVO E PARA O PÔVO
                   É esta democracia a que temos?
                   Governo do pôvo: o que pressupõe governo nomeado pelo pôvo, por gente do pôvo, por consulta do pôvo. É isso que temos? Não! Porque então os deputados deveriam ser nomeados pelo pôvo, escolhidos pelo pôvo, depois de consultado o pôvo. É o que temos ? Não! Todos sabemos, e os que o não sabem deveriam ser bem informados. De forma que soubessem que agora. os deputados que dizem ser os nossos representantes no parlamento, que concorrem para ser deputados pelas nossas províncias, foram escolhidos pelos dirigentes dos partidos que concorrem às eleições. E não pela consulta a todas, TODAS as pessoas inscritas nos cadernos eleitorais. E apenas pela consulta, quando muito, aos incscritos nos partidos. Serão desta forma escolhidos os melhoresj? Com certeza que não! Só existirão "melhores" dentro dos partidos? De certeza que não! E desta forma os governos não poderão ser pelo pôvo e para o pôvo. Porque só conhecem uma pequena parte dele.
                   E não tenhamos ilusões. A falta de informação e de consulta é propositada, não temos ilusões. Depois de trinta e oito anos desta que chamam democracia, depois de trinta e oito anos suportamos os mesmos métodos de escolha e de desinformação. Não admira que assim que a abstenção atinja percentagens elevadas e que põem em forte dúvida os resultados das eleições.
                  E seria simples. Bastaria convencer todas as cidadãs e todos os cidadãos de que a sua rua deverá escolher as suas e os seus representantes e estes escolherem os da sua freguesia, da sua cidade, da sua província.
                    Isto não é original, faz-se noutros países.   

Aos leitores do meu folhetim

                Ocupado com a publicação do folhetim "Sonho de sorte", além dele  pouco mais tenho publicado no meu blog. Retomarei em breve essa minha ocupação, porquanto dentro de oito a dez dias o folhetim  terá o seu final.
               Mas o que vos peço: a vossa crítica, as vossa opiniões, que me permitirão esclarecer-vos melhor e talvez enriquecer mais a ideia do livro e levantar a discussão sobre o dinheiro.

Folhetim - Sonho de sorte - 126 -

                                                                       LXI

             No dia seguinte era grande a azáfama na fundação. As duas fotocopiadoras da administração não paravam, formara-se uma fila enorme de colaboradores aguardando a entrega de panfletos, surgiam outros transportando os que provinham das administrações das fábricas. Às onze horas toda a gente fôra para a rua, distribuindo os prospectos. Estes, em pooucas linhas,anunciavam em letras gordas e de forma resumida, o que é a FAP e lembravam,noutras tantas linhas, o que a FAP representava. Outros carros da FAP deixaram panfletos nas recepções dos ministérios, da assembleia da república, em todos os organismos do Estado, em todas as sedes dos jormnais e revistas por onde passavam.

             Júlia e Fernando regressaram à FAP às quatro da tarde.
                        - Estou esfomeada e com certeza tu também, não almoçãmos!
                        - Voltamos ao tempo do nosso namoro, lembras-te quando distribuíamos propaganda política?
             Saíram da viatura, regressando do Campo Pequeno onde, durante uma hora, tinham espalhado folhetos.           
                       - Fernando, reparaste nas reacções dos que liam o que escrevemos, reparaste?
                       - Reparei! E a polícia não deu sinal, vamos ver se não houve problemas noutras áreas de Lisboa.
                       - Iremos saber, os carros estão chegando, há movimento pelos corredores.
             O relefonou tocou, era da recepção:
                       - Doutora Júlia, estão jornalistas na recepção pedindo para serem recebidos.
                       - Senhor Jorge, quantos estão aí?
                       - Estão quatro.
                       - Diga-lhes que esperem, dentro de poucos minutos os receberemos - Júlia pousou o telefoene - Vês, Fernando, começa a reacção, estão qiuatro jornalistas na recepção! Paciência, hoje não almoçamos.
                       - Querida, talvez seja melhor recebê-los todos ao mesmo tempo, daqui a uns dez minutos para prepararmo o que lhes vamos dizer.
                       - Imaginemos as perguntas mais prováveis, o que é que nos irão perguntar...Podemos entregar-lhes o nosso último relatório de actividades, que achas?
                       - Boa ideia, vou pedir que nos consigam uma dúzia de cópias.
              Júlia disse à secretária para encaminhar os jornalistas para a sala grande de reuniões. Para lá se dirigiu com Fernando, daí a poucos minutos.
              Apresentaram-se aos jornalistas, ambos pegando num folheto igual aos que haviam distribuido por toda a cidade.
                       - Antes que nos façam perguntas, completaremos o que irão ler neste panfleto, dando-vos o relatório da actividade desta fundação, relativo ao ano passado. Depois de respondermos às vosssas perguntas, iremos até às fábricas e aos pontos de venda. É um pouco tarde, pelo que vos peço que adiem a leitura do relatório para quando regressarem a Lisboa.
               Um dos jornalistas levantou o braço:
                        - Que resposta esperam do governo  perante o vosso protesto?
                        - O governo ainda não decretou a nacionalização  desta fundaão, portanto não protestaremos. Reparem qaue este folheto não é uim protesto, apenas diz o que é esta fundação e que actividade exerce junto do pôvo. Se a nacionalização fôr decidida, o que duvidamos, aí sim, protestaremos! - respondeu Fernando.
               Outro jornalista inquiriu:
                        - Esta fundação não ultrapassou muito os objectivos para que foi criada, erigindo fábricas, explorando lojas comerciais e restaurantes, talvez numa concorrência desleal?
                        - Criar centenas de empregos, produzir bens essenciais vendendo-os com pequenos lucros que irão ser aplicados, na totallidade, nas actividades da fundação, isto será concorrência desleal?
                        - Mas a vossa actividade não deveria restringir-se às ofertas aos beneficiados, dado que os estatutos genéricos para as fundações não incluem fábricas nem lojas?
                        - Também não obrigam a não incluí-las! Imaginam o que sucederia ou sucederá se esta fundação for nacionalizada? Primeiro cria-se um grave precedente e, segundo, as fábricas e as lojas sertão vendidas. Pouco tempo depois cessará a distribuição de dádivas aos necessitados.
               Um jornalista que ainda não se manifestara, indagou:
                        - A actividade desta fundação abrangerá outras zonas? -  Fernando respondeu:
                        - Abrangerá. Noutras províncias do nosso país. E em França, onde um projecto duma fundação similar está aprovado. Para lá, iremos, nacionalizem ou não a FAP. Agora peço-vos, por favor não nos façam mais perguntas antes de visitarmos as fábricas.


                                                                      


                                                                      LXII

                Os acontecimentos precipitaram-se. Foram pedidos esclarecimentos na assembleia da república, fora da ordem do dia. Alegando desconhecimenhto. o partido  do governo evitou
qualquer resposta. Mas a oposição insistiu apresentando uma proposta inédita, de recusa de nacionalização da FAP. O presidente da assembleia não aceitou a proposta, argumentando que não se poderia  votar contra uma nacionalizaçao ainda não proposta nem executada. Lavou as mãos, dizendo que teria de se psosseguir com a ordem de trabalhos do dia, encerrando o assunto desta forma.

                 Os jormalistas deram a notjícia em grandes parangonas, exibindo uns, o folheto espalhado pela cidade, outros relatando entrevistas a beneficiados e colaboradores, quase todas com fotos das fábricas e pontos de venda. Aguns. à cautela, publicavam opiniões negativas ou comentários reticentes quanto à legalidade do comércio e das indústrias que a FAP erigira. Outra notícia nos telejornais das estações de televisão, relatava o resultado dum inquérito efectuado pela empresa de sondagens com maior credibilidade  no país. Resultado: mais de 80% dos inquiridos responderam que não concordavam com a nacionalização da FAP.
                  Foi impresso outro folheto contendo mais uma terceira frase, informando que a FAO projectava iniciar dentro de dois meses a sua actividade noutras zonas de Portugal, establecendo a primeira sucursal no Minho. Um automóvel da FAP tranportou para o norte cinquenta mil exemplares, agora impressos por uma tipografia que a FAP contratara.
(continua)

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Folhetim - Sonho de sorte - 125 -

                                                               LX

                 A notícia surgiu ainda mais cedo do que esperávamos. As estações de rádio e televisões, na manhã de seegunda-feira, anunciaram a propostas de lei e a decisão do governo de nacionalizar a FAP. Ao almoço, no restaurante, não se falava noutra coisa, muitos colaboradores rodeando as mesas onde se encotrava alguém da direcção. Fernando, assim que entrou. subiu para cima duma cadeira e aninciou, elevando a voz:
                         - A notícia que nos chegou da nacionalização desta fundação, ainda não é oficial nem nos foi conunicada. Vamos todos participçar em reuniões, a partir das quinze horas, para encontrar propostas ou soluções. A vossa participação será semelhante à das reuniões semanais em que participamos, formando os grupos iniciais da mesma forma. Os que têem tarefas para esta tarde adiem-nas para amanhã. E porque as salas não chegam, os almoços terminarão às duas e meis. Logo a seguir preparem o refeitório para reuniões, como temos procedido noutras ocasiões. Agora almocemos com a serenidade possível.
                 
                Convidaram-me para associar-me ao grupo onde entrava a direcção, o Gabriel e outros gerentes responsáveis pelas fábricas e pontos de venda. E às três horas, Fernando, iniciando a nossa reunião, afirmou:
                       - Todos sabemos o que se passa, peço-vos que me digam se têem alguma proposta. Começo por ti, Laura.
                       - Pensamos que uma ideia seria de contra atacar através das autarquias que nos têem apoiado. Não com pedidos mas expoondo-lhes a situação com toda a franqueza, chamando a atenção para as consequências que, em nosso entender, advirão.
               Júlia seguiu o raciocínio:
                       - Além do que propôe a Laura, com o que concordo, tamvém será de aproveitar a sugestão do Alberto: comunicar às estações de rádio e televisão o mesmo que se comunicar às autarquias.
              Manuel Guedes propôs que se distribuisse um panfleto pela população, contendo um comunicado que resumisse a acção da FAP desde que iniciara a sua actividade. No final surgiu a proposta dum memorando a enviar à presidência da república.
              Numa reunião final, além das propostas obtidas na reuniao da direcção, concordaram ainda com a apresentada por um distribuidor no sentido de dar a conhecer, no estrangeiro, a obra da FAP e as intenções do governo. Júlia terminou a reunião dizendo:
                        - Parece-me que temos algumas possibilidades de contrariar esta decisão do governo. Não hesitemos, vamos mobilizar-nos. As propostas que se obtiveram, se concordam, são de aceitar e implementar. Amanhã de manhã deveremos ter impresso alguns milhares de panfletos cujo conteúdo ainda hoje vamos redigir e, se possível, começar a imprimir.

               Nessa hora, quando saí da reunião final em que também participara, tive outra surpresa agradável. Muitos colaboradores nos corredores, poucos saindo para regressar a casa. O restaurante da FAP quase cheio, o que ajudava mais uma vez a confirmar que a união, o companheirismo e o apoi mútuo entre todos os colaboradores era uma realidade, não era falácia. Se entre os beneficiados se estabeleesse a mesma união, seria uma grande vitória da FAP.

                 No regresso ao hotel, eu e o Gabriel comentámos os acontecimentos do dia:
                          - Que dizes de tudo isto, Alberto?
                          - Olha, a grande surpresa do dia, para mim, foi ver como toda a gente se manteve na fundação, só começando a sair depois das sete horas!
                          - Ficaram alguns na impressão dos panfletos, reparaste?
                          - Sim, ainda vi que vários colaboradores saíam com maços de folhetos para começar a distribuição! 
                Tomei um duche revigorante e ao jantar, continuámos a comentar:
                          - Foi um dia de emoções fortes, apesar disso estou cheio de fome...
                          - Gabriel, as emoções fortes não me predispõem o apetite, tenho de as suavizar com um duche, como hoje fiz... Êsse teu conhecido apetite resiste a tudo...
                          - AInda bem, ainda bem! Mas sabes a que não resiste o meu apetite, o que o verga e subjuga?         
                          - Imagino que não seja boa coisa....
                          - É boa coisa menino, é boa coisa. é muito feio que tu  "un uomo di letra", como te chamaria o actor italiano Totó, é muito feio que lhe chames uma "coisa"...
                          - Está bem. Gabriel, seja ou não bom objecto, boa coisa ou enigma, desembucha, desembucha, diz lá o que subjuga o teu apetite!
                          - É a perspectiva  do amor, querido, já tens escrito sobre isto! São os preparativos, os prelúdios do amôr...
                          - No nosso tempo, lembras-te? Quando um amigo nos falava dessa forma, quando nos apresentava confidências semelhantes...
                          - Já sei, já sei Alberto, davas-lhe uma lição de civismo e ias  contar ao pai da garota as boas intenções do namorado, daquelas boas intenções de que está o inferno cheio.
                 Continuámos na galhofa sobre o mesmo, até terminar o jantar. Depois da sobremesa depusémos as armas  do escárnio e mal dizer e passámos a assuntos mais sérios:
                          - Gabriel, como prevês o resultado de tudo o que se passa? 
                          - Talvez a assembleia da república nos safe, Temos lá alguns amigos, o partido do primeiro ministro não tem maioria absoluta...Tu, que dizes? Parece-te boa ideia o que se vai fazer amanhã e nos dias seguintes?
                          - Se os distribuidores e todos os restantes colaboradores da FAP percorrerem Lisboa com o mesmo espírito que observámos hoje, se incluso conseguiram mobilizar jornais, estações de rádio e de televisão...
                          - Se também conseguirem mobilizar muitos beneficiados - e Gabriel, levantando-se e andando na sala, para diante e para traz - Ah! Eles vão recuar, vais ver, eles irão recuar.

                                                             
                                                                  
                                                              #####

                 O poder político cega, corrompe. Isto é hoje um lugar comum. No entanto é uma raridade em todas as outras espécies animais. A cegueira apenas se esbate ou termina  se a força da parte contrária obriga os poderosos a reconsiderar e a atender à razão.       

  

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Folhetim - Sonho de sorte - 124 -

                                                             LIX

                 O livro para a fundação ia bem encaminhado. O espírito reinante entre os colaboradores, a entrega destes às tarefas distribuidas, a boa disposição generalizada, a soladiriedade dentro e fora da FAP, confirmavam-se no meu espírito como factos concretos, realidades fundamentais. Nada havia surgido que as abalasse. Estava no entanto insatisfeito, encontrava-me na situação do pesquisador de ouro que não encontra mais que cobre ou ferro. Queria algo mais, que enriquecesse o relato, trouxesse mais emoção, empolgasse quem o lesse. Sem me desviar da verdade, sem misturar fantasia com a realidade, sem deformações provocadas por entusasmos momentâneos.
                Regressei ao sul, passei um dia na praia consultando, relendo e comparando as fichas que reunira. Fichas de muitos colaboradores, de muitos beneficiados e de episódios ocorridoas nos últimos três meses.
               Continuava insatisfeito, o desassossego não me abandova, o travesseiro não me auxiliou, tentei o cinema e a televisão, intensifiquei as conversas e as visitas amigáveis. Nada, nada me provocava novas ideias. Talvez necessitasse de uma ida a Paris ou a Londres, ou sentar-me apenas à beira dum lago, conseguir ficar sereno, relembrar Fernando Pessoa, escutar a quinta sinfonia ou alguns fados cantados pela Amália, talvez apenas contemplar as cores e a beleza de coisas simples...
              Telefonei ao Gabriel avisando-o que chegaria no dia seguinte.Estava a jantar no hotel:
                          - Senhor intelectual, és um faltoso. Olha! Esta semana passaram-se muitas coisas interessantes por aqui. Amanhã não me levanto cedo, não tenho ocupação na FAP. Cá te espero no hotel, convido-te para almoçar.
                          - O magnata dos carros eléctricos começa a ostentar a sua fortuna! - respondi-lhe eu.
                          - Não digas nada a ninguém, vou fugir com a fábrica para o Brasil!
                          - Não te esqueças de trazer de lá os cachuchos de brilhantes.

              No dia seguinte, um sábado,  às dez da manhã um táxi deixou-me no hotel do Dafundo. Li o jornal, o recepcionista contou-ms as últimas anedotas da política nacional, deixei um recado para o Gabriel e fui dar uma volta a pé até à FAP. Quando lá cheguei  vi aparecer no parque um automóvel eléectrico conduzido pelo Fernando:
                          - Procurei-o no hotel, soube que tinha vindo passear por aqui. Se não se importa venha comigo, preciso de lhe falar. Soube pelo Gabriel que virita hoje, desculpe tomar a liberddade de perguntar por si com urgência.                
                          - Não tem importância Fernando, disponha à vontade do meu tempo, não tenho qualquer compromisso a não ser o de almoçar com o Gabriel lá para as duas.
                          - Então, se não se importa, vamos para o meu gabinete aqui na FAP, onde a Júlia nos espera.
               Pela primeira vez, num sábado, entrava na fundação. Respeitavam os fins de semana e as horas de descanso. Só por motivo excepcional saíam dessa regra. O assunto deveria ser importante para que os directores me procurassem com urgência.
               Júlia saudou-me, pôs de lado o "dossier" que estava consultando:
                         - Não sei se o Fernando lhe falou nisto, temos pela frente um grande imbróglio, um grande problema. Imagine o que o governo pretende, soubemo-lo por uma carta recebida ontem. enviada por um grande amigo, assessor da presidência da república. Imagine que querem nacionalizaar esta fundação! Não quisemos telefonar-lhe para o Algarve ontem à noite, porque descobrimos que temos os telefones sob escuta, os da Fap, os nossos e  é provável que também os telemóveis.
                        - Que posso fazer? - perguntei-lhes.
               Pareciam-me bastante alterados, muito nervosos, tensos. Depois de reflectir durante alguns segundos, Fernando acrescentou:
                        - Talvez estejamos a abusar  um pouco da sua bondade. Este aviso  do nosso amigo José Queiroz deixou-nos siderados, não estávamos nem estamos preparados para uma situação destas. É provável que na segunda-feira deparemos com o facto consumado. A legislação que conheemos não prevê nada dista, não conhecemos que tenha sido nacionalisada, em Portugal, alguma fundação. Os advogados do nosso contencioso estão avisados,estão fora, prometeram-nos segunda-feira tratar do assunto. Agora pedimos-lhe a si que nos auxilie porque a sua experiência e o seu conhecimento das pessoas poderá talvez indicar-nos uma solução, um meio de contrariarmos de imediato esta sacanice. Que dlz?
                         - Fernando, também me surpreende essa notícia. Agora... A solução...Talvez seja conveniente seguirem a regra de não guardar segredos, de imediato espalharem a notícia. Se aparecer a confirmação, difundirem a notícia por todos os jornais, rádios, televisões.
                         - Alberto, como poderemos contrariar tais propósitos?
               Não costumo nem aprecio dar conselhos, sugestões, alviltres. Menos ainda quando pressionado pelas circunstancias, pela surpresa. Respondi:
                         - Ainda têem tempo para reflectir. Podemos almoçar juntos, hoje convido-os eu, e em cima dum bom repasto, conversaremos. Posso convidar também o Gahriel, a Laura, o Carlos, se não vêem inconveniente.
               Mais serenos, Fernando e Júlia deixaram-me no hotel, promentendo-me que viriam para o almoço dentro duma hora. Telefonei ao Carlos e à esposa convidando-os para almoçar no hotel, local que me pareceu mais sossegado e adequado que outro qualquer. Carlos, que me atendeu ao telefone, aceitou de imediato:
                        - Alberto, que coincidência, precisamente neste momento sabendo que regressou do Algarve, ia falar-lhe...Aceitamos o seu convite com imenso prazer.
                        - Ainda bem que pode vir. Só não convido também os seus filhos porque iremos falar dum assunto delicado, é provável que já o conheça. Cá os esperamos dentro de uma hora.    


                                                             #####

                  O poder político cega, corrompe. Deforma a realidade.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Pagamentos por impressão digital

              Já existem terminais para pagamentos por impressões digitais o que poderá quem quiser, consultar na internet. Essas máquinas poderiam ser adaptadas e utilizadas para registo de creditos e débitos dos méritos de acordo com o que escrevi no "Sonho de sorte" que estou editando em folhetim neste blog.
              Porque não se utiliza tal sistema em vez dos cartões de crédito para pagar uma despesa ou para efectuar opoerações de débitos ou créditos nas vossa contas bancárias? Porque cada cartão de crédito custa ao banco cinco a dez centimos do euro e é vendido aos seus depositantes a...Vejam quanto vos custou o ultimo que o vosso banco vos entregou e debitou.  

Folhetim - Sonho de sorte - 123 -

                                                                     LVIII


             No primeiro domingo do século XXI aceitei o convite de Fernando para almoçar, no restaurante perto do hotel onde estava hospedado. Quando lá cheguei, Fernando e Júlia estavam acompanhados por Laura e por Carlos, seu marido, que me foi apresentado por Laura.
                        - Carloa, o doutor Alberto é o escritor que está escrevendo o livro para a FAP.
            Prosseguimos no ritual costumeiro das apresentações e sentámo-nos. Passados os momentos de algum embaraço ou hesitação que sempre se seguem às apresentações, Fernando restabeleceu a comunicação:
                       - Carlos, temos mais um amigo comum. O Alberto tem gostro pelas artes, pela músuca, por um bom prato e pot um bom vinho. Gosta de história e tem conhecimentos de economia que com frequência embaraçam os teus colegas.
            Júlia, sem reagir à ironia do marido, acrescentou:
                       - Carlos, o doutor Alberto é sereno na resposta, agudo na apreciação do carácter, perdulário no tempo da conversação.
           O empregado de mesa entregou a ementa a Júlia e Fernando continuou a informar:
                       - O nosso amigo Carlos é um economista proprietário, com o seu pai, de uma editora e tipografia, poderá editar o seu livro. O Alberto tenha cuidado, este tipo, numa discussão, é como os cãis de raça "pelo de arame", pegando não larga, tendo razão só cede por desprezo, se o oponente é inimigo e covarde. No fundo, é bom tipo, tem as suas manias, mas é uma boa alma.
           Carlos petiscando num queijo fresco encolheu os ombros e disse, encarando.me:
                      - Não ligue, doutor Alberto, são meus amigos, logo são suspeitos. Quem tem autoridade para me avaliar é o doutor...
                     - Carlos, por favor esqueça o título, esqueça o doutor...
                     - Já esqueci, já esqueci. Eu também detesto os títulos. Vivia um senhor na minha terra de nome próprio José que não admitia que o tratassem por senhor José, dizia sempre "senhor José, não! Senhor dom José!" E isto porque um bisavô dele, alfaiate de profissão, ofereceu ao rei dois fatos e o rei, reconhecido, nomeou-o visconde! Alberto, conte-me um pouco do livro que está escrevendo sobre a FAP, isto é pura curiosidade...
               Tentei seaber se seria só curiosidade, se não entraria na categoria de indiscrição:
                     - Diga-me Carlos, que lhe interessa saber do livro?
               A pergunta não me pareceu incomodá-lo:
                     - Bem, Alberto, todos os livros que conheci, encomendados por empresas, pouco interesse têem, alguns com boas reportagens fotográficas e no resto, propaganda.
                     - Além duma provável foto na capa, essa terá de ser muito especial, a prosa irá revelar uma análise possuindo um pouco de economia, menos ainda de estatísticas e nada de biografias ou louvores a qualquer colaborador, seja um contínuo, seja um director - disse-lhe.
                     - Agora sim, despertou-me curiosidade!
                     - Espero que o Carlos seja o editor, será o primeiro a desvendar o mistério, se ninguém lho contar antes. Aliás diversos escritores guardam segredo  dos enredos dos seus romances... Questão talvez de ciúmes, do gosto pela posse ou ainda porque chegam a pensar e convencer-se que um livro, com aura de mistério, terá melhor venda. Esta últiima hipótese deve ser rara, pelo menos a mim não se aplica, só aceito escrever um livro como um desafio. Gosto do que me pagam, seria hipócrita se dissesse o contrário. Porém, nunca escrecerei um livro por contrato a tanto por linha. Se me agrada o desafio, até escrevo de graça.
            Carlo escutara bem atento o que eu lhe dissera. Em jeito de continuação, acrescentou:
                      - Apareceu-me um dia, na editora, um sujeito desconhecido, com um manuscrito, pedindo-nos que o publicássemos. Disse-lhe que só o poderíamos publicar se primeiro lêssemos o manuscrito, douta forma nada feito. O homem hesitou mas acabou por concordar, pagou até a edição por adiantado, depois que a aprovámos. Sabe Alberto, o que aconteceu depois? Imagine que o homem exigiu acompanhar a edição, folha a folha, encadernação e acabamentos finais, contando os mil exemplares da edição e exilgindo-nos no fim uma declaração de que não imprimiríamos nem mais um exemplar sem a sua autorização!
                       - Mas afinal, sempre editaram o livro?
                       - Permitimos que o homem acompanhasse todo o trabalho da edição.
            Eu nunca entrara numa tipografia, poucas vezes numa editora, sentia o mesmo desejo que sempre sentia perante o desconhecido.Procurava não atingir as raias da indiscrição mas pouco resistia ao desejo de fazer perguntas, como qualquer criança de mente aberta, sensível e acessível a tudo o que ignora:
                       - Carlos, em quanto tempo consegue editar um livro?
                       - Depende dos contratos ou compromissos que temos. Do princípio ao fim, sem interrupções inesperadas, um livro médio, de duzentas a trezentas páginas, poderá não tardar mais que três ou quatro dias.
                       - Conseguem completar e entregar um livro num prazo tão curto?
                       - Conseguimos.
                       - E imprimem sempre a partir dum texto original escrito à máquina ou no computador, coompleto e revisto?
                       - Nem sempre. Por norma fazemos sempre uma revisão, com frequência aparecem muitos erros, duplicações, palavras desnecessárias, defeitos na sintaxe. Os erros corrigiimo-los, alterações ao escrito original propomo-las ao autor. A editora dos seus livros não procede assim? Para esse trabalho de revisão colabora connosco, a tempo inteiro,  uma senhora formada em letras. Olhe, se estiver interessado no emçprego, essa senhora anunciou-nos  que irá despedir-se dentro de dois meses...
                       - Se me conhecesse um pouco melhor saberia a resposta. Gosto muito de ler mas sós os livros que escolho. Tal com não gosto de beber um vinho por obrigação. Posso prová-lo, mas se não gosto, não o bebo. Posso folhear um livro desconhecido, dum autor desconhecido, ler algumas linhas. Quando me oferecem um livro sinto sempre o impulso de correr à livraria para o trocar. o que por vezes é impossível, por exemplo se traz uma dedicatória. Que pode ser sincera mas que sempre me arrelia por aquele motivo, não o poder trocar. Sou bastante crescido e independente para recusar vinhos ou livros. Eo Carlos, lê tudo o que lhe oferecem?
                       - Reconheço que sou incapaz de recusar uma oferta de um vinho ou de um livro, espero que um dia eu consiga proceder como o Alberto. Em geral os autrores dos livros que editamos oferecem-me um com a costumada dedicatória e embaraça-me muito quando o escritor me pede uma opinião ou uma crítica - disse Carlos.
                       - Se o livro não lhe agrada, o que responde?
                       - Não consigo ser directo, dizer o que sinto, não pelo reeceio de perder um cliente ou um bom autor. Sabe tão bem ou melhor do que eu que todos os autores nem sempre escrevem bons livros. Editam-se livros medíocres de escritores contemplados com um Nobel, por vezes tão maus que apenas se editam após a sua morte. A editora sabe que um livro com a referência na capa do prémio Nobel  venderá sempre uns milhares de exemplares. É Nobel? Compra-se, fica bem na biblioteca.
                       - Carlos, diga-me, gosta do que faz na editora?
                       - Muito. Depois do que lhe disse, compreeendo a sua pergunta. Como em quase todas as empresas familliares, os patrões são para toda a obra...
               Carlos sorriu para os outros companheiros na mesa. Tinham acompanhado sem interrupções a conversa do Carlos comigo.