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quarta-feira, 29 de maio de 2013


As páginas da vida




Não as escrevemos. Apenas as revemos de vez em quando. Temos páginas em branco - confessemos que a maior parte – temos páginas negras, páginas amareladas pelo tempo, páginas brilhantes e páginas comprometedoras. Arrependemo-nos das páginas em branco com a raiva de quem desperdiça algo de muito valor ou antes, de valor incalculável, cada página em branco é uma página onde, nesse dia nada escrevemos, sem uma palavra amiga, sem um gesto de ajuda, sem sequer um sorriso para quem nos olha, vinte e quatro horas que não recordamos porque nada ficou gravado no livro da nossa vida, vinte e quatro horas dum nada que apenas se transforma em remorso por nada ter escrito nelas. As páginas negras são as que estão escritas debaixo do negro da página que nunca poderemos reler porque fomos nós que as pintámos de negro para que, à força, não mais as conseguissem os ler. Mas o negro lá está fazendo-nos lembrar aquele segundo, minuto ou hora em que a maldade nos venceu. As páginas amareladas pelo tempo são as ditadas pela tristeza, a côr da tinta quase desapareceu, a vida vai-nos ensinando a folheá-las cada vez menos, mas a conservar visível o que está lá escrito para que a saudade por vezes ainda tenha o direito de as visitar. As páginas comprometedoras, essas deixo que o tempo as vá comendo. As páginas restantes, vou-as conservando quanto a memória o permita.

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