"Sabes, a veces tengo la sensacion que las personas pierden - dia a dia - su capacidad de asombro". Cito a minha neta chilena Clarissa Mingo Quadros, que me enviou uma mensagem cheia de ternura e de sentido. Já é autora de dois livros,recheados de fotos, sobre a vida antiga no Chile, Livros que o município de Santiago do Chile editou, com fotos que, sem excepção, são agradáveis de ver. Mas fotos de desgraças passadas nesses tempos no Chile, nem uma.
Aqui, no nosso país, passa-se o mesmo, em relação com o assombro, com maior intensidade que no Chile. Perdemos dia após dia, o pasmo, a admiração pelo que nos acontece e aconteceu, pelo que se passa e se passou de bom à nossa volta, nas nossas vidas e na vida dos cidadãos.
Grande responsabilidade têm a imprensa, a televisão. Menos a rádio, conforme tenho reparado. Todos os dias leio e folheio páginas em diversos jornais, todos os dias vejo nas TVs notícias e entrevistas.E quase tudo o que leio ou ouço, são acidentes, desastres, furacões, terramotos, assassínios, corrupções, atentados. Um acidente passado na Malásia é transmitido pelas tvs e rádios passados poucos minutos. E até com frequência crescente, é transmitido ao vivo porque um amador armado de câmara de video estava presente no momento. Qualquer dia, se não existir uma má notícia para difundir, estará preparado um acidente ou desastre, montado e pensado para cumprir a necessidade de preencher esse espaço de tempo obrigatoriamente catastrófico.
E por todo o nosso mundo, por todo o universo, há em cada momento acontecimentos agradáveis de conhecer. Exposições, obras, sucessos, acasos felizes, acontecimentos que tornam a vida mais agradável ou de consequências favoráveis para a humanidade. Durante um ano realizam-se milhões de intervenções cirúrgicas. Uma que foi mal sucedida, em geral por uma causa fortuita ou desconhecida, é notícia de primeira página em quase todos os jornais e televisões. E, não sei se de propósito, nunca vi, nem vejo, referido em qualquer jornal ou televisão, a percentagem de sucessos nessas intervenções. Por respeito e consideração pelos profissionais que trabalham nessa especialidade, deveria ser obrigatória essa referência.
Quando fui operado e me beneficiaram com dois "by-passes", um cirurgião disse-me : 97% destas operações são sucessos.Não me disse, quando assinei a autorização para a operação : olhe que poderá não escapar, 3% dos operados não escapam.
Há excepções : a "Hola", a "Caras" e alguns periódicos por todo o país, dão-nos mais notícias agradáveis, que relatos de desgraças. E ambas essas revistas vendem mais que os periódicos dos países onde são editadas.
Será que os profissionais da imprensa e da televisão têm uma formação que os encaminha nesse sentido ? Que o que lhes ensinam é que a desgraça é o que aumenta e alimenta as vendas ?
Porque será que sobre isto não há uma discussão séria e profunda ?
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