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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Num almoço, à mesa , em 1937

          Sempre que pensamos um  pouco sobre um pouco das nossas vidas, por vezes a memória dá-nos uma surpresa e contempla-nos com o inesperado. Se nos concentramos  numa determinada época, por vezes temos que esburacar e esquadrinhar o buraco do passado, para que surja uma situação insólita, uma cara cujo proprietário  não nos lembramos, um acontecimento cujo cenário pouco a pouco retratamos na mente. É frequente,  quando estamos conversando com alguém ( uma das vantagens de conversar) e por associação de ideias, encontrarmos mais um tema para discutir.
          E agora, escrevendo mais uma mensagem deste blog, apareceu-me uma imagem bem nítida da época dos meus dez anos. Estou a ver os meus pais  à mesa, durante o almoço, conversando. A minha Mãe apresentando  problemas caseiros, o meu Pai quase sempre virando a conversa para factos da sua vida passada de oficial da marinha de guerra portuguesa.
          Estou recordando o quanto ficava intrigado porque sem mais nem menos, eles começavam a falar em francês e, depois de rir muito, a conversa passava de novo a ser em  português .
          Com dez anos, comecei a frequentar  o primeiro ano do liceu, onde o doutor Cardigos, nos leccionava  francês. Próximo do Natal desse ano, o meu vocabulário dessa língua já era apreciável. E um dia, estou a recordar a cena, eu percebi uma brejeirice que o meu Pai disse e comecei a rir com eles. Entreolharam-se,  a minha Mãe ficou muito corada e o meu Pai, tentando disfarçar mas rindo ainda mais alto disse : 
             - "Rosa, ele tem lições de francês no liceu" - e virando-se para mim, em jeito de satisfação e disfarçando o riso com o guardanapo, disse : "olha Alberto, às vezes eu e a tua Mãe temos de falar em francês para que as raparigas que nos servem à mesa não nos 
compreendam..."                  

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