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quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

"Os lagos" (versos de Fernanda de Castro)

"Que horror!
Não sei se causam nojo, se piedade,
Os lagos dos jardins,
Os tanques da cidade.


Oh, esta água presa, encarcerada,
condenada
a não correr à solta.
Pior ainda: a água, resignada,
sem gritos, sem revolta.


Antes a água das poças
viscosas e repelentes:
ao menos entra na terra
e vai abrir as sementes.


Antes a água da chuva
a enlamear a cidade:
quanto mais lama na terra,
no céu maior claridade.


Antes a água que gela
e se torna pedra forte:
feliz de quem é capaz
de mudar a sua sorte.


Antes a água das cheias3
destruidora e ruim:
é mortal, mas não conhece
princípio, meio nem fim.


Antes ser água do mar,
a sofrer,cantar, rugir,
de que ser água parada
eternamente a dormir.


Antes ser...
                     ouvi, oh água
                     prisioneira, encarcerada.
antes ser pranto profundo,
antes lágrima, antes dor,
 antes abismo sem fundo,
antes matar e morrer,
mas, primeiro, correr mundo! "   

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