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quarta-feira, 30 de abril de 2014

Entretengas

         O Jesuíno entretinha-se durante as horas de serviço a encontrar mistérios diversos que se haviam atravessado no seu caminho da vida. Quantas voltas de linha tinham os carros de linha grandes médios e pequenos, quantos espirros tinha soltado por dia, por mês e por ano, quantos bafos de vapor deitava aquela locomotiva a entre Tunes e o Barreiro, quantas vezes a vizinha do quinto esquerdo se assomava à janela, quantos passos por dia dava o polícia de serviço, quantas vezes se tinha coçado desde que nascera e quantas borbulhas arranhara e eliminara até ontem. Porém o mais importante era saber quantas vezes teria começado a pensar no que quer que fosse, quantas palavras teria dito desde ontem, quantas vezes teria olhado para a sua sombra.
          E chegou à conclusão que a sua vida fora bem recheada de coisas importantes.   

terça-feira, 29 de abril de 2014

O bafo de leão

                  Nos anos sessenta, o Zanati, que eu conhecia em Angola, trabalhava na baixa de Cassange, a  zona, ao Norte de Malange, entre a povoação de Samba Caju e a Lunda, zona então quase inexplorada por emigrantes portugueses, povoada apenas pelos habitantes autóctones,  por um funcionário do Instituto do Algodão de Angola e percorrida amiúde por funcionários da concessionária algodoeira da região, entre eles o Zanati. Este andava no seu "jeep" por  toda aquela extensa zona, transportando sempre a sua espingarda 325, precaução necessária, ainda existiam por lá alguns felinos.
               Um dia, após o meu regresso de Angola, encontrei o Zanati, no aeroporto de Faro. Relembrámos os tempos passados em Angola. E contou-me que, uma manhã, visitando e percorrendo a pé algumas lavras de algodão, ouviu o ajudante  que o acompanhava, dizer-lhe - "Patrão, lá à direita, leão!".  Zanati estacou. E a uns cinquenta metros confirmou o aviso do ajudante. Viu o leão.  Empunhou a arma, virou-se lentamente para a direita e deu um passo atrás para se colocar em posição de tiro. Mas por azar, enfiou a perna que recuara, num buraco de jimbo* . Estatelou-se, caindo para trás  soltando a arma. O leão, dando por ele, rapidamente se aproximou, não lhe concedendo tempo suficiente para levantar-se. Ao cair tinha arranhado um braço nos espinhos das ervas secas.  O leão,. um macho de cinco anos, imobilizou-o pondo-lhe uma pata em cima do peito, cravando-lhe as unhas possantes para o segurar.  Sentindo o cheiro agradável do sangue que aflorava no braço, efeito das arranhadelas, começou a lamber-lho, a língua bem áspera aumentando as feridas..
             Eu sorria da história. O Zanati interpretou o meu sorriso como de dúvida,  E disse-me, abrindo a camisa e mostrando-me o peito:
                         - "!Olhe, ainda cá tenho as cinco garras marcadas!". -
             E na realidade as cinco marcas estavam bem visíveis.
                         - E depois, o que aconteceu ? - perguntei - lhe eu.
                         - Ora, o meu ajudante, desatou a atirar pedras tentando distrair o leão, acertou-lhe uma, o bicho voltou-se e perseguiu-o, dando-me tempo para me levantar, pegar na arma e matá-lo.
            Eu continuava, no íntimo a pensar que era mais uma história das muitas empoladas e inventadas por caçadores. E disse-lhe:
                         - Que aventuras passou você em Angola !
                         - Mas olhe, quer saber o que me impressionou mais nessa ?
            Eu continuava com o mesmo sorriso de dúvida. Mas ele continuou:
                         - O mais impressionante, o que  recordei até hoje com mais pormenor, foi o bafo  do leão exalado a centímetros  da  minha cara, enquanto me lambia o braço, aquele bafo tão horroroso vindo do estomago que digeria carne e  me fazia esquecer o medo e a dor causada pelas lambidelas do bicho ! Até hoje nunca mais cheirei nada pior, nada mais fétido e intenso!   

domingo, 27 de abril de 2014

O que o berço dá

     O que  o berço dá, a tumba o leva. - vulpes pilum mutat, non mores. A raposa muda de pelo, não de costumes.
     Pode escrever-se um grande tratado, um tomance inolvidável, contar-se uma história inesquecível sobre ambos os adágios..
     Visando pais de famílias, proprietários, políticos.  

sábado, 26 de abril de 2014

O Caneças

    O meu ex-colega  e dinossáurio, Alvaro Sabbo. cavaleiro ilustre - no seu curriculum consta a participação em mais de 900, não é engano, novecentos concursos hípicos(em mais de setecentos classificado entre os três primeiros) - contou-me que, entre os muitos cavalos que conheceu e ensinou, houve um que sempre lembrará, pela memória que revelou.
       Os cavalos, referiu-me, entre outras virtudes caracterizavam-se, sem excepção, pelo medo e pela memória. O medo, explicou-me, porque as centenas de cavalos que eram anualmente importados pelo ministério da defesa de então, provinham na sua maioria, da Argentina. Onde viviam e se reproduziam em plena liberdade na pampa imensa daquele pais. Quando chegavam a Portugal e os desembarcavam, tinham de os levar de noite, em grupo, enquadrados por cavaleiros militares,  no maior silêncio possível, para o quartel de Mafra. Donde, após um período de adaptação às baias do quartel, eram distribuídos para os diversos regimentos de cavalaria de Portugal.
           O meu antigo camarada do Colégio Militar, terminado o curso da escola de guerra de então, começou a sua carreira como aspirante num regimento de cavalaria de Lisboa: levantava-se muito cedo na casa de seus pais e apresentava-se ao serviço, todos os dias, pontualmente às oito da manhã. E, porque sempre chegava ao quartel com alguma antecedência, passava esse tempo observando os cavalos do regimento. Um dia reparou num cavalo  do tipo "percheron", normalmente um cavalo possante, de pernas anteriores possantes, revestidas de  muito pelo acima dos cascos. O cavalo agitava-se, os tratadores ainda não tinham comparecido. Vendo que o cavalo tinha sede e fome, deu-lhe água e ração.  O cavalo agradeceu-lhe com o resmungo característico dos cavalos quando estão contentes com o trato que lhes prestam. O que depois repetiu muitas vezes, sempre que chegava ao regimento bastante cedo. Esse cavalo, já tinha o nome de Caneças, e o Sabbo, como é normal entre os que gostam de cavalos, tratava-o sempre pelo nome, quando lhe dava água e ração. E o cavalo sempre agradecia com o tal resmungo.
          Passados os meses do seu tempo de aspirante, o Álvaro foi promovido e foi prestar serviço noutro quartel, continuando a sua carreira de oficial e de participante em concursos ´hípicos por todo  o país e pelo estrangeiro.
          Mais de dez anos depois, logo que promovido a capitão, foi destinado para outro quartel, na província. E, como lhe competia e cumpria com gosto, começou por passar revista à cavalariça. Encontrando um dos tratadores fez-lhe as perguntas da praxe, se havia problemas com alguns dos cavalos, quais era mansos, quais eram difíceis no trato. E o soldado com quem falava entre outros pormenores disse-lhe:
                      - Meu capitão, manso, manso é o Caneças...
                      - O Caneças? - disse o Álvaro, levantando a voz, admirado. 
         E o Caneças, numa baia a poucos metros de distância, respondeu de imediato, com o tal resmungo de alegria, ao reconhecer a voz de quem o tinha tratado tão bem, anos antes.
         Esta é a memória que têm os cavalos, manifestando sempre quem lhes fez bem.
         Ao contrário do que, com frequência, se verifica na espécie humana.        

sexta-feira, 25 de abril de 2014

No 25 de Novembro de 2014

            No próximo 25 de Novembro de 2014, como sucedeu em anos anteriores, publicar-se-ão um ou dois artigos sobre essa data. Estejam atentos. E comparem.

25 de Novembro

          No ´"Público" de hoje com 76 páginas no bloco principal, dezenas de artigos sobre o 25 de Abril. Que foi o primeiro grande passo para a reconquista da liberdade, não o esqueçamos. Contudo, , nesses tantos artigos apenas ligeiríssimas referências ao 25 de Novembro. Não o esqueçamos. Terá esse periódico negado a publicação dum artigo ou dum esitorial mais equilibrado?

25 de Novembro de 1975

Comemora-se hoje o 25  de Abril de 1974. Com muitos discursos em todos os municípios, no parlamento e noutras cerimónias. E é dia feriado, pela liberdade readquirida pelo fim duma ditadura, pelo fim da censura, das prisões sem culpa formada, do Tarrafal e doutras prisões políticas. Isto será  o mínimo que irão ensinar  aos jovens que frequentam as escolas. E são verdades. E foi bom que tudo isso tenha acabado.
           Mas não  devemos ocultar outros factos e acontecimentos da história, sob pena de que quando os jovens de agora forem completamente informados passem a desprezar os que insistiram em apenas contar parte da história. Porque o fazem pouco me interessa, o tempo fará cair o desprezo sobre eles, reproduzido em esquecimento..
E o facto, quanto a mim ainda mais importante que aquele 25 de Abril, foi o 25 de Novembro que lhe sucedeu no ano seguinte.: Porque, não esqueçam, livrou-nos duma ditadura ainda mais perigosa que a de Salazar, livrou-.nos da ditadura comunista para a qual caminhávamos a passos largos nesses meses entre essas duas datas.
        Não sei bem porque o ocultam os que teimam em não considerar que o 25 de Novembro de 1975 deveria ser igualmente feriado e merecer, pelo menos, as mesmas comemorações. Não sei bem  porque tentam fazer esquecer essa outra data. Eu, por mim e desejando que todos os pais e avôs façam o mesmo, não deixarei de lembrar aos meus filhos, netos e bisnetos que em ambas as datas se reconquistou a liberdade e que representa grande hipocrisia mencionar a primeira e tentar que a segunda seja esquecida. Ou  ainda, claro, esquecer a primeira e só mencionar e festejar a segunda.
      

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Prólogo do meu segunco livro

Escrevo um livro, porque me dá uma satisfação imensa completar cada

folha A4 dentro da trama, do romance, da novela que engendrei, idealizei, sonhei e

defeni no sumário ao qual me subordinei para relatar a história. E ainda porque me sinto

contente por deixá-lo aos meus descendentes e amigos, tentando conseguir, como

idealilzo, preencher-lhes com agrado momentos de lazer. Também porque me apraz

especular sobre o que os leitores sentirão quando o lerem, as discussões, comentários e

críticas que surgirão, o tédio ou a alegria de conhecerem uma parte da minha vida, dos

meus sentimentos, da minha fé, das minhas tendências e ideais.

Quando escrevemos não nos limitamos a pespegarmos e imprimir uma

história, num livro mais ou menos atraente. ´Para ali salta algo de dentro de nós como

impelido por um vento que abre uma porta e traz um perfume diferente que nos inebria

e noa atrai. Atravéz das palavras que deixamos no livro, fica muito mais que a história

que relatamos com maior ou menor riqueza de pormenores, com mais ou menos

sombras e luz, com mais ou menos características das situações, das personagens, da

comédia ou do drama que relatamos. Damos tudo, expomos tudo o que conseguimos,

entregamos a alma. E nesses momentos esquecemos tudo o que se passa á nossa volta.

Rebuscamos a memória, encontramos surpresas e aquele vento pela porta

aberta, traz-nos um grande sôpro de vida diferente.

Lançamento do meu segundo livro

Tenho-me ocupado nos últimos dias com o lançamento do meu segundo livro, razão do meu silêncio blogueiro nos últimos dias
. Acontecimento ( importante, claro) que será efectuado a partir das dezanove horas na Livraria Ler Devagar, na Lx Factory, em Lisboa.
            Título do livro:
                                              Pensamentos subtis (ou talvez não)
                                              Versos livres (por vezes não)
                                               Contos curtos


             Poderei enviar o livro, à cobrança(12 euros mais portes) a quem o desejar e para qualquer  parte do mundo conhecido. Para os que vivem noutro planeta ( como têm passado, há crise por aí?)  não se esqueçam de me indicar a morada completa com o código planetário respectivo.
         

segunda-feira, 21 de abril de 2014

O grande problema

             O problema, o grande problema, é que o nosso Estado, as finanças do nosso país, têm pouco dinheiro. Temos uma dívida enorme e a realidade não é apresentada com lealdade ao nosso povo. Apresentam estatísticas, gráficos , conversa técnico-económica, com termos , raciocínios e explicações  que só uma minoria muito minoritária pode entender, bem se percebendo que é com essa mesma intesão de poucos perceberem, que assim falam, para que o barulho seja pequeno. Lembram-me os médicos de há muitos anos que para não alarmarem os pacientes sempre elaboravam e diziam o diagnóstico em latim ou numa linguagem que apenas os colegas entendiam.

domingo, 20 de abril de 2014

Meditando

Aventuro-me nessa distração de  pensar, tão salutar, agradável e proveitosa, que nos encaminha com as asas da mente, para o roteiro infinito das ideias, das memórias, dos momentos que nos trouxeram  felicidadade, prazer, agrado, em muitas ocasiões, neste roteiro da vida  nos oferecida sem qualquer exigência, das conhecidas exigências que quase sempre sucedem a um favor concedido.   

sexta-feira, 18 de abril de 2014

25 barra 4

             Não acham que é tempo de deixar de  falar no 25/4 ? A pergunta na moda," o país está melhor?" parece-me ser uma pergunta idiota, sem sentido, talvez um pouco perigosa. No nosso parlamento é vulgar, de quase todas as sessões, em voz comedida ou aos gritos, ouvirmos  os distintos pais da pátria chamarem  mentirosos ou pior, a outros distintos pais da pátria. Não há muito tempo seria motivo para uma bofetada, um duelo ou um processo em tribunal. E os que são pais provavelmente não se importarão que os filhos, em casa, chamem mentirosa á mãe ou mentiroso ao avô.
            E quanto à pobreza?  O que sei é que antes do 24/4 não havia desemprego, quem queria trabalhar não passava fome, Porém, não esqueçamos, havia indigência, entre os mais velhos.  Mas a esperança de vida, pouco acima dos sessenta anos, muito a limitava.
             O grande problema da ditadura de Salazar era o medo, limitação da liberdade para os que tinham a língua leve. E a liberdade é maior conquista que um povo pode alcançar quando a tem cerceada, diminuída, ligada à falta de liberdade de expressão.
            Mas hoje temos outros grandes problemas: a corrupção, o domínio do poder financeiro, poder ligado ao petróleo, ao poder do dinheiro.
            E a perda encoberta da liberdade, de forma oculta ou mais ou menos encapotada, o problema da instrução, da assistência social, condiciona tanto ou mais as nossas vidas que antes. E o desemprego é uma forma ou tem consequências que originam e conduzem à  escravidão.
            Não sei, em verdade não sei se estamos melhor.   

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Insisto no fazer dias

           Hoje foi dia de anos duma pessoa nossa amiga.
           Durante a conversa, perguntei-lhe: -  Quantas vezes comemoras os dias que fazes?
           Deu-me um sorriso e disse:- "Tem razão, vou abrir o espumante noutros dias diferentes dos meus dias de aniversário natalício...
           Dizer coisas destas por vezes fazem-nos ganhar um sorriso.  

Medo da morte

           Medo da morte? Porquê? Não é porque só se morre uma vez que não receio nada quando penso na morte. É condição da vida, não sabemos donde viemos quando nascemos, não sabemos para onde vamos quando morrermos. Não sabemos sequer se só temos uma vida. Sabemos muito sobre a vida depois de vivermos umas dezenas de anos, se temos, se adquirimos alguma capacidade de pensar. E os anos de vida também nos ensinam muito sobre ela. Notamos p.ex. que os animais chamados de irracionais (não concordo com que lhes chamem de irracionais) sempre tem amizade, nunca agridem nem matam quem os alimentou e acarinhou desde que nasceram(sim, até os tigres, os leões, os rinocerontes) . E só o homem (mas muito menos a mulher), dito animal racional é que morde a mão e até mata quem o alimentou e acarinhou desde que nasceu.
           O medo da morte, quanto a mim, não o sinto. A morte até me dá curiosidade, gosto de viver, se me foi concedida a vida, se a minha mente aceita e disfruta da vida; se a morte faz parte da vida, por que razão ter medo dela? O acto mais ridículo é chorar a morte  de alguém, se não sabemos o que  espera essa ou esse o depois de morrer.  É o mesmo em minha opinião que chorar um pássaro que voou  e desapareceu, um fruto que o vento levou, um peixe que foi na corrente, um sonho que esquecemos.   

terça-feira, 15 de abril de 2014

Palavras

            Conversa é uma troca de palavras amistosas que aceitamos realizar com amigos ou com outras pessoas sobre assuntos de interesse. Verborreia é um conjunto de palavras que ouvimos sem qualquer ideia válida, sem sentido útil ou eficaz. Conferência, a dádiva de um discurso literário, científico ou humorístico. Perífrase  ou circunlóquio, uso ou discurso de muitas palavras para exprimir o que se pode dizer mais clara e concisamente em poucas. Falácia ou falatório, muitas palavras que pretendem enganar ou encobrir arteirice .
             Os livros são escritos para que perdurem ideias, histórias, acontecimentos . Mas as ideias  os factos ou acontecimentos, por vezes bem importantes, que apenas são expressos em palavras, são esquecidas, Ainda não se inventou um processo, um meio de conservar a palavra proferida, sem ser através da sua publicação em livro, jornal ou revista ou da sua gravação em disco ou "cassete", meios que sempre se deterioram.         Que riqueza teríamos se possuíssemos as conversas que tiveram com gente do seu tempo, Eça de Queiroz, e muitos outros autores de clássicos da antiguidade ou do presente !
             O que seria podermos escutar hoje, Séneca nos seus discursos ou daqui a alguns anos, Sócrates, o grego antigo, nas suas discussões ? 

segunda-feira, 14 de abril de 2014

O prazer da luitura

               O prazer da leitura é dos mais simples, mais proveitoso, mais económico. Que outro prazer poderemos ter ou encontrar à nossa disposição de forma grátis, muito variada, de acordo com os nossos gostos mais simples, mais rebuscados, mais populares, mais profissionais ou mais eruditos e que nos sejam pouco ou nada trabalhosos ?

domingo, 13 de abril de 2014

No passeio, na hora do almoço

             Caminhavam desprendidas, despreocupadas, sem pressas, pelo passeio da rua:
                   - Atão tu Idalina ficastes-te?
                   - O qé que qrias, o parvo na me dêxava falar, puxava-me p'la manga, só me dizia que s'alembrava munto bem de mim, caté tinha dançado comigo no União, caté conhecia a Leopoldina, a minha irmã, tamem lá do clube, o raio do homem até na era feio...
                    - Atão q'idade é qêle tinha?
                    - Ora! Sei lá!... Pr'aí 'uns trinta anos, ele na parecia más velho q´'o teu irmão Januário e até me parecia más bem parecido, o raio do homem na me largava...despois o raio do homem começou a dizer-me "a madama é muito interessante", olha Josélia eu já na sabia p'ra onde m'havia de virar só lhe dezia "eu não o conheço, eu não o conheço" e ele continuava, pegou-me no braço e disse-me " atão na se alembra, menina, que passámos uma hora juntos?"
                    - Idalina, essa de te chamar menina é bôa!
                    - Oh filha, o homem era tam bem educado, bem parecido, bem vestido, se o marido que tenho lá em casa se vestisse daquela maneira, era outra coisa...
                    - Mas Idalina e o tal homem que te pegou no braço...
                    - Olha, na sei o q'é que me deu, tenho a cabeça à roda, tenho que ir p'ra casa tenho almoço ao lume, adeus... 
                   
                 
                   
      

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Compensação e retribuição

           Esperamos retribuição e compensação de quem tratamos com amizade e consideração, a quem temos proporcionado apreço e condições de vida acima do que esperam de nós. No entanto durante a vida temos conhecido alguns casos, felizmente raros, em que a retribuição foi inversamente proporcional às regalias e á estima que lhes foram concedidas . Conheci indivíduos acolhidos de braços abertos por um país, que os recebeu com todas as regalias e que inverteram a bússola de cento e oitenta graus, logo que outros políticos de diferente ideologia, se assenhorearam do país,
         Os animais irracionais, desde um pássaro a um leão, nunca mordem a mão de quem os alimenta. e acarinha-  

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Sem rima

            Pensei em escrever um dicionário de rimas, de palavras que terminam os versos, compondo a rima: filibusteiro com marceneiro, audaz com incapaz, raro com avaro, etc.. Mas se eu também gosto  de escrever versos sem rima, para quê aquecer a cabeça só porque  outros muitos gostam da rima?  Mesmo num fado podem cantar-se versos livres, que o fado assim cantado não perde a virtude de encantar, na voz dum fadista com sentimento, alma, emoção. Não é desequilíbrio, a prosa também pode ser desequilibrada, nas ideias que expressa, na emoção que provoca, na fantasia que suscita.
           Seja prosa, seja verso, se quem lê começa a pensar, a sorrir, a meditar, o autor merece elogio. Se sabe que os leitores sorriem com o que escreve, não pela piada mas pelo contenatamento que lhes provoca o que leem, cumpriu uma boa missão..  

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Perseverança

             A perseverança é uma das qualidades que se exige para conseguir o que seja difícil de alcançar,  Ninguém o contesta, que eu saiba. Sem pertinácia não se vai longe. Hesitando, titubeando, ficando hirto, perplexo e inactivo perante qualquer dificuldade, nunca se cumpre nada que apresente dificuldades. Quem assume desta forma a resolução de problemas, raramente cumpre objectivos
valiosos. 

domingo, 6 de abril de 2014

Racionais e irracionais

            Por animais domésticos classificamos todos os animais irracionais que convivem ou podem conviver com a mulher e com o homem. Mas há diferenças marcantes entre eles. Os felinos são sempre perigosos quando os provocam, os cavalos pouco admitem os maus tratos, os mansos como as cabras e as ovelhas, são sempre mansos. No entanto, todos os que foram criados com carinho desde que nasceram, são sempre amigos de quem os acompanhou e alimentou com carinho desde que nasceram. Mesmo um leão ou um tigre. reconhecem, passados muitos anos, quem os criou. 
            O mesmo não sucede com os homens (quase nada com as mulheres): com frequência, quando adultos, mordem a mão de quem os criou e alimentou na infância. Por isso não concordo que se  classifiquem de racionais.
             Porque nesses, a razão não impera.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

"As cinco leis da estupidez" de Carlo Copolla"


A estupidez é uma (in)qualidade em ascensão. É verdade que me preocupo mais com a minha mas não deixo de observar a dos outros. Sobretudo quando a estupidez é a chave do sucesso de alguns. Já a estupidez quando molda importantes decisões tomadas por pessoas importantes, é assustadora. Geralmente, culpa-se a perversidade intencional, a malícia astuta, a megalomania, e outros defeitos morais pelas más decisões, claro que tudo isso conta, mas qualquer estudo cuidadoso da história, ou dos fatos, leva à conclusão invariável de que a maior fonte de terríveis erros é puramente a estupidez. Quando ela combina com outros fatores (como acontece amiúde) os resultados podem ser devastadores. Um dos muitos exemplos de estupidez é o uso da intriga e do poder de manipulação no que se chama de “comportamento maquiavélico”. O que parece significar que quem o diz não chegou a ler os livros de Maquiavel, porque, seguramente, não é isso o que o velho Niccolò quis dar a entender. Que estupidez!
Outra fato que me surpreende (ou não) é o escasso material dedicado ao estudo de um tema tão importante. Com universidades a ter departamentos para analisar as complexidades matemáticas, os movimentos das formigas do Amazonas, a historia medieval da ilha de Perima, é uma estupidez que não haja uma Fundação ou Conselho Consultivo que apoie os estudos de Estupidologia. Há pouquíssimos livros sobre o tema. Li um, em adolescente, e do qual - por estupidez! - nunca me esqueci: Uma Breve Introdução à História da Estupidez Humana de Walter B. Pitkin, da Universidade de Columbia, publicado em 1934. Porque é que o autor chama de “uma breve introdução” a um livro de 300 páginas? É uma estupidez! No fim do livro, diz: Epílogo: agora estamos prontos para começar a estudar a Historia da Estupidez. E nada se segue. O Professor Pitkin foi um homem sensato. Sabia que o tempo todo desta vida era pouco tempo para cobrir, um fragmento que fosse, de um tema tão vasto. Por isso publicou a Introdução, e, pronto, foi tudo. Pitkin estava consciente da carência de trabalhos sobre o assunto. E, embora tivesse à sua disposição uma equipa de investigadores que realizou pesquisas nos arquivos da Biblioteca Central de Nova York, estes ... nada encontraram. O que demonstra que eram estúpidos! Segundo Pitkin, havia apenas dois livros sobre a matéria: Aus der Geschite der menschlichen Dummheit de Max Kemmerich, e Über Dummheit de Leopold Loewenfeld. Infelizmente não falo alemão, apesar de “Dummheit ” me parecer claro; mas creio que Kemmerich e Loewenfeld não devem ter tido falta de material para redigir esses estudos, a julgar pelo que aconteceu na Alemanha em 1933 e nos anos seguintes. Na opinião de Pitkin, 4 de cada 5 pessoas tem um quociente de estupidez suficientemente grande para serem “estúpidas”. Isso equivaleria a 400 milhões de pessoas, à época que ele escreveu o livro; agora são mais de 4 bilhões. Esse número por si já é uma estupidez!
Um dos problemas da Estupidez é que ninguém tem uma definição realmente boa. De fato, os génios são amiúde considerados estúpidos por uma maioria estúpida (apesar que ninguém tem, tão-pouco, uma boa definição de genialidade). Mas a estupidez definitivamente existe, e há muito mais dela do que se julga. Por acaso, até talvez governe o mundo – o que é claramente comprovado pela forma com que ele é governado.
50 anos depois, Carlo M. Cipolla, Professor Emérito de Historia Económica em Berkeley publica “Il Mulino” em Bolonha em 1988. Nesse livro há um pequeno ensaio intitulado As Leis Básicas da Estupidez Humana, que talvez seja o melhor que já foi escrito sobre a matéria. As Cinco Leis da Estupidez, segundo Carlo Cipolla, são as seguintes: Primeira: Subestimamos o número de pessoas estúpidas. Segunda: A probabilidade de que uma pessoa seja estúpida é independente de qualquer outra característica de sua personalidade e o quociente de estupidez é o mesmo em ambos os gêneros e em todas as raças ou etnias. Terceira: Uma pessoa estúpida é alguém que provoca dano a outra pessoa, ou a um grupo de pessoas, sem conseguir vantagem para si, ou mesmo com prejuízo próprio. (Voltaremos a essa Lei, porque é o conceito central da Teoria de Cipolla) Quarta: As pessoas não estúpidas subestimam o poder de causar dano das pessoas estúpidas. O que sugere que as pessoas não estúpidas são assim mesmo um pouco estúpidas. Quinta Lei: A pessoa mais perigosa que pode existir é a estúpida.
Existem 4 tipos de pessoas, segundo ele, dependendo de seu comportamento: O Infeliz (ou desesperado): alguém cujas ações geram prejuízo próprio, mas que também criam vantagens para outros. O Inteligente: alguém cujas ações geram vantagens, igualmente para si e para os outros. O Bandido: alguém cujas ações geram vantagens para si, ao mesmo tempo que causam danos a outros. O Estúpido: já temos esta definição na Terceira Lei.
É óbvio que as pessoas inteligentes são as que mais contribuem para a sociedade como um todo. Mas, por mais triste que possa parecer, os bandidos inteligentes também contribuem para uma melhora no equilíbrio da sociedade, pois provocam globalmente mais vantagens que danos. As pessoas “infelizes-inteligentes”, apesar de perdedoras individualmente, perdem também ter efeitos sociais positivos. Sem dúvidas, apenas quando a estupidez entra em cena, é que o prejuízo é maior que o beneficio para qualquer pessoa. Isso comprova o ponto de vista inicial: o único fator perigoso em qualquer sociedade humana é a estupidez.
Como um historiador, Cipolla chama a atenção para o seguinte: se o fator de estupidez é constante através do tempo e do espaço, uma sociedade forte em ascensão tem uma porcentagem maior de gente inteligente, enquanto que uma sociedade que declina tem uma alarmante porcentagem de bandidos, um forte quociente de estupidez entre as pessoas em posição de poder, e uma igualmente alarmante porcentagem de Infelizes entre aqueles que não estão no poder.
Onde estamos agora? Essa é uma boa pergunta!
Cipolla afirma que as pessoas inteligentes, na sua maioria, sabem que o são; os bandidos também estão conscientes (e orgulhosos) da sua condição, e mesmo até as pessoas azaradas têm uma suspeita de que não estão assim tão bem. Mas as pessoas estúpidas não sabem que são estúpidas, e esta é uma razão a mais por que são extremamente perigosas.
Isso remete-me para a dolorosa pergunta inicial: sou estúpida? Tenho passado por vários testes de quociente de inteligência e conseguido boas qualificações. Infelizmente sei como funcionam esses testes e por isso não me convencem nem me provam nada. Dizem-me que sou inteligente, o que também não serve para nada. Provavelmente, são pessoas que me têm algum afecto e que se acham inibidas de dizer a verdade. Se bem que, se não fossem estúpidas, até podiam usar a minha estupidez em seu benefício. Se calhar, são tão estúpidas como eu. Tenho um pequeno resquício de esperança: até porque frequentemente estou cônscia de que sou estúpida (ou tenho sido). E isso indica que não sou completamente estúpida. Nem se vê grande imprudência em aderir ao Corolário de Livraghi à Primeira Lei de Cipolla: cada um de nós tem um quociente de estupidez, que é sempre maior do que supomos.
Tente um ensaio com os débitos e os créditos da sua estupidez. E ... assuste-se.

AInda sobre a estupidez

             Há um livro de Walter B. Putkin,  "Breve introdução à história da estupidez humana" , editora Prometeu, (setecentas páginas mais ou menos...) que recomendo aos que sentem curiosidade por esta especialidade intelectual. Se não estou em   êrro poderão consultá-lo na Internet.

Sobre Einstein

             Einstein pensava, sem atender:
                 -  A convenções e preconceitos
                 - A costumes, tabus e usos comuns.
                 - À "ordem natural das coisas".
                 - Às aparências e aos sábios do seu tempo.
                 - Ao que é bonito ou que é feio ( na opinião alheia)
                 - Ao que, segundo lhe diziam. era impossível ou improvável
                 - Às críticas dos seus trabalhos, sem fundamentos.                   
                
                    

Sobre os estúidos

Onde há muitos estúpidos é entre os animais racionais.
Quem é que viu um animal irracional actuar de forma estúpida?  Os actos e procedimentos de qualquer animal irracional estão de acordo com os seus instintos básicos  talvez alguns ligados a emoções, nenhuns derivados da sua intuição, salvo melhor opinião cuja justificação eu gostaria de conhecer.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Humildade

       Sobre a humildade, a palavra qiue me ocupou esta semana durante a meditação, deixo  hoje as últimas referências nesta mensagem. 
       Humildade provem da palavra latina humilis, que significa rasteiro, que fica no chão, baixo, obscuro.
       É palavra que aparece muito na bíblia.
       O adjectivo oposto é arrogante, sobranceiro, orgulhoso com fraco motivo.
       Da sabedoria,  do poder e do conhecimento resulta quase sempre alguma humildade.