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domingo, 17 de abril de 2016

Fumadores

Um vício raramente preocupa aquele que dele padece. A mente encontra sempre razões que o justificam, que o desculpam. Não há fumador inveterado que não diga "tenho de morrer de qualquer coisa", "morra marta, morra farta" e outras expressões simpáticas. Outros alegam "eu só fumo de manhã", outros ainda afirmam com veemência "hoje deixo de fumar" ou ainda " acabo este maço de cigarros e pronto, não fumo mais". O stress que causa a conclusão a que chegamos de que continuamos incapazes de resistir ao vício impede-nos de aceitar qualquer razão. E apenas quando nos convencemos que a vontade terá de ser mais forte, só então decidimos e conseguimos aplicar um processo destrutivo do vício. Mas deverá ser de forma definitiva, sem paliativos, delongas, procrastinações. No dia 25 de Novembro de 1975, data bem célebre, eu estava há uns vinte dias com bronquite e alguma febre. Fui consultar um médico amigo, o doutor Silveira, que me auscultou e fez o seu diagnóstico de modo bem contundente: -"Pois é, estás com uma bronquite crónica, vais acabar como acabaram todos os fumadores inveterados da tua família, pouco passarás dos sessenta e cinco anos"- e dizia isto, fumando, também ele era um fumador inveterado. Eu, de imediato, respondi- lhe: -Olhe doutor, é para já, deixo hoje de fumar, é para comemorar o dia da nova revolução" - Ao que ele me respondeu: - Pois, pois, todos os fumadores dizem que vão deixar de fumar hoje.- E continuava fumando. Na realidade, até hoje mais não fumei. E o doutor Silveira, um bom e bem conceituado médico, por coincidência, faleceu poucos tempo depois, com sessenta e cinco anos. Eu, felizmente, continuo de boa saúde, com oitenta e nove.

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