Ontem encontrei pessoa amiga, que normalmente conversa de forma simpática, o que para mim significa, na conversação, a atitude de quem fala e ouvindo, deixa falar. No entanto todos temos algum defeito mais ou menos oculto pelas circunstâncias, pelo tempo ou pelo passado desconhecido. Neste amigo, o defeito conhecido era bastante suportável, não impeditivo de uma conversa agradável, não condicionante da nossa amizade mas que me obrigava, sempre que o encontrava, a limitar a nossa conversa a um tempo reduzido. A sua iconomania sempre se manifestava três ou quatro minutos depois de nos encontrarmos. Ora era Picasso, ora Van Gogh e este trazia à baila Monet nas diatribes e extravasão da sua mania pela pintura e pelos pintores.
Mas, há poucos dias encontrei a solução para que as nossas conversas derivassem. Quando um minuto ou dois depois de nos encontrarmos, meteu o Delacroix na falação, eu interroguei-o dizendo-lhe:
- Pedro, a propósito de pintores, tenho a fachada da minha casa a precisar duma boa pintura, conheces um pintor de confiança para tratar de pôr aquela parede em condições decentes?
Ele olhou surpreso, para mim e respondeu:
- Já vejo que contigo não se pode falar - e, voltando-me as costas, foi--se embora.
As nossas conversas prosseguiram mas passaram a durar não mais de cinco minutos, sem pintura nem pintores. .
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