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sexta-feira, 16 de julho de 2010

Um pouco do que gosto e outro pouco de Fernando Pessoa

         Nunca me empanturro de ler.Por vezes até continuo a ler, não gostando do que leio. Por curiosidade, por teimosia, porque gosto de desvendar o que não gosto. aprecio ver até onde vai a minha paciência, espero sempre, não gostando, encontrar um assunto desconhecido ou, se conhecido, apresentado sob um ângulo original e que me enriqueça um pouco mais, embora não gostando.Tal como somos apresentados a uma pessoa de aspecto e conversa antipáticos e que emite opiniões desagradáveis de ouvir. As surpresas da natureza humana são uma das maiores distracções desta vida. Lembro que Fernando Pessoa se sentava horas e horas seguidas, quase todos os dias, junto a uma mesa dum café da baixa lisboeta, nunca procurando companhia, sempre com o olhar perdido, raramente exprimindo na face qualquer sentimento.Quem não o conhecia, muitos que ali o viam, pensavam que era mais um dos muitos tristes que frequentavam os cafés de Lisboa. Poucos reparavam nos pequenos papelinhos onde ele , minuto sim, minuto não, rabiscava frases tradutoras dos seus pensamentos, em verso ou em prosa, papelinhos que, um a um, metia no bolso e levava, ao fim da tarde, para casa, onde as acumulava na mesma gaveta de sempre.
       Escrevia desde simples quadras populares, como esta
                                  " Duas vezes te falei
                                   De que te iria falar
                                   Quatro vezes te encontrei
                                    Sem palavra p'ra te dar"
       A outras mais profundas, como esta
                                   " O Sol que doura as neves afastadas
                                    No inútil cume de altos montes quedos
                                    Faz no vale luzir rios e estradas
                                    E torna as verdes árvores brinquedos..."
escreveu centenas de pensamentos, versos e um grande poema épico "Mensagem" e outros  assinados por si ou pelos seus heterónimo.
         Tenho pena de um dia não me ter sentado à sua mesa.

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