Número total de visualizações de páginas

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Uma história vulgar.

        Ela fora para Lisboa, para casa duns amigos do pai, para fugir á rotina da vida familiar. Sem o curso do liceu, pouco mais sabendo do que a mãe conseguira lhe ensinar: a fazer umas malhas, a fazer a cama sem deixar rugas, a uns cozinhados vulgares, a defender-se dos assédios dos namorados. Na capital procurou emprego, começou como mulher de limpeza num restaurante, resistindo bem às tentativas constantes dum dos comensais, que se dizia perdido de amor pelos seus cabelos frisados, (herança duma trisavó negra, de Angola, onde umas irmãs da mãe haviam herdado uma fazenda de café, no Quanza Sul), pela sua cor de canela e pelo seu corpo, como referia, de "miss" mundo.
        Após um mês de trabalho, um dos gerentes do restaurante reparou mais nela, na sua maneira especial de falar, na maneira fina do trato com os colegas, na elegância natural do andar e na simplicidade das respostas. Mantendo distâncias sem ferir susceptibilidades e demonstrando com naturalidade uma personalidade firme e  um profissionalismo consistente. Convidou-a então a aceitar a promoção para empregada de mesa. E passou, com certa frequência, a trocar com ela algumas frases, cada dia mais profundas, mais extensas, mais e mais íntimas. Ela aceitou o namoro, trocaram fotografias e recordações dos vinte e três anos de vida que ambos tinham.
         E experimentaram a troca de um beijo.
         Imaginem a continuação da história. Dá-la-ei um dia.
         Quando quiserem, se para tanto vos falhar a imaginação.

Sem comentários:

Enviar um comentário