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sexta-feira, 23 de maio de 2014

Exmo senhor público

            Eu sabia que ela, muito experiente e sagaz, me iria safar daquele compromisso em que me metera, ainda é escassa a minha habilidade para falar, discursar, conversar com uma assistência exigente como é um grupo de amigos e de alguns desconhecidos, ou seja de qualquer assistência de mais que um ouvinte, não há dúvida tenho que me matricular no tal curso americano da arte de falar a um público. E ali, naquela circunstância, quando temos o microfone implacável, inerte mas comprometedor, um pedaço de metal e fios que parece gritar-nos por alimento de palavras, nesses momentos parece que detesta o nosso silêncio, abomina o gaguejar, a tosse para disfarçar, os gestos inúteis as frases de circunstância e mais que tudo os silêncios acompanhados de sorriso amarelo e de gestos inúteis, assoar-se, coçar a cabeça ou as mãos. E cem olhos mirando-nos com sorrisos complacentes dali, miradas irónicas acolá, segredinhos para o lado acompanhados de olhares inquisidores para o, esse tipo defronte de mim que se julga competente para me ocupar o meu tampo e eu que tenho tanto que fazer que raio é que me convenceu a vir até aqui de táxi ouvir este tipo, se calhar quer que eu lhe compro o livro, sei lá se o compro,  quando tinha combinado para as oito jantar com ....
           - "E agora passo a palavra ao autor do livro"- disse ela dando palmas. 

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