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quarta-feira, 16 de novembro de 2016


Personagens
Os meus personagens, os que eu crio, são uns valdevinos anónimos  quando fui eu que dei com eles e lhes ofereci a honra emérita de figurarem num meu próximo romance, nos meus livros passados. Coloquei-os com todo o conforto dentro das muitas páginas já lançadas no mar deste tempo infinito. Sem qualquer consideração por mim, resolveram entrar em greve e ir dar umas daquelas curvas tão usuais em qualquer personagem que se preza. Porque estes só dão curvas, as rectas são para a geometria, as curvas para os poetas. Recta é recta, daí não passa, sempre subordinada às namoradas paralelas, curva tem muitas variantes poéticas, pode ser na onda, na hipérbole, uma assíntota mais ou menos sinusoidal, numa parábola hipersensível com tendências estranhas para o infinito e fugindo à vulgaridade  tão limitada da circunferência ou da elipse.
Mas os personagens que saltam do cérebro mais ou menos fecundo de qualquer escriba, são assim: ingratos como muitos filhos saídos do ninho, inconstantes como o amor e irreflectidos, como o transeunte que atravessa a rua lendo o jornal.
Hoje tenho de os agarrar e cumprir as minhas recomendações, como dizia a minha tia.

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