Personagens
Os meus
personagens, os que eu crio, são uns valdevinos anónimos quando fui
eu que dei com eles e lhes ofereci a honra emérita de figurarem
num meu próximo romance, nos meus livros passados. Coloquei-os com
todo o conforto dentro das muitas páginas já lançadas no mar deste
tempo infinito. Sem qualquer consideração por mim,
resolveram entrar em greve e ir dar umas daquelas curvas tão
usuais em qualquer personagem que se preza. Porque estes só dão
curvas, as rectas são para a geometria, as curvas para os poetas.
Recta é recta, daí não passa, sempre subordinada às namoradas
paralelas, curva tem muitas variantes poéticas, pode ser na
onda, na hipérbole, uma assíntota mais ou menos sinusoidal,
numa parábola hipersensível com tendências estranhas para o
infinito e fugindo à vulgaridade tão limitada da
circunferência ou da elipse.
Mas os personagens que saltam do cérebro mais ou menos fecundo de qualquer escriba, são assim: ingratos como muitos filhos saídos do ninho, inconstantes como o amor e irreflectidos, como o transeunte que atravessa a rua lendo o jornal.
Hoje tenho de os agarrar e cumprir as minhas recomendações, como dizia a minha tia.
Mas os personagens que saltam do cérebro mais ou menos fecundo de qualquer escriba, são assim: ingratos como muitos filhos saídos do ninho, inconstantes como o amor e irreflectidos, como o transeunte que atravessa a rua lendo o jornal.
Hoje tenho de os agarrar e cumprir as minhas recomendações, como dizia a minha tia.
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