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Visto-me de sonhos e visito as minhas plantas, ou antes, as minhas amigas plantas. Nunca, jamais poderei dizer que uma planta é minha, no sentido profundo da alma, como não posso dizer tque o ar que respiro me pertence. Onde estará tudo o que hoje dizemos que é nosso, daqui a cem anos? Estarão aqui, na tua ou na minha mâo? Todavia nâo posso afirmar que a minha alma ou a tua, não estarão aqui, ali ou acolá, nem posso afirmar que a palmeirinha que me oferece o seu verde aqui defronte, não estará ali recordando a minha imagem por detrás da jamela desta casa. De tudo o que está construido à minha frente talvez nada reste daqui a cem anos. Mas o céu restará, mesmo que a insensata mão do homem insista em destruir a morada que Deus nos concedeu - sem nada lhe pedirmos. Imploramos muito, imploremos o prémio do euromilhóes, imploramos facilidades, imploramos benesses, imploramos felicidades. Mas pouco pensamos em conceder algo em troca do muito que nos é dado, começando pelo que temos à nossa disposição sem termos mexido um dedo - o ar, o sol, o luar, a alegria das crianças, a música do vento.
E muito mais que o esquecimento egoista não permite agora recordar.
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