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sexta-feira, 21 de julho de 2017

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      Devemos muitos favores à memória, a recordação de bons momentos não tem preço. E também devemos muitos favores ao esquecimento, à nossa vontade, que mergulha, na parte incerta do olvido, muito do que nos desagrada - ainda que com frequência a memória nos pregue algumas partidas não aceitando o esquecimento. Talvez aí resida o segredo dos optimistas que conseguem apagar muito do desagradavel numa triagem favoravel à sua felicidade e a triste sina dos pessimistas que a todo o momento vêem ofuscado o gosto dos bons momentos pela memória insistente dos maus, memória essa que actua como um mata borrão absorvendo sem remédio os bons - tal como a mancha de tinta absorvida pelo mata borrão neste ficou, morta, inerte e imprestavel, para sempre.
      No romance que estou escrevendo, quase autobiográfico, relatei a cena do primeiro encontro que tive com a minha esposa. Desse momento feliz, o mais feliz da minha vida, ainda hoje recordo, como se o estivesse vivendo agora, como fiquei siderado, suspenso, incapaz de dizer uma palavra, vendo-a pela primeira vez.
      Não creio que, depois de morrer, eu esqueça esse momento, pese o que dizem os que pretendem saber o que se passa depois que nos passamos.   

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