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segunda-feira, 21 de junho de 2010

             Que estranhas reminiscências surgidas há pouco num momento de meditação e que se tornaram mais e mais  claras, mais contundentes, mais sensíveis , cujos contornos do ambiente apareceram mais e mais reais e definidos : primeiro a brancura da parede ao lado, para onde me virara depois de me ter deitado, logo o beijo e o murmúrio carinhoso de minha Mãe despedindo-se, afagando-me e ajeitando com suavidade o lençol e o cobertor junto ao meu queixo, os seus passos quase silenciosos ao sair do quarto, o ranger dos degraus enquanto descia para o andar de baixo., novamente a brancura da parede ao meu lado, pouco distinta na escuridão do quarto e o pensamento de todas as noites, porque estou eu aqui, quem me pôs aqui, que faço eu aqui, porque é que ninguém me explica nada, porque é que ninguém me responde a nada, esta escuridão o que é , o ranger do armário o que é , quem mandou a chuva que cai no telhado, quem mandou o meu avô  ir-se embora no Domingo, dizem pela casa que ele morreu, ainda ninguém me explicou o que é isso de morrer, só sei que onvi muitos gritos da minha Mãe, vi que muito chorou, vi que na casa da minha avó,  calafetaranm todas as portas e janelas, quando hoje cheguei da escola e entrei no escritório onde o meu Pai trabalha estavam lá uns senhores que perguntavam ao meu Pai : "então senhor comandante, calafetamos ou não calafetamos também o escritório ?" . Só depois, muitos dias depois, percebi para que servia todo aquele aparato das fitas que punham em dada a parte e do cheiro que havia a desinfectante, a formol. E então à noite ao jantar eu perguntei ao meu Pai, "oh pai, se eu morrer também vão por as fitas e o formol cá em casa ?
         E a minha Mãe, lançou um grito lancinante e saíu da mesa a chorar e a soluçar muito alto.

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