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quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Falando de gavetas

        Na segunda mensagem que escrevi neste blog eu disse,de minha inteira autoria e responsabilidade :  eu sou como aquelas gavetas, que quando as queremos abrir, à primeira encravam, à segunda entortam e à terceira lá vêm para cá.
        Sempre gostei de abrir gavetas, em particular nos móveis antigos.E de pesquisar os lugares e recônditos das casas onde eu vivia. Os meus avós tinha um sótão enorme na sua casa. Subíamos para lá por uma escada íngreme, sem luz, de degraus muito altos, cada qual rangendo uma nota diferente. Lá em cima, por umas frestas finas entrava alguma luz por uns ténues raios povoados de poeira. E eu pesquisava o espólio existente começando sempre pelo berço de canas, como o chamavam lá em casa. Estava suspenso nas pontas em dois eixos assentes em duas colunas verticais de canas e sobre esses eixos o berço movia-se para embalar a criança. Um berço de um metro de comprimento, que sempre me fazia pensar porque o teriam feito tão comprido. Tinha sido o berço da minha avó, da minha mãe e  eu e dois dos meus irmãos, também lá fomos embalados.
        Um dia, com a costumada curiosidade infantil dos meus sete anos de idade, perguntei à minha avó :
              - Oh avó porque é que aquele berço que está  no sótão é tão comprido, é o maior berço que eu já vi?
              - Olha menino, é muito comprido para caber lá a língua dos meninos, tão compridas como a tua !
        O meu Pai, que sempre tinha uma resposta raziável para o que lhe perguntavam, disse-me que o berço de canas era assim de comprido para os bébés se mexerem e refastelarem à vontade.
        A minha avô, como todas as avós que eu conheci, era orgulhosamente incapaz de dizer "não sei !".           

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