Número total de visualizações de páginas

domingo, 26 de agosto de 2012

Acontece

              A rapariga pegou numa espiga dourada, prenhe de grão, de haste delgada, muito curta e roçou-a de leve pela mão. Lembrava-se da viagem de núpcias, o marido em Florença fizera-lhe uma carícia semelhante com a pena duma pomba que pousara pouco antes no parapeito da ponte sobre o Arno. O rio, naquele dia de primavera, passava caudaloso, imenso, invadindo as margens com a água do degelo dos Apeninos. O marido desaparecera cincoenta anos depois dêsse dia, para a parte incerta para onde ela tambem desapareceria qualquer dia. As lágrimas escorriam-lhe pelo rosto, quase tão caudalosas como a água dos Apeninos, engrossando com a saudade, tremendo com a incerteza, cheias do sentimento perene que a invadira para sempre.
             Cincoenta anos nao apagam o amôr.

Sem comentários:

Enviar um comentário