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sábado, 15 de setembro de 2012

              Quero passar com a rapidez possível, das minhas preocupações sobre a política nacional, Passra sem perda de tempo para a literatura de eleição -estou relendo o "Grandes esperanças", de Charles Dickens, descobrindo as boas coisas que sempre se descobrem quando se relê um bom livro dum bom autor; relendo Cesário Verde,  e Antero de Quental muito esquecidos na minha biblioteca modesta. E hoje, respigado do blog "abrupto", (de J,Pacheco Pereira)aqui trago o poema "Contrariedades" , de Cesário Verde:

 Eu hoje estou cruel, frenético, exigente;
Nem posso tolerar os livros mais bizarros.
Incrível! Já fumei três maços de cigarros
Consecutivamente.

Doi-me a cabeça. Abafo uns desesperos mudos:
Tanta depravação  nos usos, nos costumes!
Amo, insensatamente, os ácidos, os gumes
E os ângulos agudos.

Sentei-me à secretária.Ali defronte mora
Uma infelliz, sem peito, os dois pulmões doentes:
Sofre de faltas de ar, morreram-lhe os parentes
E engoma para fora.

Pobre esqueleto branco entre a nevadas roupas
Tão  lívida.O doutor deixou-a. Mortifica.!
Lutando sempre!  E deve a conta da botica
Mal ganha para sopas...

O obstáculo estimula, torna-nos perversos:
Agora sinto-me eu cheio de raivas frias,
Por causa dum jornal me rejeitar, há dias,
Um folhetim de versos.

Que mau humor! Rasguei uma epopeia morta
No fundo da gaveta. O que produz o estudo?
Mais duma redacçã das que elogiam tudo,
Me tem fechado a porta.

A crítica, segundo o método de Taine
Ignoram-na. Juntei numa fogueira imensa
Muitíssimos papéis inéditos. A imprensa
Vale um desdém solene

Com raras excepções merece-me o epigrama
Deu meia-noite: e em paz pela calçada abaixo,
Um sol-e-dó. Chuvisca. O populacho
Diverte-se na lama.

Eu nunca dediquei poemas às fortunas,
Mas sim por deferência a amigos ou a artistas:
Independente! Só por isso  os jornalistas
Me negam as colunas.

Receiam que o assinante ingénuo os abandone,
Se forem publicar tais cousas, tais autores.Arte?
Não lhes convém, visto que o seus leitores
Deliram por Zaccone.

Um prosador qualquer disfruta fama honrosa,
Obtém dinheiro, arranja a sua coterie:
E a mim, não há questão que mais me contrarie
Do que escrever em prosa.

A adulação repugna aos sentimentos finos:
Eu raramente falo aos nossos literatos,
E apuro-me em lançar originais e exactos,
Os meus alexandrinos...

E a tísica? Fechada, e com o ferro aceso!
Ignora que a asfixia a conbustão das brasas,
Não foge do estendal que lhe humedece as casas,
E fina-se ao desprezo!

Mantém-se a chá e pão|! Antes entrar na cova.
Esvai-se: e todavia, à tarde, fracamente,
Oiço-a contarolar uma canção plangente
Duma opereta nova!

Perfeitamente. Vou findar sem azedume
Quem sabe se depois, eu rico e noutros climas,
Conseguirei reler essas antigas rimas
Impressas em volume?

Nas letras até conheço um campo de manobras:
Emprega-se a ré, clame a intriga, o anúncio, a blague,
E esta poesia pede um editor que pague
Todas as minhas obras...

E estou melhor. passou-me a cólera. E a vizinha?
A pobre engomadeira ir-se-á deitar sem ceia?
Vejo-lhe luz no quarto. Inda trabalha. É feia
Que mundo! Coitadinha!
                          (Cesário Verde)

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