Em meados do século passado, os bailaricos, em Lisboa, quase por regra aos fins de semana, faziam-se nalguns clubes, nos "cabarets" e, com menos frequência nos cinemas, universidades ( os do Técnico tinham fama) ou salas alugadas para o efeito. Os do Clube Alentejano e os do Ateneu e os dos santos populares, eram os preferidos pela classe estudantil.
Regra geral as mamãs acompanhavam as filhas e fiscalizavam o par onde a filha dançava, sentadas nas filas de cadeiras dispostas em redor da sala. Encontravam novos conhecimentos, comentavam a qualidade dos dançarinos, quando possível obtinham informações sobre os mancebos que enlaçavam as filhas e quase sempre as conversas das mamãs derivavam para os dramas domésticos ou para comentários sobre a vizinhaça. A classe média imperava, representada sempre pelas mulheres. Nunca vi um marido, num dêsses bailaricos. A classe rica ou alta ou como lhe queiram chamar, não frequentava o "Alentejano" , aos bailaricos chamavam bailes e organizavam-se nas casas particulares, com uma selecção muito forte dos participantes.
Eu e outros estudantes pretendíamos por vezses participar destes bailes. Na falta de convites, eu e outros amigos, todos de carteiras leves, imaginávamos mil e uma maneiras de entrar "à borla" ou de conseguir um substituto para o convite. Um dos truques que usámos duas ou três vezes foi o de, chegando á porta, um de nõs escorregar, simular uma queda aparatosa agarrando-se ao porteiro, enquanto outro ou outros de nós, apoveitando a distracção momentânea do fiscal, se esgueirava para dentro da sala.
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