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quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

O armário de pinho

O armário do meu quarto acordava-me todas as manhãs, era o ranger daquela porta cujo espelho me fornecia a imagem de moço estremunhado, olheiras da noitada, do bailarico, dos corridinhos às duas da madrugada,  truque, tentativa, nem sempre vã da orquestra para estafar-nos e  atirar-nos aos jovens, para  as cadeiras à frente das mamãzinhas. entretidas nas críticas com as vizinhas do lado.
         Era um armário vetusto. liberal, de linhas severas, comprado nos princípios do século passado    pelo meu bisavô, parte da mobília do chamado  quarto de hóspedes, nunca albergando hóspedes, ali passávamos eu e o meu irmão a parte das noites de verão que sobrava dos bailes, dos passeios pela avenida, mais raro numa descida nocturna até à praia para ensinar o caminho a alguma turista interessente que quando partia do seu pais nórdico trazia bom conhecimento desses passeios românticos com a rapaziada local.
          E no armário de rijo pinho , todas as manhãs a minha Mãe ia sondar, em baixo, o gavetão. Ao abri-lo, na busca dum par de sapatos, acordava-me. Ela, quando se deitava, nunca deixava os sapatos no chão  do seu quarto. À noite, sempre os levava para o tal gavetão e substituía-os pelas chinelas. Mas eu consegui modificar esse hábito da minha Mãe, ensinei um pastor alemão que eu  tinha criado e a que dei o nome de Tarzan, desde os seus três meses de idade. Aprendia tudo com uma facilidade que impressionava toda a gente. E ensinei-o a levar as pantufas à porta do quarto dela : eu punha as pantufas à porta do meu quarto e, a partir das nove horas o Tarzan pegava nas pantufas, seguia e  lá estava aguardando que a minha Mãe abrisse a porta, e depois agradecesse contemplando-o com uma bolacha maria. 
          O Tarzan nunca atacou ninguém, era frequente, na praia quando eu falava  com amigos, ele suportar, contente,as carícias e festas que lhe faziam. Em particular duas francesas até corriam para lhe fazer festas. Quando elas apareciam,eu dizia : Tarzan olha a Michele e a Rose. E o cão por vezes até se empoleirava numa ou noutra,colocando as patas dianteiras sobre os ombros delas, que sorriam, fazendo-lhe festas.
           Mas aconteceu que um dia, num fim da tarde, ela passaram em frente da nossa casa de praia. Iam rindo, com vestidos leves e garridos que lhes acentuavam a graça. Quando dei por elas chamei-as. O  Tarzan, ouvindo-me, em dois saltos estava junto  delas, empoleirando-se nos ombros da Michele que, ao voltar-se, prendeu numa das patas a alça do vestido. E o cão, ao retirar a pata, retirou também o vestido, ficando a Michele completamente nua.
            Os velhos armários de pinho também trazem à memória recordações agradáveis.

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