E agora? Mais outro ano ou menos um? Queixar-se, fazer queixas, dizer queixinhas, lamentar-se, prejudicar a mente, encher a memória com inutilidades, rogar contra o que nos sucede sem saber se o que nos sucede foi por bem ou foi por mal, o incómodo raro se agradece e sempre nos acontece por alguma razão, se não existissem os incómodos, pensem, a vida seria uma sensaboria, uma pasmaceira, um dó de vida, um dó sem alma, sem um ré ao lado, sem um mi depois e um fa mais afastado, mas todos silenciosos, as notas do silêncio são infinitas, todos os instrumentos as tocam, não há quem desafine quando toca notas do silêncio, olhem, as que tenho na carteira são dessas, deixei de as usar há muito tempo, mas ao tempo tudo apaga, tudo deslustra, tudo muda. Porém o que não muda é a nota nostálgica da fantasia, a nota semibreve da pobreza, a nota aguda da fome.
E há quem pense nisso tudo sem reparar no que pensa.
Porque eu só reparo no que penso quando me resigno.
Porque me alegro quando cedo à tentação.
De roubar-te um beijo.
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