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As aulas começavam sempre a seis de Outubro, se o calendário não prolongava mais um dia as férias de verão por esse dia seis ser domingo. E a escola Lusitana, do professor Buisel, nesse dia de de tempo ainda perdulário de calôr, ausente de chuva e ventania, alegrava-se com a algazarra que os garotos que vinham chegando, ali distribuiam e trocavam, brincadeiras dos mais velhos à mistura e em contraste com o espanto,retraimento e timidez dos que ali entravam pela primeira vez. Se a escola era aquilo, gostava muito. Sobraçava, com cuidado e apertando bem contra o corpo a bolsa que a mãe lhe entregara - vê lá, não percas nada, são as tuas coisas para a escola - dissera-lhe ela quando se despedira dele, carinhosa, antes de sair de casa.
E o professor, quando o viu entrar no salão lajeado de ardósia cinzenta, sorrio-lhe - deves ser o Fernando, o filho do capitão do porto, grande amigo meu, olha, sobe as escadas, com esses da tua idade, vai lá para cima, tens lá a professora, minha filha, à tua espera - impressionado com aquele homenzarrão, que o tratava com afabilidade, pensava na rudeza de outros homenzarrões que conhecia. Obedeceu, subiu a escada, seguindo curioso, outros alunos que iam para cima, entrando com eles na sala de aula, onde uma mulher que lhe parecia pouco mais que menina e da mesma idade da Ermelinda, lhe indicou uma carteira onde outro colega se sentara.
- Meninos - disse ela, sorrindo para todos, ocupavam mais de metade da sala- vamos começar, tirem a cartilha maternal, o caderno e os lápis dos sacos e atenção ao que vou escrever no quadro.
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