Fernando continuou frequentando a escola Lusitana até que num dia ainda de pouco frio de Novembro, pouco antes de chegar à escola, encontrou um colega que lhe disse - hoje não há escola, o senhor professor Buisel, moreu, a dona Olga disse-nos que só há escola na segunda-feira que vem, não vale a pena ires lá, fecharam a porta, volta na segunda-feira.
Ainda pouco familiarizado com a morte, nem era mistério, não existe mistério numa coisa que não se sabe o que é, como tanta coisa referida pelos pais quando conversavam ou tão subtil, vago e efémero como tantas palavras que ouvia. Fixou-se apenas no que via, no caminho de volta para casa. Ao vê-lo de regresso, a mãe interrompeu as recomendações à empregada doméstica:
- Então Fernando, o que aconteceu porque voltas tão cedo ?
- Óh mãezinha, só há escola na segunda feira.
- Mas porque é que não há escola hoje?
- Mãe, não sei, os outros estavam indo para casa deles, e um disse-me que não há escola até segunda feira, disse também que morreu o senhor professor Buisel - respondeu Fernando com o desprendimento próprio de quem fala de uma notícia irrelevante, superficial, pronta a cair no esquecimento como tantos assuntos sem importância que decorriam no seu dia a dia.
Um mês depois deparou de novo com a notícia duma nova morte, do seu avô, esta bem marcada pelos soluços e prantos demorados da sua mãe, durante o dia e a noite seguinte.
Começava a entender, esse assunto da morte, como o pai dizia, era coisa da vida, era o que vinha depois da vida, era o que tinha feito do homenzarrão que era o avô que ele via quando almoçava com os pais lá em casa dele, transformar-se naquele homenzinho mirrado que lhe tinham dito que ia no caixão pequeno, que parecia ser dum boneco grande e magricela como o espantalho que punham lá na quinta para afastar os pardais, diziam.
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