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sábado, 30 de junho de 2012

Bateu outra vez à porta o vendedor

            Ontem, ao fim da tarde o vendedor dos frasquinhos bateu outra vez à minha porta. Trazia a mesma malinha castanha, de couro, bem limpa e reluzente.
                   -Bom dia - disse-me ele ajeitando o nó da gravata e abrindo a malinha - diga-me, obteve bons resultados com o pó da esperança?
                   - Olhe, senhor Miguel, não foi mau, mas durou pouco.
                   - É natural, foi uma amostra o que lhe deixei. Se comprar o frasco inteiro os efeitos serão  ainda mais benéficos e se seguir a receita, talvez sejam permanentes.
                   - Bem, senhor Miguel, venda-me um frasquinho desse pó da esperança .
              O vendedor tirou do bolso uma caixinha embrulhada com todo o cuidado num papel verde de fantasia e disse-me:
                   - São quarenta euros e a receita está dentro. Sempre que  nos compre outra embalagem dêste ou doutro produto terá um desconto de vinte por cento.
              Não resisti à minha curiosidade e  espicacei o homem:
                   - Não terá um frasquinho com o pó ou líquido da fortuna ?
              Não se desconcertando e sem hesitar respondeu-me:
                   - Na minha empresa há investigadores trabalhando noutros produto, e êsse é um dos mais procurados e investigados, parece muito difícil de descobrir. Dizem-me que deve ser um antídoto para a água da felicidade, essa sim, vendemos foi das primeiras descobertas, é um sucesso de vendas, essa e a água da fé são as mais vendidas se quizer...
                   - Olhe deixe-me uma amostra das duas - disse-lhe, não perdendo a oportunidade.
                   - Temos instruções rigorosas, apenas podemos oferecer, em cada visita, uma amostra dum  destes produtos. Houve um colega meu que não respeitou esse regra e o resultado foi catastrófico.
                   - Não entendo porque a fé e a felicidade possam ser incompativeis!
                   - Não se admire - disse ele, entrando na mais pura filosofia - há muitos produtos para a saude, para a nossa alimentação e até para o nosso espírito que, tomados ao mesmo tempo, são perigosos e que tomados simples são benéficos para a saúde,  Veja o que se passa com o champanhe, a aguardente e o vinho tinto.
            Paguei-lhe os quarenta euros. E optei por receber uma nova amostra, a da fé.
            Se isto continua com bons resultados, vou arruinar as minhas finanças mas espero enriquecer a minha vida.

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