Prometi-vos, aqui estou a relatar o resultado de ter tomado um pouco do pó da esperança que aquele indivíduo que apareceu à minha porta, me ofereceu para experimentar.
Dilui o pó num copo de água que ficou muito azul, sem cheiro suspeito nem aspecto duvidoso não resultando qualquer precipitado. Provei com cautela, um médico aconselhou-me muita cautela, há por aí maraus que se entretêem a provocar diarreias e outros acidentes, até galhofou comigo dizendo que talvez eu ficasse de esperanças. Nada mau seria respondi-lhe, entrava para o guiness e tinha a vida económica resolvida. Entretanto nada senti de especial, aguardei e quase me esquci. Mas, ao fim de duas horas, para meu espanto não isento de algum alarme, comecei a sentir uma concentração especial nalgumas esperanças, que se sucederam na forma, na variedade, na intensidade.
Primeiro as esperança e quase certeza de flores, muitas flores no meu jardim. Via à minha frente um mar branco e imenso de rosas, a leste um campo de girassois voltando para o Sol as suas corolas enormes, circulares, amarelas; a oeste, jasmins de cheiro inebriante e a norte, papoilas escarlates que inundavam o restolho duma seara de trigo. Êsse panorama foi-se esbatendo, talvez que a fraca concentração do pó nada mais permitisse, pensei. E na realidade, as imagens seguintes, apareceram bastante mais esbatidas que as primeiras. Mas suficientes para ver surgir, uma nova esperança, um grupo de bébés e crianças, os primeiros mais nítidos que as segundas, todos no meio dos campos de flores então quase invisíveis e rodeados pelas figuras das minhas netas e netos e todos demonstrando enorme felicidade bem patente nos sorrisos permanentes.
E nêsse momento, como um flash que se extingue, a imagem desapareceu.
O vendedor dos pózinhos encontrou um cliente. Aguardo, ansioso, que me bata de novo à porta.
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