Abri a arca, Tinha fixado vários pontos na escuridão do interior da arca. Nada. Abri a arca, ninguém lá fora. Gostaria que me aparecesse a tia Berta, tia-avó irmã da minha avó materna. Bem, vou tentar de novo. Entrei na arca, o aroma a cânfora é muito mais intenso...
- Ah! Tia Berta, ouviu o meu pedido para que nos entrássemos aqui, como vai passando por estes sítios, conte-me, conte-me!
- Ouvi, sim, mas estava conversando, não podia sair do grupo sem me justificar. Olha, eu estranhei muito que não me procurasses durante tantos anos, vimo-nos a ultima vez num jantar de anos do meu sobrinho, o teu tio Frederico que veio cá parar queixando-se muito de forma como o trataram no hospital antigo de Portimão, tive noticia que agora têm um hospital novo onde eu sei que já foste operado a uma hérnia...
- A duas, tia Berta, a duas...
- Sim, eu sei, e também sei que também foste operado no hospital de Carnaxide, há pouco tempo, nem imaginas a quantidade de gente daqui que acompanhou a operação, salvaste-te por milagre, penso que foi pela força que fizemos, uma quantidade de médicos daqui tentavam ajudar o médico que te operou, o doutor Calquinha, julgo que ele seguiu alguns conselhos que daqui lhe deram ...
- Sim tia Berta, há doze anos passei por isso!
- Ora que importa o tempo, os anos passam aí na Terra e nós não os sentimos e lembro-me que por vezes custavam tanto a passar em Lagoa!
- Tia-avó Berta, lembra-se do que a tia sempre dizia nos anos de qualquer pessoa da família, na altura em que bebíamos o champanhe?
- Então não havia de me lembrar, se calhar tu é que não te lembras
- Lembro sim, tia, lembro muito bem!
- Ah sim? Então diz lá o que eu dizia.
- Era assim que a tia dizia, levantando o seu copo:" À saúde dos presentes e dos ausentes pertencentes aos presentes!". E a tia também usava muito a frase "anda cá!" quando interrompia alguém e queria falar...
- E ainda uso, aqui ninguém se cansa de falar, não imaginas como a conversa se transmite de antepassado para antepassado, dessa forma já conheci e falei com os meus tataravós até à trigésima geração, imagina que já falei com um antepassado do tempo de Jesus Cristo e não imaginas as histórias que tenho ouvido, isto na realidade é um paraíso para quem gosta de conversar, olha a tua mãe e o teu pai muito me acompanham nessas falações...
- Tia, conte-me algumas dessas histórias...
- Olha Albertinho, tenho um compromisso inadiável, depois quando cá chegares te contarei muitas.
E a minha tia-avó Berta, perdeu-se na neblina muito densa, r
comentários, poemas, situações e circunstâncias da vida, escrtos e da autoria do que escreve neste blog
Número total de visualizações de páginas
segunda-feira, 30 de junho de 2014
Perdi-te
I
Perdi-te nesse lugar
Onde eu fui bastantes vezes
Não quero mais recordar
O maior dos meus revezes
II
Muito triste eu dali vim
Para ali não mais irei
Saudade é muito ruim
Do tempo que lã passei
Perdi-te nesse lugar
Onde eu fui bastantes vezes
Não quero mais recordar
O maior dos meus revezes
II
Muito triste eu dali vim
Para ali não mais irei
Saudade é muito ruim
Do tempo que lã passei
Duas quadras
I
Não me agasto com a vida
Nem gasto mal os meus dias
Quanto mais me é sentida
Menos sinto as ninharias
II
Lembro-me dos teus afagos
Recordo as tuas carícias
E o calor do teu regaço
Que sentia em cada dia
Não me agasto com a vida
Nem gasto mal os meus dias
Quanto mais me é sentida
Menos sinto as ninharias
II
Lembro-me dos teus afagos
Recordo as tuas carícias
E o calor do teu regaço
Que sentia em cada dia
domingo, 29 de junho de 2014
Viagem de arca - 5 -
O perfume de canforeira intensifica-se sempre que aparece um amigo antepassado, como acontece agora com a presença do meu tio-avô João Ramos. Sorrimos um para o outro:
- Viva tio-avô João! Parece-me que foi ontem que o vi na sua casa de Lagoa, vejo pelo seu sorriso que me reconheço, agora que tenho uma certa idade, como é costume dizer-se quando passámos dos cinquenta ou sessenta ou mais...
- Ora viva, Albertinho, continuo a ver-te com sete anos comendo à nossa mesa naqueles tempos que lá passámos. Vejo-te aqui sentado nos meus joelhos, ouvindo as minhas malandrices, brejeirices como o teu pai lhes chamava.
- Tio-avô Ramos diga-me lá uma das suas, que me ensinava...
- Olha, vamos a ver se te lembras desta que também deves ter aprendido:
Sou soldado valoroso
Fui à guerra do Buçaco
Apanhei um tiro nas costas
Ainda cá tenho o buraco
- Só me lembrava que falava do buraco. E tio-avô, do que nunca mais esqueci foi das queimaduras nas pernas. Enquanto eu comia uma papa de milho, o prato estava afastado e fiz a asneira de puxar a toalha em vez de puxar o prato. Na mesma mesa a tua filha Neva estava fazendo fios de ovos deitando, por um funil, a gemada sobre o assucar em ponto, derretido, muito quente, num tacho aquecido por um daqueles antigos fogões a petróleo. Quando puxei a toalha, o fogão virou-se, o azeite do tacho derramou-se, veio por ali fora direito a mim...
- Sim! Sim! Com o susto atiraste-te para trás, empurrando as costas da cadeira e por milagre o assucar derretido, quentíssimo, só te caiu nas pernas, ficaste de cama, com as pernas ligadas, durante uma semana...Penso que ainda lá tens as marcas!
- Foi assim mesmo, só me lembro de acordar espantado por ver as pernas entrouxadas de branco...Mas há uma coisa que lhe queria perguntar. Contavam na nossa família algumas das suas paródias e aventuras. E há uma, a de que o tio-avò Ramos tinha levado a Sevilha, uma récua de mulas para vender, é verdade?
- Já sei, já sei o que os marotos da minha família contavam lá por Portimão, sobre essa aventura. Vou contar-te: de facto levei umas dez mulas para Sevilha. Não foi pouco o trabalho, levá-las atreladas em fila atrás do carro de cavalos em que eu fui até ao barco em Vila Real de Santo António, essa foi a primeira parte, a menos dificultosa embora com algumas dificuldades e contratempos, durante os primeiros dois dias da aventura. Depois, desembarcadas as mulas em Ayamonte não queiras saber a papelada e as voltas e reviravoltas procurando e pedindo os favores de alguns amigos que ali conhecia e conseguindo por fim que a alfandega espanhola me deixasse embarcar as dez mulas no comboio. Os trabalhos continuaram porque, em Lepe, tivemos de mudar de comboio, mais papelada, mais barafunda com as mulas, que tivemos eu e os dois homens que foram comigo, tínhamos que lavar, escovar, dar ração e água às mulas, para não chegarem magras à feira de Sevilha. Por tudo isso, entrámos na feira, no meio dessa semana. Consegui vender as mulas a bom preço, o pior, esse foi o motivo da galhofa que os parentes lá de Portimão contavam, o pior foi que me meti a gozar a feira com alguns amigos meus conhecidos de Espanha, comezainas e copos, "tablaos", touradas, uma cigana que me seduziu bem bêbado, resultado: por lá ficaram as mulas e as pesetas que tinha. Imagino os pormenores que os meus parentes por lá contaram em Portimão. Mas eu também sei muitas deles, que não me interessa contar, o que lá vai, lá vai, aqui só há alegria, não existem ressentimentos, vinganças, críticas malévolas.
- Obrigado por me contares essa aventura. Como ainda dizemos, o que se leva desta vida, são alguns prazeres inofensivos. O que eu continuo a sentir é um grande carinho por ti, nunca mais me esqueço os dias que passei na tua casa, enquanto a minha Mãe curava a tuberculose no Caramulo. Quando de novo te encontrar onde estás, decerto me farás rir tanto como quando eu tinha sete anos.
O tio-avô João Ramo sorriu, sorriu, enquanto a sua imagem a pouco e pouco se desfazia, e o cheiro a cânfora quase desapareceu.
- Viva tio-avô João! Parece-me que foi ontem que o vi na sua casa de Lagoa, vejo pelo seu sorriso que me reconheço, agora que tenho uma certa idade, como é costume dizer-se quando passámos dos cinquenta ou sessenta ou mais...
- Ora viva, Albertinho, continuo a ver-te com sete anos comendo à nossa mesa naqueles tempos que lá passámos. Vejo-te aqui sentado nos meus joelhos, ouvindo as minhas malandrices, brejeirices como o teu pai lhes chamava.
- Tio-avô Ramos diga-me lá uma das suas, que me ensinava...
- Olha, vamos a ver se te lembras desta que também deves ter aprendido:
Sou soldado valoroso
Fui à guerra do Buçaco
Apanhei um tiro nas costas
Ainda cá tenho o buraco
- Só me lembrava que falava do buraco. E tio-avô, do que nunca mais esqueci foi das queimaduras nas pernas. Enquanto eu comia uma papa de milho, o prato estava afastado e fiz a asneira de puxar a toalha em vez de puxar o prato. Na mesma mesa a tua filha Neva estava fazendo fios de ovos deitando, por um funil, a gemada sobre o assucar em ponto, derretido, muito quente, num tacho aquecido por um daqueles antigos fogões a petróleo. Quando puxei a toalha, o fogão virou-se, o azeite do tacho derramou-se, veio por ali fora direito a mim...
- Sim! Sim! Com o susto atiraste-te para trás, empurrando as costas da cadeira e por milagre o assucar derretido, quentíssimo, só te caiu nas pernas, ficaste de cama, com as pernas ligadas, durante uma semana...Penso que ainda lá tens as marcas!
- Foi assim mesmo, só me lembro de acordar espantado por ver as pernas entrouxadas de branco...Mas há uma coisa que lhe queria perguntar. Contavam na nossa família algumas das suas paródias e aventuras. E há uma, a de que o tio-avò Ramos tinha levado a Sevilha, uma récua de mulas para vender, é verdade?
- Já sei, já sei o que os marotos da minha família contavam lá por Portimão, sobre essa aventura. Vou contar-te: de facto levei umas dez mulas para Sevilha. Não foi pouco o trabalho, levá-las atreladas em fila atrás do carro de cavalos em que eu fui até ao barco em Vila Real de Santo António, essa foi a primeira parte, a menos dificultosa embora com algumas dificuldades e contratempos, durante os primeiros dois dias da aventura. Depois, desembarcadas as mulas em Ayamonte não queiras saber a papelada e as voltas e reviravoltas procurando e pedindo os favores de alguns amigos que ali conhecia e conseguindo por fim que a alfandega espanhola me deixasse embarcar as dez mulas no comboio. Os trabalhos continuaram porque, em Lepe, tivemos de mudar de comboio, mais papelada, mais barafunda com as mulas, que tivemos eu e os dois homens que foram comigo, tínhamos que lavar, escovar, dar ração e água às mulas, para não chegarem magras à feira de Sevilha. Por tudo isso, entrámos na feira, no meio dessa semana. Consegui vender as mulas a bom preço, o pior, esse foi o motivo da galhofa que os parentes lá de Portimão contavam, o pior foi que me meti a gozar a feira com alguns amigos meus conhecidos de Espanha, comezainas e copos, "tablaos", touradas, uma cigana que me seduziu bem bêbado, resultado: por lá ficaram as mulas e as pesetas que tinha. Imagino os pormenores que os meus parentes por lá contaram em Portimão. Mas eu também sei muitas deles, que não me interessa contar, o que lá vai, lá vai, aqui só há alegria, não existem ressentimentos, vinganças, críticas malévolas.
- Obrigado por me contares essa aventura. Como ainda dizemos, o que se leva desta vida, são alguns prazeres inofensivos. O que eu continuo a sentir é um grande carinho por ti, nunca mais me esqueço os dias que passei na tua casa, enquanto a minha Mãe curava a tuberculose no Caramulo. Quando de novo te encontrar onde estás, decerto me farás rir tanto como quando eu tinha sete anos.
O tio-avô João Ramo sorriu, sorriu, enquanto a sua imagem a pouco e pouco se desfazia, e o cheiro a cânfora quase desapareceu.
Lançamento do meu livro "Pensamentos subtis"
O lançamento do meu segundo livro "Pensamentos subtis....", efectuado na Biblioteca Municipal de Portimão, decorreu alegre, com boas intervenções de quase todos os presentes, no ambiente agradável dum pátio daquela biblioteca. Esteve presidente a doutora Isilda, a presidente da câmara do concelho de Portimão e a vereadora da presidência Ana Figueiredo.
Foram lidos vários trechos do livro, todos muito apreciados pela assistência.
Espero apresentar daqui a um ou dois anos,o meu terceiro livro, talvez intitulado a "Viagem de arca", que venho publicando neste blog.
Foram lidos vários trechos do livro, todos muito apreciados pela assistência.
Espero apresentar daqui a um ou dois anos,o meu terceiro livro, talvez intitulado a "Viagem de arca", que venho publicando neste blog.
sexta-feira, 27 de junho de 2014
Viagem de arca - 4
Sorria para a mina bisavó Josefa, que me disse:
- Tu deves ser o meu bisneto Albertinho, que eu não via talvez há uns oitenta anos. Como penso que já sabes, aqui para onde vim não se pensa nem se fala do tempo. Tempo aqui não existe. Olha, tenho visto os teus pais que estão aqui muito contentes, o teu pai muito conversador, tenho-me divertido muito na sua companhia. E também com a tua mãe, mas ela gosta mais é de dançar e de pintar, não imaginas a quantidade de anjos e outros companheiros, aqui esperando que ela faça retratos deles.
- Mas minha bisavó conta-me alguma coisa da tua família dos teus pais, nada sei deles, e do tio João, teu filho.
- Além do João e dos seus irmãos, tenho aqui sempre muitos parentes. O João, que depois te falará doutros nossos parentes, conta-me sempre que te sentava nos seus joelhos e que te contava anedotas brejeiras, lembras-te disso?
- Lembro-me sim, minha bisavó Josefa.
- Então diz-me lá uma!
- Aqui vai:
" Homem morto é um defunto
Prato rachado é um caco
Pé de porco é um presunto
E o ôlho do cu, um buraco"
E o meu tio-avô João Ramos apareceu nesse momento, enquanto a bisavó Josefa desaparecia.
- Tu deves ser o meu bisneto Albertinho, que eu não via talvez há uns oitenta anos. Como penso que já sabes, aqui para onde vim não se pensa nem se fala do tempo. Tempo aqui não existe. Olha, tenho visto os teus pais que estão aqui muito contentes, o teu pai muito conversador, tenho-me divertido muito na sua companhia. E também com a tua mãe, mas ela gosta mais é de dançar e de pintar, não imaginas a quantidade de anjos e outros companheiros, aqui esperando que ela faça retratos deles.
- Mas minha bisavó conta-me alguma coisa da tua família dos teus pais, nada sei deles, e do tio João, teu filho.
- Além do João e dos seus irmãos, tenho aqui sempre muitos parentes. O João, que depois te falará doutros nossos parentes, conta-me sempre que te sentava nos seus joelhos e que te contava anedotas brejeiras, lembras-te disso?
- Lembro-me sim, minha bisavó Josefa.
- Então diz-me lá uma!
- Aqui vai:
" Homem morto é um defunto
Prato rachado é um caco
Pé de porco é um presunto
E o ôlho do cu, um buraco"
E o meu tio-avô João Ramos apareceu nesse momento, enquanto a bisavó Josefa desaparecia.
27 de Junho de 2014
Hoje, Biblioteca de Portimão far-se-á o lançamento do meu segundo livro, "Pensamentos subtis..." . Será anunciado pela doutora Lourdes Neto a partir das dezoito horas.
Motivo pelo qual tive de interromper a minha viagem de arca de cânfora, pedindo desculpas à minha bisavó pela interrupção da nossa conversa.
Motivo pelo qual tive de interromper a minha viagem de arca de cânfora, pedindo desculpas à minha bisavó pela interrupção da nossa conversa.
quinta-feira, 26 de junho de 2014
Viagem de arca - 3
Avistei o meu Pai que não tardou em dizer-me:
- Desde aquele almoço em que com o fumo dos fritos vindos da cozinha, comecei a tossir, apareceu-me o sexto enfarto e saí de casa para estas paragens, ou seja, desde há setenta e um anos, no calendário da Terra - aqui não existe calendário, nem sequer existe o tempo - que eu não te via. Acabavas de chegar de Lisboa na manhã desse dia 16 de Junho de 1943, eu emocionado porque tinhas concluído com distinção os exames do sexto ano do liceu. E olha, a cadeira onde me sentei, tossindo e donde vim dessa para melhor, está em casa da minha neta Paloma, essa cadeira não a deixei roubar como roubadas foram as outras da nossa sala de jantar em Portimão. E a propósito essa minha neta Paloma é uma beleza e com que graciosidade ela dança, aliás sai à Rosa tua Mãe que continua a dançar cá onde está. E as outras netas que tenho, tuas filhas não ficam atrás, em beleza, da Paloma. E todas as que tenho - catorze se não me engano - são bonitas.
- Pai, conta-me alguma coisa da tua vida de oficial da marinha, alem das que eu conheço como a história da aposta que fizeste e ganhaste, de comer cinco dúzias de pasteis de nata. Doce que a tua neta Clarissa faz às centenas, já os provaste no Chile?
- Já e são tão bons como os que fazia a tua Mãe!
- Mas então onde estás também se tem paladar, Pai?
- Claro que sim, que ideia que os terráqueos têm deste lugar! Aqui, quem se portou bem ou mal na Terra ou noutro planeta, tem de tudo o que gosta.
- Pai, os que não se portaram bem aqui, vão para o inferno?
- Isso é uma treta inventada para atemorizar as pessoas, no futuro desaparecerão essas ideias de vingança do Criador. Os que mal se portaram na Terra vem para cá como eu vim. O criador ensina-nos quando aqui chegamos que quem se porta mal na Terra sempre assim sucedeu porque se portaram mal com eles, na educação, nos exemplos, nos vícios, pelos ambientes em que caíram, pela pobreza em que os lançaram e por muitas outras razões. Aliás como a igreja apregoa, Deus, na sua infinita bondade claro que não poderia tratar mal ninguém. A prova é que tenho encontrado aqui alguns que na Terra - e noutros planetas do universo, segundo me contam - eram uns malandrões, ladróes ou assassinos.
- Pai, continuas um grande conversador, essa fama que aqui deixaste. Mas conta-me pelo menos uma história da tua vida, que seja uma passada nas tuas viagens tripulando um barco de guerra.
- Está bem, está bem! Conto-te uma. Na minha primeira viagem como guarda marinha, num barco de guerra que se chamava Adamastor, o tal que Eça de Queiroz disse que tinha custado um fortuna e que metia três polegadas de água, nessa viagem que durou quarenta dias, tinham embarcado também alguns marinheiros que viajavam pelo mar pela primeira vez. Saimos de Lisboa para o Sul do Atlântico e no sétimo dia o comandante, combinando a anedota com os oficiais, anunciarem ao almoço, que dentro de trinta minutos, à uma hora, passaríamos pelo equador, antes da chegada a São Tomé. E, conforme tinha combinado com os oficiais de marinha, estes deveriam chamar todos os marinheiros, pedir silêncio um ou dois minutos antes da uma hora da tarde e nessa altura, deveriam aconselhar a que todos se deveriam agarrar bem às guardas do convés, porque no equador havia a perda total da gravidade, todos poderiam cair e ser arrastados para o mar, ali cheio de tubarões. E assim à uma hora, o comandante anunciou que o toque da sineta anunciaria a passagem pelo equador. E após o toque foi uma risota pegada ver uma data de marinheiros correrem para a amurada e agarrarem-se bem, alguns bem lívidos e nervosos segurando-se com as duas mãos. Até que a sineta tocou novamente anunciando o fim da passagem pelo equador e o fim do susto sofrido por aqueles novatos.
O meu Pai, com grande pesar meu, disse.me adeus e apontou-me para uma senhora atrás dele, parecia-me ser a minha bisavó Josefa.
- Desde aquele almoço em que com o fumo dos fritos vindos da cozinha, comecei a tossir, apareceu-me o sexto enfarto e saí de casa para estas paragens, ou seja, desde há setenta e um anos, no calendário da Terra - aqui não existe calendário, nem sequer existe o tempo - que eu não te via. Acabavas de chegar de Lisboa na manhã desse dia 16 de Junho de 1943, eu emocionado porque tinhas concluído com distinção os exames do sexto ano do liceu. E olha, a cadeira onde me sentei, tossindo e donde vim dessa para melhor, está em casa da minha neta Paloma, essa cadeira não a deixei roubar como roubadas foram as outras da nossa sala de jantar em Portimão. E a propósito essa minha neta Paloma é uma beleza e com que graciosidade ela dança, aliás sai à Rosa tua Mãe que continua a dançar cá onde está. E as outras netas que tenho, tuas filhas não ficam atrás, em beleza, da Paloma. E todas as que tenho - catorze se não me engano - são bonitas.
- Pai, conta-me alguma coisa da tua vida de oficial da marinha, alem das que eu conheço como a história da aposta que fizeste e ganhaste, de comer cinco dúzias de pasteis de nata. Doce que a tua neta Clarissa faz às centenas, já os provaste no Chile?
- Já e são tão bons como os que fazia a tua Mãe!
- Mas então onde estás também se tem paladar, Pai?
- Claro que sim, que ideia que os terráqueos têm deste lugar! Aqui, quem se portou bem ou mal na Terra ou noutro planeta, tem de tudo o que gosta.
- Pai, os que não se portaram bem aqui, vão para o inferno?
- Isso é uma treta inventada para atemorizar as pessoas, no futuro desaparecerão essas ideias de vingança do Criador. Os que mal se portaram na Terra vem para cá como eu vim. O criador ensina-nos quando aqui chegamos que quem se porta mal na Terra sempre assim sucedeu porque se portaram mal com eles, na educação, nos exemplos, nos vícios, pelos ambientes em que caíram, pela pobreza em que os lançaram e por muitas outras razões. Aliás como a igreja apregoa, Deus, na sua infinita bondade claro que não poderia tratar mal ninguém. A prova é que tenho encontrado aqui alguns que na Terra - e noutros planetas do universo, segundo me contam - eram uns malandrões, ladróes ou assassinos.
- Pai, continuas um grande conversador, essa fama que aqui deixaste. Mas conta-me pelo menos uma história da tua vida, que seja uma passada nas tuas viagens tripulando um barco de guerra.
- Está bem, está bem! Conto-te uma. Na minha primeira viagem como guarda marinha, num barco de guerra que se chamava Adamastor, o tal que Eça de Queiroz disse que tinha custado um fortuna e que metia três polegadas de água, nessa viagem que durou quarenta dias, tinham embarcado também alguns marinheiros que viajavam pelo mar pela primeira vez. Saimos de Lisboa para o Sul do Atlântico e no sétimo dia o comandante, combinando a anedota com os oficiais, anunciarem ao almoço, que dentro de trinta minutos, à uma hora, passaríamos pelo equador, antes da chegada a São Tomé. E, conforme tinha combinado com os oficiais de marinha, estes deveriam chamar todos os marinheiros, pedir silêncio um ou dois minutos antes da uma hora da tarde e nessa altura, deveriam aconselhar a que todos se deveriam agarrar bem às guardas do convés, porque no equador havia a perda total da gravidade, todos poderiam cair e ser arrastados para o mar, ali cheio de tubarões. E assim à uma hora, o comandante anunciou que o toque da sineta anunciaria a passagem pelo equador. E após o toque foi uma risota pegada ver uma data de marinheiros correrem para a amurada e agarrarem-se bem, alguns bem lívidos e nervosos segurando-se com as duas mãos. Até que a sineta tocou novamente anunciando o fim da passagem pelo equador e o fim do susto sofrido por aqueles novatos.
O meu Pai, com grande pesar meu, disse.me adeus e apontou-me para uma senhora atrás dele, parecia-me ser a minha bisavó Josefa.
quarta-feira, 25 de junho de 2014
À atenção dos jovens
Nenhum político das ideologias que são seguidas no nosso Portugal, fala da quebra da natalidade. No ritmo em que vamos daqui a quinze anos os nascimentos serão raros, os números da taxa de natalidade anual, alguns abaixo indicados, são assustadores. As razões são bem conhecidas embora pouco referidas e muito ocultadas.
Respigamos alguns números:
Nascimentos em Portugal
1960 - 213.895
2011 - 96.856
2012 - 89.835
2013 - menos de 80.000
Taxa bruta de natalidade em Portugal (número de nascimentos por 1.000 habitantes)
1960 - 24,1
1970 - 20,8
1980 - 16,2
2013 - 7,9
Taxa bruta de mortalidade em Portugal(número de mortes por 1000 habitantes)
1960 - 10,7
2006 - 9,7
2013 - 10,2
Uma das consequências tem sido o aumento progressivo e constante do número de idosos, com os reflexos que se conhecem na economia.
Que medidas deveriam ser tomadas de imediato?
- Combate ao desemprego pelo menos até ao nível médio da União Europeia. O que não é suficiente dado que na União Europeia em média nascem os nascimentos por casal são menos que dois.
- Incentivos à natalidade. Um abono de família suficiente ou o suporte das despesas com as crianças até aos dezoito anos desde que os pais demonstrassem falta de meios para o sustento dos filhos. Não será difícil encontrar os milhares de milhões de euros necessários desde que Portugal seja considerado pelos governantes acima dos interesses políticos.
- Definir um prazo para o aumento do salário mínimo até á média europeia.
Outros países estão conseguindo tudo isto. Porque não o podemos nós conseguir?
Não o estamos conseguindo porque os governos que temos tido não atacam os pontos essenciais da economia, por motivos políticos ou por outros escondidos atrás do biombo das conveniências.
Os jovens de Portugal, em particular os que podem influenciar a política, deveriam unir-se e aplicar a sua força para uma verdadeira, eficaz e duradoura mudança na reforma que todos os partidos apregoam como necessária mas que apenas vem surgindo às pinguinhas na acção dos governos.
Respigamos alguns números:
Nascimentos em Portugal
1960 - 213.895
2011 - 96.856
2012 - 89.835
2013 - menos de 80.000
Taxa bruta de natalidade em Portugal (número de nascimentos por 1.000 habitantes)
1960 - 24,1
1970 - 20,8
1980 - 16,2
2013 - 7,9
Taxa bruta de mortalidade em Portugal(número de mortes por 1000 habitantes)
1960 - 10,7
2006 - 9,7
2013 - 10,2
Uma das consequências tem sido o aumento progressivo e constante do número de idosos, com os reflexos que se conhecem na economia.
Que medidas deveriam ser tomadas de imediato?
- Combate ao desemprego pelo menos até ao nível médio da União Europeia. O que não é suficiente dado que na União Europeia em média nascem os nascimentos por casal são menos que dois.
- Incentivos à natalidade. Um abono de família suficiente ou o suporte das despesas com as crianças até aos dezoito anos desde que os pais demonstrassem falta de meios para o sustento dos filhos. Não será difícil encontrar os milhares de milhões de euros necessários desde que Portugal seja considerado pelos governantes acima dos interesses políticos.
- Definir um prazo para o aumento do salário mínimo até á média europeia.
Outros países estão conseguindo tudo isto. Porque não o podemos nós conseguir?
Não o estamos conseguindo porque os governos que temos tido não atacam os pontos essenciais da economia, por motivos políticos ou por outros escondidos atrás do biombo das conveniências.
Os jovens de Portugal, em particular os que podem influenciar a política, deveriam unir-se e aplicar a sua força para uma verdadeira, eficaz e duradoura mudança na reforma que todos os partidos apregoam como necessária mas que apenas vem surgindo às pinguinhas na acção dos governos.
Viagem de arca-2-
Continuando a viagem de arca, olhei para detrás da minha Mãe e vi a minha avó Carolina.
- Olá avó Carolina, não a via ´há uns oitenta e um anos. Eu sempre pensei que a avó não gostava quase nada de mim.
- Não Albertinho, eu não era de muitas falas com os netos, com as netas, a Maria Luisa e Maria Palmira eu falava mais, tinha mais carinho por elas que pelos netos. Era assim o costume das famílias daqueles tempos, os avôs gostavam mais dos netos que das netas.
- Mas avó, a minha Mãe por vezes discutia muito consigo, penso que deveriam ser uns certos ciúmes porque o meu avô Frederico a menina querida, era a minha Mãe, era por isso?
- Não era nada disso, eu gostava muito de todos.
- Avó, desculpa-me e desculpa-me também por ter ido roubar dinheiro ao teu mealheiro onde juntavas o que ganhavas ás tuas parceiras do "mahjong", para o dar aos pobres.
- Deixa lá, isso não teve importância, eu contei-o à tua Mãe, ela deu-te dois tabefes e o assunto ficou arrumado.
- Não ficou, não, avó. Quando apanhei os tabefes pensei que estava arrumado. Mas o pior esperava-o do meu Pai, que à noite entrou no meu quarto e, quando eu esperava uma sova, ele apenas me disse: "então agora temos um ladrão na família" e foi-se embora sem dizer mais nada nem me bater. O que me disse o meu Pai, avó foi pior que muitas bofetadas, nunca mais o esqueci até hoje.
- Pois fez ele muito bem, as bofetadas raramente resultam melhor que palavras adequadas. E adeus Albertinho. Certa vez e sem razão para tanto, o meu marido deu uma bofetada no filho, no teu tio Frederico, imaginas porquê? porque o teu tio, logo depois de se formar em medicina, com vinte e três anos, foi a Sevilha sem nos pedir autorização. Nunca mais o Frederico teve uma conversa com o pai, era só bom dia, boa noite. Teria sido muito melhor uma conversa calma com ele, como eu fiz. E adeus Albertinho, olha, a minha mâe, a tua bisavó Josefa também quer falar-te.
segunda-feira, 23 de junho de 2014
Sobre o desprezo
Nem sempre conhecemos bem o que desprezamos: uma caixa que parece não ter mais que lixo pode ter moedas de ouro no fundo, um pobre pode ser um sábio, uma bola de folhas mortas pode ter dentro uma rosa imaculada.
Começo da viagem de arca
Meninas, embarquemos!
- Clarissa, fecha a tampa da arca, às claras os espíritos pouco aparecem !
- Abuelo - disse a filha da Clarissa - que olor tan agradable, a cânfora, no?
- Sim Clarissita, é o cheiro da madeira duma árvore, o canforeiro, as tábuas de madeira dessas árvores exalam esse bom cheiro durante muitos anos. Duma parente próxima dessa árvore extrai-se a canela. Mas vejam, a viagem começa a animar-se, penso que vamos sair desta escuridão, parece-me que ´distingo uma figura e o seu espírito, o da tua bisavó Rosa de Lima, que assim se chamava porque a sua madrinha era uma das suas avós, a mãe do meu avò Frederico. Vejam com que sorriso bonito e bondoso se mostra a minha Mãe, como ela também sorri para vocês ! E está começando. devem ouvi-la como eu a oiço, a cantar uma ária de ópera, duma das muitas que ela cantava, tocando piano. E vejam, vejam: lá atrás está o meu Pai acompanhando-a ao piano, ele irá aparecer mais tarde, de certeza que vos quer conhecer melhor!
- Avó Rosa - perguntou a Clarissa - ainda pinta os seus malmequeres? - deve ter ouvido a resposta porque logo a seguir vi a minha Mãe pintando uma parede da sala de jantar na casa da Rocha.
- Bisavó Rosa - disse a Clarissita - me dijo mi madre que pintaba barcos, dibujaba caras de niños, tenemos en Catapilco um desenho suyo muy bonito, de una cara de niño...
A minha Mãe sorriu-nos, com aquele sorriso que envergava, sempre cheio de bondade, fixando muito o seu olhar em todos nós. Enviou-nos beijos, despedindo-se.
A arca de cãnfora parecia muito maior, não distinguíamos as paredes, o ambiente ficara perfumado com o perfume da minha Mâe.
- Clarissa, fecha a tampa da arca, às claras os espíritos pouco aparecem !
- Abuelo - disse a filha da Clarissa - que olor tan agradable, a cânfora, no?
- Sim Clarissita, é o cheiro da madeira duma árvore, o canforeiro, as tábuas de madeira dessas árvores exalam esse bom cheiro durante muitos anos. Duma parente próxima dessa árvore extrai-se a canela. Mas vejam, a viagem começa a animar-se, penso que vamos sair desta escuridão, parece-me que ´distingo uma figura e o seu espírito, o da tua bisavó Rosa de Lima, que assim se chamava porque a sua madrinha era uma das suas avós, a mãe do meu avò Frederico. Vejam com que sorriso bonito e bondoso se mostra a minha Mãe, como ela também sorri para vocês ! E está começando. devem ouvi-la como eu a oiço, a cantar uma ária de ópera, duma das muitas que ela cantava, tocando piano. E vejam, vejam: lá atrás está o meu Pai acompanhando-a ao piano, ele irá aparecer mais tarde, de certeza que vos quer conhecer melhor!
- Avó Rosa - perguntou a Clarissa - ainda pinta os seus malmequeres? - deve ter ouvido a resposta porque logo a seguir vi a minha Mãe pintando uma parede da sala de jantar na casa da Rocha.
- Bisavó Rosa - disse a Clarissita - me dijo mi madre que pintaba barcos, dibujaba caras de niños, tenemos en Catapilco um desenho suyo muy bonito, de una cara de niño...
A minha Mãe sorriu-nos, com aquele sorriso que envergava, sempre cheio de bondade, fixando muito o seu olhar em todos nós. Enviou-nos beijos, despedindo-se.
A arca de cãnfora parecia muito maior, não distinguíamos as paredes, o ambiente ficara perfumado com o perfume da minha Mâe.
domingo, 22 de junho de 2014
Gostaste? - Ou uma cena pouco lúbrica
Assim, assim!
1 Aanh, aanh, anh!
2 Sim, sim, siiim! Assim mesmo!
3 Umm, umm,umm1
4 Não pára, não pára!
5 Anh, aanh, aaanh!
6 Toma, toma, toma!
7 Que bom, que bom, que bom!
8 Mais, mais, mais !
9 Dou-te, dou-te, dou-te!
10 Há... Sim... Toma. ...
11 Há, há, há, aaaa, prooonto!
12 Momento de relaxação
E ela: - Gostaste?
E eu: - Não digo que não, seria mentira, nem digo que sim para não ficares toda ufana, nem te gabares e para que na próxima vez seja ainda melhor!
Não foi uma cena de amor, não! Passo a explicar cada ponto:
1 A empregada misturava os ingredientes para o "soufflé"
2 A cozinheiro continuava a operação
3 Parecia que a mistura estaria a ficar boa
4 E que ainda poderia melhorar mais
5 A massa começava a ficar grossa, a empregada esforçava-se
6 Eu juntava-lhe as gemas pouco a pouco, o trabalho corria bem
7 Meti o dedo na mistura e provei
8 Realmente haveria que continuar a mecher
9 Dê-me uma pitada de sal - disse a empregada
10 Deitei uma pitada de sal na massa
11 Já está boa a massa! - disse a empregada
12 Vinte minutos no forno a 200 graus, cortando uma fatia e provando
E ela, depois que eu mastiguei um pouco: - Então gosta ou não gosta?
E eu: - sim, é bom, não digo que não, espero que na próxima vez fique ainda melhor!
1 Aanh, aanh, anh!
2 Sim, sim, siiim! Assim mesmo!
3 Umm, umm,umm1
4 Não pára, não pára!
5 Anh, aanh, aaanh!
6 Toma, toma, toma!
7 Que bom, que bom, que bom!
8 Mais, mais, mais !
9 Dou-te, dou-te, dou-te!
10 Há... Sim... Toma. ...
11 Há, há, há, aaaa, prooonto!
12 Momento de relaxação
E ela: - Gostaste?
E eu: - Não digo que não, seria mentira, nem digo que sim para não ficares toda ufana, nem te gabares e para que na próxima vez seja ainda melhor!
Não foi uma cena de amor, não! Passo a explicar cada ponto:
1 A empregada misturava os ingredientes para o "soufflé"
2 A cozinheiro continuava a operação
3 Parecia que a mistura estaria a ficar boa
4 E que ainda poderia melhorar mais
5 A massa começava a ficar grossa, a empregada esforçava-se
6 Eu juntava-lhe as gemas pouco a pouco, o trabalho corria bem
7 Meti o dedo na mistura e provei
8 Realmente haveria que continuar a mecher
9 Dê-me uma pitada de sal - disse a empregada
10 Deitei uma pitada de sal na massa
11 Já está boa a massa! - disse a empregada
12 Vinte minutos no forno a 200 graus, cortando uma fatia e provando
E ela, depois que eu mastiguei um pouco: - Então gosta ou não gosta?
E eu: - sim, é bom, não digo que não, espero que na próxima vez fique ainda melhor!
sexta-feira, 20 de junho de 2014
Teste gratuito
De dentro da arca ouvi, no sonho de hoje, que poderia fazer um teste de viagem, gratuito. Aproveitei. Entrei na arca e quem me aparece no primeiro ponto que fixei? O meu Pai, que logo me disse, enquanto dávamos a volta de teste, pela Europa, que a bisneta Clarissa Mingo Valderrabano não tinha herdado dele o costume dos atrasos. E contou-me aquela história de um dia em Lisboa, (tinha de vir para Portimão e partia sempre de casa uma hora antes da hora da partida do Terreiro do Paço) um dia tomara o eléctrico, ao chegar à avenida da Liberdade o trânsito estava parado porque numa carruagem puxada por cavalos, tinha-se partido uma roda, a carruagem voltara-se sobre a linha dos eléctricos, atraso de meia hora. Ao chegar aos Restauradores, passava um desfile militar de homenagem aos mortos da grande guerra , o transito interrompido, atraso. Na rua do Ouro um eléctrico saíra dos carris, atraso. E tive de fazer o resto do percurso a pé até ao Terreiro do Paço, quando entrei no barco já iam retirar as pranchas de embarque. Mas enfim, ainda consegui não perder o barco para o Barreiro. Eis a lembrança que justificava a razão para partir de casa sempre uma hora antes da hora da partida.
Quando o meu Pai acabou de contar esta história, disse-me: olha, avisam-me que o teu teste par a viagem aqui na arca, terminou.
Quando o meu Pai acabou de contar esta história, disse-me: olha, avisam-me que o teu teste par a viagem aqui na arca, terminou.
Início da viagem na arca de sândalo
Eu e a filha Clarissa estamos prontos a embarcar, esperamos pela minha neta Clarissa Mingo Valderrabano que deve ter herdado o hábito da sua avó Rosa que chegava sempre atrasada à partida do comboio, mas nesse tempo os comboios eram muito mais civilizados, atrasavam-se sempre que a minha Mãe se atrasava, agora os mais modernos, até obrigam os viajantes a comparecerem antes da partida! A minha Mãe tinha razão e a prova é que ela nunca perdeu um comboio ainda que sempre chegasse depois da hora marcada. E eu, pontualíssimo que sou, já perdi um comboio porque ele partiu antes da hora marcada. Para compreender isto é necessário conhecer a fundo a teoria da relatividade, que eu conheço supercialmente. Parece uma grandessíssima mentira minha, não é mentira, a razão é que tinha-se esgotado a pilha do meu relógio. Nos relógios antigos dávamos-lhes corda todos os dias e portanto estavam sempre mais ou menos certos.
Estes relógios actuais, suissos, japoneses ou paquistaneses, baratíssimos, de quartzo, atrasam-se um segundo por ano, mas nós nunca sabemos quando se lhes acabam as pilhas e nesse dia em que elas acabam, zás, perdemos o comboio.
Estes relógios actuais, suissos, japoneses ou paquistaneses, baratíssimos, de quartzo, atrasam-se um segundo por ano, mas nós nunca sabemos quando se lhes acabam as pilhas e nesse dia em que elas acabam, zás, perdemos o comboio.
quinta-feira, 19 de junho de 2014
Tempo de mente activa
Passamos mais ou menos entre um terço e um quarto da nossa vida, dormindo. Ou seja, com a mente fechada, talvez o mesmo que sucedará de forma permanente, depois de morrermos. Isto não tem graça nenhuma, perdermos, se o nosso coração parar definitivamente ao fim de cento e vinte anos - o que será possível para as próximas gerações dos humanos, dados os avanços da ciência médica de conservação do nosso físico - perdermos quarenta anos de vida a dormir com a mente inactiva como que morta. Representa um grande desperdício de vida. Há um professor em Lisboa, catedrático na faculdade de direito e com outra ocupações intensas, que dorme, segundo diz e não temos razão para duvidar, apenas três horas por dia. É portanto um privilegiado que soube regular o seu cérebro, aproveitando dessa forma sete oitavos de vida por dia, muito mais do que os três quartos do dia em que eu por norma me mantenho acordado.
Sinto-me como que roubado porque se vivermos, eu e ele, cento e vinte anos, eu, na realidade só terei vivido acordado, com a mente desperta, noventa anos e ele cento e cinco.
Tenho que remediar isto.
Sinto-me como que roubado porque se vivermos, eu e ele, cento e vinte anos, eu, na realidade só terei vivido acordado, com a mente desperta, noventa anos e ele cento e cinco.
Tenho que remediar isto.
quarta-feira, 18 de junho de 2014
Os blogs vizinhos
Os blogs vizinhos do meu pertencem quase a cem por cento a gente preguiçosa, escrevem em média uma mensagem de duzentos em duzentos ou mais dias. Será que estarão todos a praticar uma sesta permanente? Há outras pessoas, como a Patrícia Reis que, apesar de se ocupar muito com os seus trabalhos, todos os dias, quase sem excepção , nos oferece no seu blog uma mensagem saborosa, agradável e por vezes bem educativa. Leiam as suas mensagens, agradecer-me-ão.
terça-feira, 17 de junho de 2014
A arca dos espíritos
Entrei naquela arca de cânfora da casa dos meus pais, na Praia da Rocha. A casa já foi substituida por um imenso caixote de apartamentos, mas o espírito da casa que o meu Pai lá construiu, nos anos vinte do século passado, ainda por lá está. E a aquela arca também. Era enorme, continua cada vez mais enorme, cabem lá dentro os espíritos duns meus mais de duzentos antepassados mais chegados e também me parece que estão também lá mais de duzentos dos espíritos dos teus antepassados, entra comigo na arca Clarissita Mingo Valderrabano, vamos conversar com alguns deles.
Expliquemos o que se passa lá dentro. Os espíritos não se atropelam, não se confundem, não se misturam uns com os outros formando uma amálgama difusa, nevoenta, poeirenta. Nada disso, a visão dentro da arca é perfeita, cada um de nós vê apenas um espírito ou uma espírita, num ponto que fixamos naquele espaço, se tentamos comunicar com ele ou ela, só ele ou ela responde ao que lhe perguntamos ou comenta o que referimos. Nunca são os espíritos que nos procuram, aparecem naquele ponto que escolhemos e fixamos. E com a Clarissa Mingo Valderrabano, que me acompanha nesta viagem pelo interior da arca, passa-se o mesmo.
Porque é que só hoje me lembrei deste passeio pela arca ? Tenho feito esta viagem muitas vezes, só agora me deu para descrever a última, porque agora vou acompanhado pela Clarissita, estou aguardando que ela chegue aqui perto da tampa da arca, o que me prometeu para amanhã ou depois.
Expliquemos o que se passa lá dentro. Os espíritos não se atropelam, não se confundem, não se misturam uns com os outros formando uma amálgama difusa, nevoenta, poeirenta. Nada disso, a visão dentro da arca é perfeita, cada um de nós vê apenas um espírito ou uma espírita, num ponto que fixamos naquele espaço, se tentamos comunicar com ele ou ela, só ele ou ela responde ao que lhe perguntamos ou comenta o que referimos. Nunca são os espíritos que nos procuram, aparecem naquele ponto que escolhemos e fixamos. E com a Clarissa Mingo Valderrabano, que me acompanha nesta viagem pelo interior da arca, passa-se o mesmo.
Porque é que só hoje me lembrei deste passeio pela arca ? Tenho feito esta viagem muitas vezes, só agora me deu para descrever a última, porque agora vou acompanhado pela Clarissita, estou aguardando que ela chegue aqui perto da tampa da arca, o que me prometeu para amanhã ou depois.
Ainda a entrevista com o papa
- Continuando a referir-se aos fundamentalismos, o papa ainda lembrou que nalguns países é proibido ensinar a Biblia e usar uma simples cruz pendurada ao pescoço.
- O entrevistador perguntou-lhe se andando de carro, sem protecção,no meio de multidões, como no Brasil, não sentia falta de segurança. O papa respondeu: "como posso saudar o povo dentro duma lata de sardinhas ainda que com paredes de vidro? Sejamos realistas, na minha idade não tenho muito a perder !"
- Referiu que a pobreza e a humildade estão no centro da mensagem evangélica. A pobreza está no centro do evangelho.
- Com humor a certo momento, falando dos protocolos, perguntou ao entrevistador : "sabe qual é a diferença entre terrorismo e protocolo? é que com o terrorismo se pode negociar..."
- Referindo-se á fome disse: "está provado que com a comida que sobra poder-se-ia matar a fome em todo o mundo. Não se compreende como vemos tantas crianças com fome, estamos num sistema económico mundial que não é bom e que no centro está o dinheiro. É um sistema económico que se baseia em acumular mais e mais, Cada dia se descartam mais os velhos e as crianças e isso vai conduzindo ao negativismo, Como se compreende o desemprego de vinte e cinco milhões de jovens na União Europeia? Assim o pensamento mau e a tendência má, é a riqueza. A globalização bem compreendida é como uma esfera em que todos os pontos da sua superfície estão a igual distância do centro da esfera, beneficiando todos do mesmo. E a globalização mal compreendida e adoptada é como um poliedro onde os pontos da sua superfície estão a distâncias diferentes do seu centro."
- Perguntado como gostaria de ser lembrado no futuro, respondeu: " como um bom tipo"
Esta entrevista deveria ser gravada e muito difundida.
- O entrevistador perguntou-lhe se andando de carro, sem protecção,no meio de multidões, como no Brasil, não sentia falta de segurança. O papa respondeu: "como posso saudar o povo dentro duma lata de sardinhas ainda que com paredes de vidro? Sejamos realistas, na minha idade não tenho muito a perder !"
- Referiu que a pobreza e a humildade estão no centro da mensagem evangélica. A pobreza está no centro do evangelho.
- Com humor a certo momento, falando dos protocolos, perguntou ao entrevistador : "sabe qual é a diferença entre terrorismo e protocolo? é que com o terrorismo se pode negociar..."
- Referindo-se á fome disse: "está provado que com a comida que sobra poder-se-ia matar a fome em todo o mundo. Não se compreende como vemos tantas crianças com fome, estamos num sistema económico mundial que não é bom e que no centro está o dinheiro. É um sistema económico que se baseia em acumular mais e mais, Cada dia se descartam mais os velhos e as crianças e isso vai conduzindo ao negativismo, Como se compreende o desemprego de vinte e cinco milhões de jovens na União Europeia? Assim o pensamento mau e a tendência má, é a riqueza. A globalização bem compreendida é como uma esfera em que todos os pontos da sua superfície estão a igual distância do centro da esfera, beneficiando todos do mesmo. E a globalização mal compreendida e adoptada é como um poliedro onde os pontos da sua superfície estão a distâncias diferentes do seu centro."
- Perguntado como gostaria de ser lembrado no futuro, respondeu: " como um bom tipo"
Esta entrevista deveria ser gravada e muito difundida.
segunda-feira, 16 de junho de 2014
A vidinha de todos nós
A vida nunca te engana. Nós é que muitas vezes enganamos a vida.
A vida nunca te despreza. Nós é que muitas vezes a desprezamos.
A vida tem os seus mistérios. Nós é que muitas vezes não os queremos aceitar.
A vida passa depressa. Para quem perde muitos dias.
A vida tem fim? Ninguém o sabe. A vida tem um princípio? Ninguém o conhece.
A explicação desse princípio e desse fim é muito diferente do que era há séculos, há milénios. Será de certeza muito diferente daqui a alguns séculos, daqui a milénios.
A vida nunca te despreza. Nós é que muitas vezes a desprezamos.
A vida tem os seus mistérios. Nós é que muitas vezes não os queremos aceitar.
A vida passa depressa. Para quem perde muitos dias.
A vida tem fim? Ninguém o sabe. A vida tem um princípio? Ninguém o conhece.
A explicação desse princípio e desse fim é muito diferente do que era há séculos, há milénios. Será de certeza muito diferente daqui a alguns séculos, daqui a milénios.
Dia de anos do João Valderrabano Quadros
Há cinquenta e nove anos, mais correctamente há 21550 dias e onze horas, o nosso filho João aterrou neste planeta, saíu a jacto do mar interior da sua mãe e numa aterrissagem prefeita deslizou pelo linóleo da sala de partos do hospital do Lubango(Angola) parando calmamente no fim da pista sem bater em qualquer obstáculo e só refilando quando a enfermeira lhe deu as pancadinhas da praxe para o pòr a respirar. Observado com cuidados carinhosos e intensivos, verificaram os presentes que nada tinha sofrido na viagem desde o mar interior da sua mãe até à claridade daquele dezasseis de Junho de 1955, conservando em estado perfeito todas as peças construídas pela fabrica-mãe.
Ainda hoje o referido habitante deste planeta se mantem em bom estado de conservação e cumprindo todos os deveres conjugais com eficiência modelar e bem demonstrada.
Ainda hoje o referido habitante deste planeta se mantem em bom estado de conservação e cumprindo todos os deveres conjugais com eficiência modelar e bem demonstrada.
domingo, 15 de junho de 2014
Mais sobre a entrevista do papa Francisco à RTP 1
Mais disse o papa Francisco na entrevista que ontem concedeu à radiotelevisão portuguesa, RTP1:
- Foi a primeira vez que um papa teve o gesto e a habilidade de reunir-se com os representantes das religiões judaica e da muçulmana da palestina.
- O papa afirmou que se defende muito bem das emoções.
- Referiu que, para ele, a violência, qualquer forma de violência, é uma contradição. Deu o exemplo do homem que se desculpou da violência contra a própria mãe, dizendo que só lhe bateu três vezes num dia. E ainda disse que na religião católica também houve casos de violência como ocorreu na guerra dos trinta anos na Europa.
- Respondendo a uma pergunta sobre os fundamentalismos disse que estrutura mental dos fundamentalistas baseia-se na violência em nome de Deus.
- Lembrou que ninguém se pode ser verdadeiramente cristão se não reconhecer a origem judaica do cristianismo.
- E que em geral o antissemitismo se alia mais às políticas de direita.
- Que os arquivos do Vaticano deverão abrir-se, ao serviço da história.
- Sobre o papa Pio XII disse que mediaticamente foi atacado até à exaustão, de forma muito injusta. No seu tempoEm Castel Gandolfo nasceram quarenta e cinco bébés na cama do papa. Que não se pode julgar acontecimentos ocorridos muito tempo atrás com hipermnesia desajustada.
- E apontou exemplos de acontecimentos há pouco ocorridos muito dignos de censura e nada referidos. Entre eles lembrou que os aliados conheciam perfeitamente as vias férreas por onde eram transportados os judeus para os campos de concentração, E não as bombardeavam.
- E ele, o que mais gosta é ir às raízes e ver a sua influência na realidade actual.
- Disse ainda que as perseguições de hoje contra os cristãos são piores que as dos primeiros séculos do cristianismo.
Amanhã direi mais sobre esta entrevista.
- Foi a primeira vez que um papa teve o gesto e a habilidade de reunir-se com os representantes das religiões judaica e da muçulmana da palestina.
- O papa afirmou que se defende muito bem das emoções.
- Referiu que, para ele, a violência, qualquer forma de violência, é uma contradição. Deu o exemplo do homem que se desculpou da violência contra a própria mãe, dizendo que só lhe bateu três vezes num dia. E ainda disse que na religião católica também houve casos de violência como ocorreu na guerra dos trinta anos na Europa.
- Respondendo a uma pergunta sobre os fundamentalismos disse que estrutura mental dos fundamentalistas baseia-se na violência em nome de Deus.
- Lembrou que ninguém se pode ser verdadeiramente cristão se não reconhecer a origem judaica do cristianismo.
- E que em geral o antissemitismo se alia mais às políticas de direita.
- Que os arquivos do Vaticano deverão abrir-se, ao serviço da história.
- Sobre o papa Pio XII disse que mediaticamente foi atacado até à exaustão, de forma muito injusta. No seu tempoEm Castel Gandolfo nasceram quarenta e cinco bébés na cama do papa. Que não se pode julgar acontecimentos ocorridos muito tempo atrás com hipermnesia desajustada.
- E apontou exemplos de acontecimentos há pouco ocorridos muito dignos de censura e nada referidos. Entre eles lembrou que os aliados conheciam perfeitamente as vias férreas por onde eram transportados os judeus para os campos de concentração, E não as bombardeavam.
- E ele, o que mais gosta é ir às raízes e ver a sua influência na realidade actual.
- Disse ainda que as perseguições de hoje contra os cristãos são piores que as dos primeiros séculos do cristianismo.
Amanhã direi mais sobre esta entrevista.
sábado, 14 de junho de 2014
Entrevista com o papa Francisco
Que bela, enorme e educativa entrevista deu o papa Francisco na noite de sexta para sábado !
Entre muitas respostas importantes, referiu-se ao dinheiro. À fidelização a este, que se observa em todos o mundo. E que a comida que sobra em todo o mundo chegaria para alimentar todos os pobres.
Vou tentar referir o que se disse mais de importante naquela entrvista.
Entre muitas respostas importantes, referiu-se ao dinheiro. À fidelização a este, que se observa em todos o mundo. E que a comida que sobra em todo o mundo chegaria para alimentar todos os pobres.
Vou tentar referir o que se disse mais de importante naquela entrvista.
Viagem de vento
Há quem faça viagens de carro, de comboio, de barco, Eu, de vez em quando faço viagens de vento. Hoje, passei para dentro do vento suave do noroeste e deixo-me levar sobre o mar que não me trai nem atrai, me faça cair. Chego a África, passo por Agadir, ainda com sinais do terramoto do século passado, admiro-me da leveza do meu corpo que o vento transporta como uma pena de pássaro, penso que seria assim que o superhomem se sentiria quando resolvia aproveitar os seus poderes em defesa da humanidade, mas o superhomem foi uma fantasia do cinema do século vinte ao passo que esta minha viagem dentro do vento não é fantasia de nenhum realizador de cinema deste século vinte e um. Este senhor vento que teve a amabilidade de me deixar penetrar dentro dele e não se importa que eu aqui continue viajando gratis, até agora ainda não se encontrou com nenhum dos seus primos tornados nem com nenhum dos seus outros parentes os senhores furacões, que podem ser masculinos ou femininos, conforme assim os intitulam os digníssimos meteorologistas. Mas agora, por cima de Marrocos esferográfica está quase sem tinta e só poderei continuar a reportar o resto desta viagem quando o senhor vento me abrir a porta, logo que chegue à serra de Monchique, que avisto ao longe.
quinta-feira, 12 de junho de 2014
Por vezes da´gosto dizer disparates
E logo a seguir surgiu o disparate, Numa redundância atroz de decisões e antes que Napoleão chegasse a Portugal, uns sujeitinhos reuniram o pecúlio espalhado debaixo do colchão fabricado com o suor de vários trabalhadores do vale do Tua ainda pouco conhecido pelos investidores alemães que ainda não se tinham bem nas canetas depois da valente sova dos austríacos eufóricos porque nesse ano tinha nascido Hitler, o do bigodinho imitador do do Charlot que entretanto se entretinha com a bengala roubada ao polícia de serviço nos Elísios, distraído porque estava a torre Eifel a inclinar-se, invejosa da torre de Pisa e do farol de Alexandria. Mas não, assim não, mais disparates não, enquanto o Napoleão dorme, não, a vidinha são dois dias, o primeiro já passou e não estamos aqui para suportar os destemperos, para não falar dos dislates da vizinha do quinto esquerdo que por acaso usa saias curtas quando sai à rua num desses invernos quentinhos da capital da Islândia, o tal país que venceu a crise quando a população baixou para uma família embora o instituto nacional de estatística de lá continue a afirmar que têm o maior índice de fertilidade do mundo, mundo cão que não para de insistir nos seus movimentos de translação a caminho do dia seguinte, fugindo ao Sol cada dia que passa, a esperança daquelas populações é que qualquer dia haja um dia que não passe, no diário da manhã de hoje deram essa e outra notícia, de que finalmente uma pulga pariu um elefante vaidoso mas triste porque ainda se lembra daquelas apressadas procissões com as formigas suas ditas primas e dos torneios olímpicos de saltos sem vara com as suas primas ditas pulgas, com três pares de ditas patas o que seria de mim, elefante, com três pares de ditas patas e esta tromba que o Bonaparte desprezou!
que santa Maria !
Maria pára o despertador!
Maria lá estás tu a usar a minha máquina de barbear para rapares as pernas!
Maria onde puseste o sabonete!
Maria traz-me o pequeno almoço!
Maria traz-me umas cuecas!
Maria agora não posso!
Maria não posso ir almoçar!
Maria afinal vou almoçar à uma, não te atrases!
Maria o bife está duro!
Maria dá-me o café!
Maria, adeus, agora não posso!
Maria estou estafado!
Maria a sopa está fria!
Maria eu quero é ver a bola!
Maria vou-me deitar!
Maria agora não posso!
Maria lá estás tu a usar a minha máquina de barbear para rapares as pernas!
Maria onde puseste o sabonete!
Maria traz-me o pequeno almoço!
Maria traz-me umas cuecas!
Maria agora não posso!
Maria não posso ir almoçar!
Maria afinal vou almoçar à uma, não te atrases!
Maria o bife está duro!
Maria dá-me o café!
Maria, adeus, agora não posso!
Maria estou estafado!
Maria a sopa está fria!
Maria eu quero é ver a bola!
Maria vou-me deitar!
Maria agora não posso!
quarta-feira, 11 de junho de 2014
Essas palavras
Donde vêm as palavras que te digo?
Onde se ocultam meus pensamentos?
Será porque eu não estou aí contigo?
Ausência que sinto em qualquer momento ?
Estás longe chegam-me as tuas palavras
Que me trazem de ti o sentimento
Que me perturbam e até me gravam
O meu sentido contentamento
Onde se ocultam meus pensamentos?
Será porque eu não estou aí contigo?
Ausência que sinto em qualquer momento ?
Estás longe chegam-me as tuas palavras
Que me trazem de ti o sentimento
Que me perturbam e até me gravam
O meu sentido contentamento
terça-feira, 10 de junho de 2014
Era a bica
Adoro, como se chama isso, isso quê Zé?, isso que costumamos dizer quando queremos dizer outra coisa, óh Zé diz a outra coisa não venhas com as tuas manias!, não são manias Alfredo é este hábito de complicar as frases com palavras que não sei ou não recordo, óh Zé se não a sabes não a digas vai ao dicionário quando chegares a casa, óh Alfredo fico chateado e mal pago se não encontro essa figura de retórica ou lá como se chama, Alfredo se é lá que se chama vamos lá e tocas à campainha, óh Zé vamos tomar uma bica,ah Alfredo então a palavra era a bica...
segunda-feira, 9 de junho de 2014
Os racionais
Hoje não consigo escrever, mas não tarde que comece a encher esta mensagem. Já Plutarco dizia o que eu não conto pelas suas palavras, que os romanos fundaram um país antes de Cristo, não se contentaram com um império, beberam mais vinho que os bêbados a que chamavam bárbaros quando eles crucificaram Cristo depois de Pilatos lavar as mãos, numa atitude que se repetiu e se repete após mais de dois mil anos, será que ninguém houve naquele império que pensasse na tremenda asneira, hoje, depois de mais de dois mil anos continuam a aparecer indivíduos insistindo em asneiras semelhantes, provável será não sejam mais que as linhas tortas com que Deus escreve direito nesta sua experiências no planeta Terra que ele encheu dois terços com água salgada e rasgou os rios com água doce para que os animais que aqui colocou, vivam em paz Mas atenção Deus não é vingativo, a vingança, ao contrário do que já se disse, nunca foi o prazer dos deuses e muito menos de Deus, isso foi um aforismo inventado para justificar actos ignóbeis. Os racionais assim chamados querem por força ser irracionais inventando o dinheiro, as guerras e os insaciáveis - desse dinheiro, da força irracional, das guerras. Isso sim, em geral por vingança ou ambição.
Quantos séculos terão de passar para que as mulheres e os homens se ocupem doutra forma?
Quantos séculos terão de passar para que as mulheres e os homens se ocupem doutra forma?
domingo, 8 de junho de 2014
Por dores ligeiras
"As dores ligeiras exprimem-se. As grandes dores são mudas". (de Séneca, senador romano).
Quanta gritaria por um acontecimento sem importância, que alarido por uma frase inócua dum parlamentar, que banzé por uma pisadela involuntária !
Séneca ensinou-nos muito.
Quanta gritaria por um acontecimento sem importância, que alarido por uma frase inócua dum parlamentar, que banzé por uma pisadela involuntária !
Séneca ensinou-nos muito.
sábado, 7 de junho de 2014
Julgo
Julgo que a vida me aceita como sou
Dou muitos passos que não necessito
Entro na escuridão quando me enganam
Os sinais ténues das minhas ilusões
Nunca me sinto ao lado de favores
De incompreensões, de maus olhados
Abro sempre as portas sem receios
De encontrar o meu passado traiçoeiro
Mas também julgo o que não encontro
As nuvens que desejo, os ócios perdidos
E afasto-me com indiferença dos biombos
Que separam os ódios, os desprezos, as sensaborias
Dos cretinos, mal aventurados, dos encarniçados
Analfabetos do amor, vaidosos de paixões
Ricos de vácuo, de prosápia, de intrujices
Sempre sedentos de praticar a dor
Sigo em frente, aceitando a luz
Caminho sem sentir a cruz
Que trago às costas, indelével
Mas que me regula todo os passos
Que me orienta o pensamento
Que me ilumina sem qualquer cansaço
Que me deu esta vida, esta mente
Que me impele sempre ao que faço
sexta-feira, 6 de junho de 2014
Entretenho-me no meu espírito
Fazem-me cócegas no espírito certas palavras
Fico sem saber se estes são os meandros da vida
Ou se simplesmente vegeto, como vejo por aqui e por ali
Se a vida me engana ou se eu a ela engano
Quero partir não sei para onde
Quero permanecer ainda não sei onde
Tenho uma mão cheia de saudade
Outra bem prenhe de curiosidades
Não me resigno nem me importa
Ficar esperando um imprevisto.
Uma palavra poderá trazer a solução
Tenho o dicionário com cinquenta e cinco mil
E muitas delas me transportam
A cinquenta mil desejos e insatisfações
Tentarei experimenta-las uma a uma
E saber o que gravam na minha alma
Quem sabe se é melhor partir que ficar
Quem sabe que a base da vida é essa
Quem sabe se aí não reside o seu sentido
Quem sabe se ficar não explica a morte
Quem sabe se partir é um desejo que nasce e perdura
Quem sabe se perdura com o desejo de vida
Quem sabe se ficar significa resignação
Quem sabe se significa mais alguma coisinha
Quero mais palpites, eles que venham
Mas não palpitações causadas pelos palpites
Todavia, aceito os convites das ilusões
Percorrendo os caminhos dourados da fantasia
Aprecio e deixo que me assaltem as tentações
Gosto de conhece-las, gosto de abandoná-las
Exploro o desconhecido com enlevo
E algum dia lerás os sinais da minha mão
Fico sem saber se estes são os meandros da vida
Ou se simplesmente vegeto, como vejo por aqui e por ali
Se a vida me engana ou se eu a ela engano
Quero partir não sei para onde
Quero permanecer ainda não sei onde
Tenho uma mão cheia de saudade
Outra bem prenhe de curiosidades
Não me resigno nem me importa
Ficar esperando um imprevisto.
Uma palavra poderá trazer a solução
Tenho o dicionário com cinquenta e cinco mil
E muitas delas me transportam
A cinquenta mil desejos e insatisfações
Tentarei experimenta-las uma a uma
E saber o que gravam na minha alma
Quem sabe se é melhor partir que ficar
Quem sabe que a base da vida é essa
Quem sabe se aí não reside o seu sentido
Quem sabe se ficar não explica a morte
Quem sabe se partir é um desejo que nasce e perdura
Quem sabe se perdura com o desejo de vida
Quem sabe se ficar significa resignação
Quem sabe se significa mais alguma coisinha
Quero mais palpites, eles que venham
Mas não palpitações causadas pelos palpites
Todavia, aceito os convites das ilusões
Percorrendo os caminhos dourados da fantasia
Aprecio e deixo que me assaltem as tentações
Gosto de conhece-las, gosto de abandoná-las
Exploro o desconhecido com enlevo
E algum dia lerás os sinais da minha mão
quinta-feira, 5 de junho de 2014
Antes invejar o talento que gabar-se de o ter
Não anseies pela sorte, alegra-te com a que a que tiveste
Lembra-te: o primeiro fabricante do dinheiro foi Satanás
A curva por vezes é o caminho mais recto
Deixa vibrar as cordas da tua guitarra
Não sejas mais alto que a tua altura
Procura o caminho construído com as tuas pedras
E que não precises de sinos para acordares
Não anseies pela sorte, alegra-te com a que a que tiveste
Lembra-te: o primeiro fabricante do dinheiro foi Satanás
A curva por vezes é o caminho mais recto
Deixa vibrar as cordas da tua guitarra
Não sejas mais alto que a tua altura
Procura o caminho construído com as tuas pedras
E que não precises de sinos para acordares
Vulpes pilum mutat...
"Vulpes pilum mutat, non mores" - a raposa muda de pelo mas não de costumes. Locução latina com a correspondente portuguesa "o que o berço dá a tumba o leva". E que muito se aplica e se aplicou entre as nossas gentes, nas relações familiares, nos usos e costumes, na política. Segundo os distintos especialistas da psicologia e da genética, não está provado que assim seja. Simples causalidades que a estatística não comprova, que a história não confirma, que os factos negam bastas vezes.
Não sei se algum tempo houve quem se dedicasse a analisar com honestidade, imparcialidade e sem omissões que a favoreçam ou desfavoreçam, a veracidade dessa locução. Mas na vida tenho constatado, em muitos domínios, essa relação entre o passado e o presente na personalidade de muitos indivíduos. No entanto não podemos generalizar, não existem, que eu saiba, inquéritos representativos dessa matéria. É provável que só atentemos aos casos em que se aplica essa locução, esquecendo o grande número em que não se verifica Sabemos que os genes transmitem caracteres físicos, tendências, fenótipos. Mas julgo que não está provado que transmitam facetas do caracter, hábitos, idiossincrasias.
Não sei se algum tempo houve quem se dedicasse a analisar com honestidade, imparcialidade e sem omissões que a favoreçam ou desfavoreçam, a veracidade dessa locução. Mas na vida tenho constatado, em muitos domínios, essa relação entre o passado e o presente na personalidade de muitos indivíduos. No entanto não podemos generalizar, não existem, que eu saiba, inquéritos representativos dessa matéria. É provável que só atentemos aos casos em que se aplica essa locução, esquecendo o grande número em que não se verifica Sabemos que os genes transmitem caracteres físicos, tendências, fenótipos. Mas julgo que não está provado que transmitam facetas do caracter, hábitos, idiossincrasias.
quarta-feira, 4 de junho de 2014
O disparate
Disparates. Palavra cómica. Esse meu amigo dizia, tendo visto a minha namorada: que não era nenhum disparate, gabando a sua cara bonita, a sua elegância e graciosidade. Mas aquela minha tia rezingona não cessava de invectivar-me : "ó menino, não diga disparates!" uma vez que eu contava o que vira um galo fazer em cima duma galinha. E eu, na pureza dos meus cinco anos - a raiva que sinto por não a ter conservado nem saber recupera-la - eu que escutava resignado o raspanço e não compreendia porque no dia anterior o meu tio avô João se ria quando eu contava o mesmo, ria-se sempre do absurdo, do grotesco ou do insõlito que o meu disparate poderia conter. Enquanto essa minha tia só admitia um significado para cada palavra.
terça-feira, 3 de junho de 2014
No presente
Estou escrevendo no futuro
Não encontro o meu passado
Só encontro um alto muro
De penas bem amassado
Isto sempre me acontece
Não há um raio que o parta
É coisa que me sucede
Que nada de mim aparta
E esse muro em que eu bato
De penas bem amassado
P'ra todos lados bem lato
Limita-me o meu passado
Deixa-me ficar aqui
Sempre entregue a este fado
E o belzebu que se ri
De me ver tão isolado
Não encontro o meu passado
Só encontro um alto muro
De penas bem amassado
Isto sempre me acontece
Não há um raio que o parta
É coisa que me sucede
Que nada de mim aparta
E esse muro em que eu bato
De penas bem amassado
P'ra todos lados bem lato
Limita-me o meu passado
Deixa-me ficar aqui
Sempre entregue a este fado
E o belzebu que se ri
De me ver tão isolado
Ab amicis...
"Ab amicis honesta petamus", aos amigos peçamos coisas honestas.
Não fica mal transcrever, de vez em quando, locuções latinas. Tal como essa, tantas outras de tantas línguas adaptam-se aos costumes, às políticas aos vícios e até às virtudes dos nossos companheiros que habitam o mesmo planeta que nós. Uma frase noutra língua, em particular na que é mãe da nossa, realça, desperta a atenção, provoca a razão mais do que a mesma frase induz , o mesmo dito, a mesma expressão se expressa na nossa língua. Quando a um amigo dizemos "não me peças isso que eu sou teu amigo", se antes respondemos com aquela locução latina provocamos, no nosso amigo, uma certa reticência, algum raciocínio e maior respeito pela amizade - se esta existe.
Mas o emprego de frases em latim, adaptadas às circunstâncias do momento, tem as suas limitações, sob pena de sermos considerados petulante, descarado, snobe. Tem o momento, o ambiente, a ocasião própria para serem proferidas. E, em muitos casos, deverá ser acompanhada por alguns corolários.
Não fica mal transcrever, de vez em quando, locuções latinas. Tal como essa, tantas outras de tantas línguas adaptam-se aos costumes, às políticas aos vícios e até às virtudes dos nossos companheiros que habitam o mesmo planeta que nós. Uma frase noutra língua, em particular na que é mãe da nossa, realça, desperta a atenção, provoca a razão mais do que a mesma frase induz , o mesmo dito, a mesma expressão se expressa na nossa língua. Quando a um amigo dizemos "não me peças isso que eu sou teu amigo", se antes respondemos com aquela locução latina provocamos, no nosso amigo, uma certa reticência, algum raciocínio e maior respeito pela amizade - se esta existe.
Mas o emprego de frases em latim, adaptadas às circunstâncias do momento, tem as suas limitações, sob pena de sermos considerados petulante, descarado, snobe. Tem o momento, o ambiente, a ocasião própria para serem proferidas. E, em muitos casos, deverá ser acompanhada por alguns corolários.
segunda-feira, 2 de junho de 2014
Não lhe chamo sorte - chamo-lhe vida
Nunca me queixo da sorte. Se por sorte se entende o que de bom ou favorável a vida, as circunstâncias, os acasos nos concedem, não posso nem devo queixar-me. Ando de boa saúde, escapei dum grande acidente, curei um enfarte, tenho um coração bem recuperado, segundo me dizem os especialistas para mais vinte anos, as artérias desentupidas, possuo uma mente activa que não cai no tédio, no marasmo do banco do jardim vivo bem com o que tenho, estou casado, bem feliz e bem acompanhado por minha esposa, tenho quatro filhos com provas dadas de amor, tenho uma casa que me abriga e defende com comodidade, ocupo todo o meu tempo com agrado, escrevo com regularidade - escrevi três livros os dois últimos em 2012 e 2014, a minha reforma, vai sendo suficiente para vivermos e disfrutarmos da nossa vida - que mais quero da chmada sorte, que mais pretendo desta vida?
E se um dia me sair o euromilhões, declaro que oferecerei metade a uma instituição de benemerência, ou fundarei uma fundação, sem vencimento para mim, com objectivo semelhante.
Não lhe chamo sorte, não sei bem o que é isso. Talvez que se chame vida.
E se um dia me sair o euromilhões, declaro que oferecerei metade a uma instituição de benemerência, ou fundarei uma fundação, sem vencimento para mim, com objectivo semelhante.
Não lhe chamo sorte, não sei bem o que é isso. Talvez que se chame vida.
domingo, 1 de junho de 2014
Não me vencem
Não me vencem as agruras do destino, nem as sinto, nem sequer me atingem. São apenas cócegas da penugem do tempo. Nem me vence a imensa estupidez humana, que parece aumentar desde o tempo de Jesus Cristo. Teria ele vindo à Terra para a `colocar em evidência num crescendo que culmine pelo despertar, neste ou num futuro século, que nos demonstre com naturalidade, que nos referencie com muito pormenor, que nos abra os olhos permitindo e conseguindo encarar a claridade e a sensatez ? Ou será necessário novo sacrifício do filho de Deus, se acaso não o temos diante dos olhos em muitas partes do mundo?
Oxalá que venha, para expulsar de vez os vendilhões do templo... (x)
(X) se não percebem do que se trata, perguntem,que eu informo.
Oxalá que venha, para expulsar de vez os vendilhões do templo... (x)
(X) se não percebem do que se trata, perguntem,que eu informo.
Subscrever:
Mensagens (Atom)