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segunda-feira, 28 de julho de 2014

Viagem na arca dos espíritos - 14 -

        Senti que a arca tremia e apressei-me a entrar. De imediato vi o meu irmão Afonso, se hoje fosse vivo teria a bonita idade de cento e quatro anos.
               - Alberto, fartei-me de esperar aqui por ti, já falaste com todos os nossos irmãos...
               - Faltavas tu, ainda ontem falei a um amigo que me refeririu as tuas caçadas em Moçambique !
               - Nem calculas quanto me arrependo das caçadas, aqui tenho cumprido o meu purgatório encontrando muitos dos animais que abati. Passamos aqui muitos dias rodeados de animais ferozes e não ferozes que aqui convivem connosco pacificamente. Nem imaginas o que é estar rodeado de rinocerontes, leoas, búfalos, elefantes, sei lá quantos mais, que nos tratam como amigos, todos cá vêm parar, todos têm o mesmo estatuto de paz e concórdia que os humanos! Ao princípio, pouco depois de cá chegar, quando me vi rodeado de tantos animais reconhecendo muitos dos que cacei, tive receio, mas de imediato, perante a placidez de todos, desde os crocodilos aos elefantes, logo me acalmei e compreendi. Aqui a paz é a regra e a concórdia, a lei. E ninguém entre os humanos e entre os animais sai desse caminho, que depressa para todos se torna um hábito salutar e agradável...
                 - Até porque ali decerto que não necessitavas de dinheiro que era o que te movia a caçar. Por isso, por essa necessidade, sempre gostaste das regiões com muitos animais e sempre escolheste  lugares onde exercias os teus cargos oficiais, nessas regiões muito afastadas da capital de Moçambique. E com a tua esposa Maria criaste nove filhos, que poderiam ter sido dez, se um não falecesse pouco depois de nascer . Mas diz-me tens falado com o nosso Pai e a tua mãe?
                 - Claro, vejo-os quase todos os dias. Mas olha tenho que te deixar, combinei com um nosso pentavô, um Castro, conversar daqui a pouco..
                 - Afonso, se calhar esse pentavô Castro é um que tem uma foto num museu em Mormugão, foto que vimos eu e a Mari quando lá fomos..
                 - É esse mesmo, adeus Alberto, um abraço para todos, também já tens uma descendência numerosa ! Adeus!
          E antes que eu me despedisse, a imagem do Afonso misturou-se com a neblina dentro da arca.   

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