Número total de visualizações de páginas

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Viagem na arca dos espíritos - 8 -

      Na arca surgiu-me o meu irmão Francisco. Magro e esguiu, como sempre o conheci. Passou tormentos e anos difíceis. Mas apareceu-me com outra cara, cheia de alegria, mas não a que sempre lhe conheci de indivíduo vendido e espezinhado pela vida.
               - Olá Alberto. o nosso Pai anunciou-me a tua viagem, pensei que estavas cá chegando definitivamente, mas vejo que não!
               - Felizmente não, embora saiba que aí não se passa nada mal, espero e gostarei de estar por cá na Terra por mais uns vinte ou trinta anos -  parece que outra aqui não teremos -, assim o vaticinou o médico cardiologista que me assiste. Claro que quem sabe do meu futuro é o nosso Criador, eu vou gozando muito estes anos que me restam aqui na Terra. Da minha vida não me queixo, ao contrário da tua por aqui, deves ter ficado satisfeito por te embarcarem definitivamente para essas paragens. Mas diz-me, é verdade que lá pela Guiné onde estiveste durante quarenta a cinquenta anos, é verdade que estiveste rico por duas vezes e por duas vezes perdeste as fortunas que tinhas amealhado em incêndios de fogo posto por teus empregados?
                 - Olha Alberto, não me lembro disso, aqui só recordamos os bons momentos que lá passámos, Nem as maldades que alguns aí cometeram aqui são conhecidas ou recordadas.
                 - Chico, falei algumas vezes com a tua ex-.companheira e com três dos teus filhos, a Fernanda, o Nuno e o João. Com o Nuno é que falo de vez em quando, ele ganha a vida com uns trabalhos de informática. Com os outros só falei uma vez. De ti a recordação mais antiga que tenho foi a de uma visita que nos fizeste na casa dos meus pais na Praia da Rocha teria eu os meus dez ou doze anos, lembras-te?  Até me deste uma lição sobre a forma de conservar os travões da biciclete.
                   - Ah, isso deve ter sido lá pelos anos trinta e tal, foi uma boa viagem esse que eu fiz! Tinha uns bons cobres nesse tempo. Mas nada que se compare com tudo o que aqui tenho.
.                       O Chico, olhou para trás, parecia que o chamavam, acenou-me com as mãos um adeus e diluiu-.se naquela neblina escura da arca.                          

Sem comentários:

Enviar um comentário