Tenho a convicção de que esta vida é um cartão de visita para a eternidade, que tudo o que vemos, porque vemos pouco no tudo que vemos, não é mais que um conjunto esfarrapafo de boas intenções coleccionadas no album dos tempos e que os funcionãrios do destino trabalham para que os seus chefes o folheiem de vez em quando para tomar decisões sobre os actores que puseram em cena nos planetas habitados. E nós, na Terra, actores pagos e premiados com a vida neste planeta, recebendo o prémio em setenta, por vezes em mais de cem anos, vamos imitando e representando neste grande teatro lançado no espaço num movimento de rotação à velocidade de uma volta por dia e à outra vclocidade de um volta rotineira à volta do sol de uma volta por ano. Velocidades, que por artes dos nossos chefes, não sentimos, pensamos que é natural não senti-las Podemos fazer greve,duma noite ,no sono, ou da vida , noa tentativa de suicídio. Coisas que acontecem no nosso destino sem democracia nenhuma, sem nos consultarem ou atenderem à nossa experiência, desprezando os nossos desejos, resolvendo tudo lá entre eles com esse desprezo sobranceiro duma ditadura, com indiferença inconsciente semelhante à da folha morta que cai do jacarandá no outono invernoso. Somos actores, somos títeres, semos peças inertes de mobiliário, somos átomos duma minúscula célula no corpo doutro ser que tem consciência de que não tem consciência de que existimos? Todo o infinito imaginário que existe dentro do que só pode ser visível ao microscópio electrónico, desconhecido tão desconhecido dentro do universo do conhecido porque ainda não existe o aparelho, a máquina, a ferramenta que permita encarar esse outra realidade infinita, para nós infinitamente pequena e descobrir os novos protões e electrões do seu universo.
Leem-se muitas histórias sobre regresso do futuro, idas ao passado e outras tretas que a publicidade dos passatempos nos vai impingindo. Todavia, ainda não apareceu quem relatasse uma viagem ao desconhecido fora do nosso conhecido ou o regresso dessas paragens. Que não será uma viagem ao futuro porque é uma viagem para dentro do presente, a tal história de abrir e cuscuvilhar o tempo presente, o segundo que decorre, que pode conter muitas horas de vivência, Segredo que deve estar ligado ao segredo da compressão, amalgamento do tempo, conseguir juntar o dia de ontem com o de hoje e o de amanhã. Aliás, fazemo-lo, embora sem consciência, sentimo-lo quando dizemos "como passa o tempo" "parece que os trinta anos passados foran ontem" e outras frases mais ou menos espirituosas.
Enfim, entremos resignados, no nosso pôrto, o passado segundo, foi inesquecível.
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